Saturday, December 24, 2005

Na Noite de Natal

Bate o sino / pequenino / sino de Belém / Já nasceu / Deus menino / para o nosso bem / Paz na terra / pede o sino / alegre a cantar / Abençoe / Deus menino / este nosso lar...

Hoje é dia 24 de Dezembro. Há quem afirme que é véspera, mas para mim, essa é a noite de Natal.
É a noite de saborear bacalhau espiritual, conversar sobre o ano que passou, ouvir músicas natalinas, e aguardar ansiosamente a hora do amigo oculto. Presentes, presentes e mais presentes. Sou católico. Mais do que nunca, Jesus nasceu nessa noite. Deus veio à Terra e fez as pazes com os homens. Que ninguém esqueça que se comemora por esse motivo...
Hoje vou falar um pouco do saudosismo. Saudade. Cantar “bate o sino” me dá uma saudade danada, me faz sentir falta de quando era criança.
Natal tinha um significado muito grande para mim. Era sempre hora de esperar o Papai Noel, que vinha trazendo AQUELE presente, geralmente caro, desejado o ano todo e que só ele poderia me dar. Coisas do bom velhinho.
Me lembro que, na noite do dia 23, dormia cantando “bate o sino”, e acordava na manhã seguinte ainda com a melodia na cabeça. E o tempo no dia 24 passa muito rápido. Algumas horas, e lá estávamos nós no carro, rumo à mais uma noite de Natal.
Era sempre uma expectativa grande, esperar pelo papai Noel e pela hora do amigo oculto. Os presentes eram a certeza de um ano muito, muito bom.
Engraçado. Nunca consegui encontrar Papai Noel pra agradecer por todos aqueles presentes...
Agora preciso ir, rumo a mais uma das inesquecíveis noites de Natal. Que a paz de São Nicolau esteja sempre com você, e te ilumine rumo a um ano novo e cheio de realizações.

Friday, December 23, 2005

O último exemplar

O tempo no Rio de Janeiro é uma coisa de louco, mesmo. Já teve época que se podia dizer: cidade de sol e mar o ano inteiro.
Que nada. Em 2005, as águas rolaram, choveu muito e houve dias muito frios. O tempo está completamente maluco, você não sabe se vai chover, ventar, ou fazer um calor de rachar. Um dia é de sol, outro nublado, outro de chuva. A cidade não era assim, não tinha essa inconstância toda.
Naquele dia o companheiro sol resolveu aparecer. Infelizmente, não posso trabalhar de bermuda, então optei pela velha calça jeans. Um calor de cinqüenta graus e eu de calça. É a vida, não é mesmo? É a vida no Rio, não é mesmo?
Passei pela banca de jornais e vi que ainda existia um último exemplar daquele jornal que não tem em qualquer banca: Folha de S. Paulo (é assim que escreve, não é?). Gosto dele, e fazia tempo que não lia. Então aproveitei, e comprei o último exemplar.
Seguindo meu caminho, cheguei ao ponto do ônibus. Tenho sorte, pego no ponto final. É sempre menos desagradável.
Subi, sentei e abri o jornal. Hum. Bom editorial, esse aqui. Os outros dois, pra variar, tem cara de que foram escritos por falta de assunto. Legal o painel de hoje, mais informações quentes sobre Brasília. Para variar, mais descobertas sobre o escândalo do mensalão.
Quando me animava para ler o resto, subiu um grupo de alunos e se sentou nos últimos bancos do ônibus. E o que turma de aluno faz em ônibus?
Música, my boy. Música. Começaram a cantar. Primeiro Latino, com o grande sucesso Festa no Apê. Da Bartolomeu Mitre, ali no Leblon, até a Lagoa, só deu Latino.
Depois emendaram funk, com direito até a Tati Quebra-Barraco. E em seguida, Mamonas Assassinas.
Enquanto isso, sigo lendo o último exemplar. Hum...o Lula disse ao Jacques Wagner que...

COMER TATU É BOOOOOM...QUE PENA QUE DÁ DOOOR NAS COSTA...

...não pretende disputar a reeleição, mas que quando for a hora, vai avisar que...

É POR ISSO QUE EU PREFIRO AS CABRITAAAAAA...AS CABRITAAAA...

A essa altura, já estou trincando os dentes. Mas vamos continuar. José Serra falando sobre Geraldo Alckmin. Serra disse que Alckimin...

TEM SEIOS...QUE ALIMENTAM OS SEUS DESCENDENTES...

Já estou profundamente irritado. O ônibus está atravessando o Jardim Botânico e não consigo ler o jornal, é impossível me concentrar. Mas juro que vou continuar tentando...

NO MUNDO ANIMAL...EXESTE MUITA PUTHARIA...

É, na política também, e no ônibus também. Será que grupos de alunos não acham nada mais legal pra fazer em ônibus, ao invés de ficar cantando?! Sigo tentando, firme e forte, ler a Folha, enquanto o ônibus manobra para o Humaitá.

E agora, o que vamos cantar?
Que tal aquela de pagode?
Boa!

NAQUELE DOMINGO LÁ NA PRAIA...E VOCÊ DE MINISSAIA...DANDO BOLA PARA UM ALEMÃO...ELE CARRO CONVERSÍVEL, E EU MEXENDO NOS FUSÍVEL...

Estou quase desistindo. Não. Essa música não...

SUBIU A SERRA, ME DEIXOU NO BOQUEIRÃO, ARROMBOU MEU CORAÇÃO, DEPOIS DESAPARECEU...

Não tinham algo menos...incômodo...para cantar, não?
Botafogo chega, e eles param de cantar. Não só param, como descem do ônibus. Ah, agora sim, meu jornalzinho. Finalmente. Vamos ver...Serra e Alckm...

BOA TARDE SENHORES. DESCULPE INTERROMPER O SILÊNCIO E A PAZ DA SUA VIAGE...

Só faltava essa, mesmo. Agora estamos na Praia de Botafogo, e me vem esse sujeito. Será que não vou conseguir ler o jornal?!

O CAMELÔ TRAZ AQUI TRÊS CANETA A UM REAL. AÍ FORA NO SHOPPING BOTAFOGO É DOIS REAL CADA CANETA. O CAMELÔ TÁ FAZENDO TRÊS CANETA, TRÊS CANETA, POR APENAS UMMMMMMMMMMM REAL.

Hum. Será que eu mando ele enfiar as canetas? Não, deixa pra lá. Daqui a pouco ele desce e eu consigo.

MUITO OBRIGADO E TENHAM UMA BOA VIAGE.

Ele desce, depois de agradecer ao motorista (valeu piloto!) Ah. De novo a paz, o silêncio. Então Dom Geraldo Majella criticou o Lu...

POF!

Alguma coisa bateu forte no meu braço. Um moleque, deve ter uns cinco anos. “Desculpa, tio!”
Sabem, não é pelo esbarrão. Mas é que interrompeu de novo a leitura do jornal. Mas agora ficou tudo bem, vou ler...
Olho para um lado, para outro, vejo se não tem alguém fazendo barulho. Tudo certo. Então abro a página e me sento confortavelmente. Hum...
O ônibus faz um movimento brusco, arrancando. E lá se vai o jornal para a frente, e minha cabeça também, e as letras se embaralham todas.
Guardo o jornal na mochila: o destino se aproxima. É, não deu pra ler jornal no ônibus, hoje.
Vai ver é porque era o último exemplar...

Wednesday, November 02, 2005

No fim do dia de finados

Uma homenagem a todos os mortos.
Uma homenagem muito especial a Rosali Botelho, que nos deixou no dia 23/10/1995.


Bem aventurados aqueles que passam pelo tempo em que vivem e destilam a Historia.”

Com essa frase eu começo um novo texto. O anterior ficou uma merda, se me desculpam o termo chulo. Era para ser uma homenagem ao dia de finados, e acabou virando uma coisa bem “querido diário”, um monte de lembranças e reminescências de uma carta.
Uma carta que foi escrita pela minha avó há 15 anos atrás, endereçada a todos os filhos e netos, que só li agora e que pareceu feita sob medida para o dia de hoje (ou ontem, se vocês forem exigentes).
Não sei como era o dia de finados antigamente, não sei quais eram as tradições e o clima, e como as pessoas encaravam.
Hoje, por exemplo, já passei pelas emoções mais diversas: raiva, tristeza, alegria, calma, saudade, medo, esperança. Não pensei nos mortos durante o dia, e aproveitei-o como se fosse um feriado; não olhei a chuva com tristeza, embora ela tenha me molhado todo. Não observei uma atmosfera pálida e triste na cidade. Mesmo porque, não andei por ela.
Sabe, não gosto desse dia dos mortos triste, não. Sendo muito sincero...
A gente sente falta de quem gosta - e quando a pessoa já partiu, essa falta é maior, mas é sempre. Não é para ser lembrada num dia só.
O dia de finados devia ser como no oriente, ou no México, com grandes festivais e comemorações. Meios de lembrar que a vida continua, que os sonhos, esperanças e desejos estão sempre vivos, independente de quem passe por aqui e de quem vá embora. Que a morte de alguém, por mais dolorosa que seja e por mais portas que feche, nos abre outras, nos faz ver a vida de outra forma, e muitas vezes, nos leva por caminhos que nunca pensamos em trilhar.

“Tantas coisas bem vividas e tantas lutas vencidas: de amores, de emoções, de sentimento.”

Minha avó ia gostar de ler esse texto. Ela partiu deixando uma mensagem de alegria e esperança, de olhar para a frente e para o futuro, de reunir as pessoas, celebrar o que há de bom e deixar a tristeza do lado de fora da porta de casa.
Que a morte seja encarada como algo natural, e que a gente se lembre sempre de celebrar a vida. Mesmo porque, se não lembrarmos disso vivos...vamos lembrar quando?
Um bom fim de dia de finados para todo mundo que não dormiu. E para quem dormiu...tomara que, independente de quem tenha partido (a morte existe de várias formas, certo?), você continue sempre a viver.

“E a vida continua: os desejos, os sonhos e esperanças. Eles estao vivos de uma outra forma de vê-los e senti-los.”

Saturday, October 29, 2005

O doce e o amargo

O álcool tem um sabor extremamente amargo. Arde, queima a garganta, faz o estômago pegar fogo, sobe um calor que faz a gente suar que nem um porco (porco sua, por acaso?). Ao mesmo tempo, pode ser extremamente doce e agradável – se estiver, preferencialmente, em combinação com o ambiente e as pessoas em volta.
Não, meus amigos, esse não é um texto sobre minhas experiências alcoólico-etílicas, tampouco sobre uma bebedeira, uma ressaca, ou uma conversa de bêbado, ou ainda alguma coisa do gênero.
É noite no Rio de Janeiro. Amendoim, cerveja, caipirinha, fogo paulista, caninha 51, hoje tem até coca-cola. A noite, mais uma vez, começa no bar.
Sobre o balcão, estão aqueles velhos copos sujos e empoeirados, fonte de tanta alegria e tantas desilusões. Meio de esquecer – momentaneamente – todos os problemas, de rir, cantar alto e abraçar uma pilastra em movimentos ritimados. Meio de sentir uma puta dor de cabeça no dia seguinte, meio de ficar todo dolorido e não saber (!) como nem por que.
Enfim, quando o bar acaba, a hora é de se levantar – a música e a noite são duas crianças, daquelas irrequietas puxando a manga da camisa do pai, insistindo freneticamente, uma de cada lado. Hora de fazer as vontades dessas duas criaturas mimadas.
Movimentos frenéticos e sem ritmo marcam o passo, seguido sempre por um som...que é mais animador quando é conhecido. O álcool hoje foi doce, leve, não deixou suas marcas fortes, não me fez cair nem me sentir mal. A música, essa criança chata e insistente que não me deixa indecisão, resolveu ser boazinha hoje. Boazinha demais. Estou começando a suspeitar até que está aprontando alguma coisa, junto com a irmã noite.
O cansaço toma conta do corpo, e passo a assistir movimentos frenéticos. Acontece que tem alguém do meu lado que não está – NADA – bem.
Por coincidência ou não, está mal, passando muito mal, revirando os olhos, falando mole. Diz que foi ao banheiro vomitar e voltou.
E lá vou eu, e lá vai todo o grupo. Estamos com ele, firme e forte. Nada de mau pode acontecer. Vai passar. Essa semana foi ruim pra mim, mas...não pode ficar pior, pode?
Pode. Ele vomita, mas o estado não melhora. Reclama, pede para ir para casa, está mal, piora. Agora não consegue nem andar direito. Sai carregado, falando mole e dizendo que está cansado e precisa dormir.
Haja guaraná...e ele vomita todo o guaraná de volta. É, não tem jeito: glicose na veia...literalmente.
O mundo passa rápido pelas janelas do táxi, enquanto palavras de encorajamento ecoam por todo o carro. Estamos tentando. Não durma. Se mantenha acordado. Calma. Estamos aqui. Fique tranqüilo. Tá chegando.
Enfim, o hospital. Lá dentro, ele é devidamente colocado numa cadeira, e espera pela glicose. Alguém me avisa que não posso ficar aqui dentro...
Se não posso, vou lá pra fora. Estou de pé, diante das escadas de um hospital, esperando a melhora do amigo, sem saber nem direito o que fazer, com uma semana que ainda não digeri.
Meus instintos jornalísticos mudam o foco da minha atenção. Lá fora, policiais se abraçam e comemoram.
“Matamo o Bem-Te-Vi!”
“O cara caiu! Tá mortinho!”
Festa, comemoração. Morreu o bandido mais procurado do Rio.
Lá dentro, meu amigo começa a berrar por água e glicose.
Aqui fora, os policiais comemoram.
Sentado na escada, estou eu, sem saber direito o que fazer, sem saber como nem porque.
Lá dentro, apenas o silêncio. Melhor dormindo do que gritando.
Aqui fora, kombis encostam, trazendo vítimas do tiroteio. Todas andam, pensam e conseguem falar, mas estão com balas cravadas no corpo.
Do lado de dentro, apenas o silêncio. O silêncio que pode trazer a paz...bom, deixa pra lá.
Chega mais uma Kombi, trazendo um morador – parece que sua mulher foi baleada. Ele desce, e fica na porta do hospital, contando o que houve.
“Os cara tava tudo no bar. Tudo beberrão, não tinha traficante. Aí veio os traficante e pularam no bar. Aí pronto, veio a polícia baixando chumbo em cima de todo mundo. Pulei pra trás do balcão e rezei ‘meu Deus, me proteja, me guarde a vida!’. Ainda pegou de raspão aqui na perna. Aí depois os cara foram embora. Saí e resolvi ir pra casa, mas falei: valão não. Eles desceram pela Rua 4 e estouraram o valão. Tavam em cima da lage; se fosse por ali, eu levava chumbo. Não deu outra: passaram dois pelo meio da lage e foi só chumbo em cima: pá, pá, pá. Foi caindo e tudo. Falei: ‘ah, minha mulher veio atrás de mim...puta, será que ela levou tiro?’. Não deu outra: cheguei em casa e tava ela lá. A gente compreende o trabalho. Mas isso é covardia, cara, covardia. Chegaram atirando, e a gente não tinha nada de bandido!”
Lá dentro, permanece o silêncio, quebrado por uma certa expectativa. Bem-Te-Vi virá para o hospital? Os médicos não sabem, ninguém sabe.
Um carro encosta do lado de fora: é o Marcelo Itagiba. O morador vem falar com ele. Ao mesmo tempo, o chefe da polícia conversa com um outro, para saber onde foi o Bem-te.
“Foi pra lá mesmo” diz o outro.
Itagiba se prepara para sair, mas é interrompido pelo morador, que conta sua história. Não é possível ouvir o que o Itagiba fala, apenas pesco a última frase: “Boa sorte para a sua senhora.”
E sai, pega o carro e vai embora.
O tempo fica calmo, silêncio aqui fora e lá dentro. Enfim, ele sai, com o braço erguido, a fisionomia cansada, a glicose nas veias, ainda tremendo bastante.
Lá fora, lá na rua, o silêncio, apenas o silêncio.

Sunday, October 23, 2005

Matem os sinais de trânsito

Nota do Autor: Não era esse texto que eu queria escrever. Tá meio cru, meio...sem o tom certo. Pode ser que haja mudanças depois.

Boa leitura e obrigado!!!

A segurança pública é um problema sério – e isso todo mundo sabe. Chega a ser óbvio, de tão óbvio.
Não podemos mais sair de casa tranqüilos, não sabemos se vamos estudar, trabalhar, nos divertir, ou o que seja, e voltar vivos. Não sabemos se vamos ser assaltados no ônibus, na rua, se vamos para a Lapa e não vamos morrer, ou se vamos abrir a porta de casa para a empregada e vai ter um assaltante escondido na lixeira, que vai pular (o assaltante, não a lixeira!) de arma em punho e pedir para levar a geladeira.
Também não sabemos se vamos parar o carro num sinal de trânsito e vai vir um assaltante bater com a arma no vidro da janela, pedindo para levar a bolsa, o anel, o sapato, ou quem sabe, o volante. Hoje em dia, é capaz dele levar até o pedal, se você não tiver nada de mais útil. (Leve tom de deboche).
Embora todo mundo saiba disso, insiste-se em arrumar soluções simples para um problema complexo, que envolve toda a estrutura de uma sociedade. Insiste-se em tapar o sol com a peneira, como foi esse referendo sobre a venda de armas.
Sem entrar em detalhes: sou a favor do desarmamento voluntário, e meu voto hoje não teve como idéia o ‘sim’ ou o ‘não’. Acho que a pergunta não é a que foi feita, e a resposta não é nem sim nem não. Enfim...
Eu falava das soluções simples. As armas de fogo matam demais? Então tire as armas. Dê uma canetada, arranque o instrumento das mãos da pessoa, e você vai resolver o problema. Pronto.
(Atenção: adicione um tom de ironia e deboche aos próximos dois parágrafos. Obrigado(a).)
Se for assim, acho que deviam acabar com os sinais de trânsito, também. Saiam por aí arrancando todos, um por um. Embora ajudem o trânsito a fluir, são uma espécie de “concessionária informal”. O assaltante fica quietinho, de arma na mão, esperando os carros pararem. Ele só tem o trabalho de olhar, escolher e levar. Embora, às vezes, eles prefiram ficar só com os brindes.
A culpa é dos sinais de trânsito, sim. Eles obrigam os carros a parar. É um absurdo. E ainda causam engarrafamentos!
Arranquem e matem todos os sinais de trânsito da cidade, e vamos resolver o problema dos assaltos a carros em sinais de trânsito.

Sunday, October 16, 2005

Jovem pensa sobre felicidade sentado num banco de praça


A amigos, ele confessaria mais tarde: "O encosto do banco é extremamente incômodo"

Se sentou no banco de praça. Sim, aquele era um banco de praça, naquele estilo clássico, formado por placas de madeira.
Que engraçado, era um banco de praça. O que diabos estava fazendo numa portaria?
A hora não importa, mas deviam ser oito e quinze da noite. Olhou lá para fora, e não viu sinal do carro. Sendo assim, voltou os olhos para o relógio, e confirmou: oito e dezesseis.
Definitivamente, não estava bem.
O que era a felicidade, afinal, hein?
Seria um estado superior, que você é capaz de alcançar e não “descer” nunca mais? Engraçado, quando era criança, pensava mais ou menos desse jeito. Talvez porque vivesse num estado muito parecido, mesmo sem se dar conta disso.
Será que a felicidade eram os momentos bons da vida? Será que a felicidade estava em ter amigos, dinheiro, uma família, uma casa pra morar, ser bem sucedido profissionalmente e viver apenas os bons momentos?
Será que a felicidade era não se preocupar com definições, e viver apenas? Ou o contrário, será que a felicidade era ter todas as respostas e saber, através da experiência, resolver todos os problemas?
Certa vez, lera uma reportagem sobre felicidade. Uma pesquisa afirmava que o dinheiro não traz felicidade; que os americanos são um dos povos mais tristes e depressivos do mundo, enquanto os nigerianos, mesmo com toda a pobreza, eram o povo mais feliz do planeta.
É, disso já sabia. Vivera bastante, e percebera que havia muito mais coisas além do dinheiro.
Mas afinal, o que faltava para ser feliz? O que era felicidade, afinal?
Olhou para o relógio de novo: oito e dezenove. Lá fora, o farol do carro bateu no vidro, iluminando o interior da portaria. Ele chegara, finalmente.
Tirou a chave do bolso, abriu a porta e saiu.
Deu um abraço no pai, enquanto esboçou um sorriso fraco. Era o melhor que podia fazer.
Conversaram durante alguns minutos.
“Leve isso aqui”, disse o pai. “Entregue à sua avó. Diga que é presente meu.”
Se despediram. Ele abriu a porta e entrou na portaria, de novo, passando pelo velho banco de praça.
Mas o que um banco de praça fazia na portaria, hein?
Ao entregar o presente à avó, uma mensagem escrita no vidro de perfume chamou sua atenção.

“Às vezes, sabe o que falta para nossos sonhos darem certo? Começar.”

Monday, October 10, 2005

A morte do sonhador

Baseado em loucuras da minha mente. Qualquer semelhança é mera coincidência, hein?

Eram jovens. Deviam ter o que? Aí uns 17, 18 anos.
Haviam se conhecido por intermédio de um amigo de ambos, um super amigo, daqueles que conhece todo mundo, fala com todo mundo.
Ele os havia apresentado, e dentro em pouco, estavam amigos. Freqüentavam as mesmas rodas de amigos, as mesmas festas, os mesmos bares, e dali a pouco, começaram a sair sozinhos.
Há quem diga que amizade homem-mulher não dá certo, é uma relação sempre complicada, em que uma das partes tem sempre intenções maiores sobre a outra. Não sei se assim é.
Fato é, ele começou a sentir alguma coisa que não previa. Gostava como amiga, sim, e tinha um respeito enorme. Só que muitas vezes perdia o controle, e pensava nela de outra forma.
E não sabia como era a recíproca. Ela era uma pessoa muito fechada nesse sentido, falava muito dos sentimentos mas nunca deixava nada transparecer.
Ele começou a ter certeza do que sentia, e a querer a companhia dela de outra forma. Ela parecia não estar nem aí. Assim a relação continuou, mesmo com essa diferença. Ele gostava como amiga também, e não estava tão preocupado.
Naquela tarde de Domingo, ela atendeu o telefone.
“Alô.”
“Oi!”
“Oi!”
“Tudo bom?”
“Tudo!!!!”
A voz do outro lado tinha um brilho diferente, tinha alguma coisa de novo.
“Tá feliz, hein?”
Ela deu uma risada.
“É” e riu de novo.
“Vamo sair? Tá passando aquele filme que você queria ver...”
Ela hesitou.
“Ahn...hoje não dá. Eu...eu...eu preciso estudar...e...bem, não posso. Fica pra próxima, tá?”
Desligaram. Ele estranhou; estava sentindo algo diferente na voz dela. A felicidade e uma hesitação...algo estranho. Claro que outras vezes já haviam deixado de sair, mas naquele dia, sentiu que ela não estava falando a verdade.
Alguns dias depois, se encontraram num bar, no meio de duas rodas de amigos.
“Oi!!!”
“Oi!!! Vem cá, quero que você conheça alguém...”
O coração dele gelou. Não, vai ver era só uma amiga.
“Esse aqui é o...meu namorado.”
Qual o nome que ela dissera, mesmo? André? José? Pedro? Felipe? Ficou sem reação, engasgou, engoliu em seco. Disfarçou, apertou a mão do cara, e voltou discretamente para a mesa.
Tinha certeza que os dois tinham percebido tudo. Estava escrito em sua testa, em seu olhar, naquele breve engasgo. Deixara que tudo fosse percebido. E agora?
Conseguiu manter muito bem as aparências, se superou, acabou surpreendendo a si mesmo. Três dias depois, estava numa boa, já não mais preocupado com o assunto.
Claro que não podiam sair do mesmo jeito. Se viam mais raramente, se falavam menos. Ele tinha certeza de que ela percebera tudo.
Ela não entendia nada. A única conclusão a que chegara parecia absurda demais. Mas então, porque ele sumira de repente? Preferia não pensar mais nisso. Vai ver ele não estava bem, também.
Um dia, ele estava em casa, lendo, quando o interfone tocou. Era ela. O coração disparou. Conhecia aquela voz, e sabia que algo não estava bem. Desceu.
“O que foi?”
Ela o abraçou, chorando.
“Ele...ele...”
“Acalme-se. Vamos, calma, me conte tudo. Calma. Senta aqui. Respira. Isso.”
Se sentaram no banco da portaria.
“Como pode...como ele pode fazer isso comigo...me trair...como?!”
Contou tudo. Pegara o cara com outra, quando fora encontrá-lo na faculdade. Os dois aos beijos, para todo mundo ver. Como o cara fora tão canalha?!
“Ele não te merece” disse ele. “Quem te trai desse jeito, não te merece. Como é que o cara tem coragem de fazer isso com você?”
“Já não é a primeira vez...devo ter algum problema...”
“Não tem nenhum”. A voz dele era calma e sincera. “Muito pelo contrário.”
“O que quer dizer?”
“Que você é a pessoa mais maravilhosa do mundo, a mais bonita, a mais foda, e que se até agora não deu certo, é porque faltava achar o cara.”
“Faltava?”
Ele avançou os lábios. Ela olhou-o meio de lado e se aproximou do rosto, a respiração forte, o coração batendo.
Os lábios roçaram...e os dois se entregaram aquele beijo. Forte, estranho, inesperado. Pela mente dele, passavam mil coisas. Não bebera. No entanto, dissera coisas que não falaria em seu estado normal, e tivera uma atitude da qual devia se orgulhar, e da qual sempre tivera medo.
Pela mente dela, também passavam mil coisas. E se ele saísse machucado? Pelo visto, gostava mesmo. Ficara constrangido naquele dia, no bar, como ela chegou a pensar. E agora?
Os dois deixaram os pensamentos de lado e foram afastando o rosto, devagar.
“Me liga.”
“Pode deixar.”
Ela saiu. Ele ficou ali, alguns minutos, sem saber direito o que fazer.
No dia seguinte, ligou, mas ela não estava em casa. Nem no dia depois do seguinte. Tentou várias vezes, mas nunca a encontrava em casa.
Três dias depois, conseguiu falar com ela.
“Oi!”
“Venha até aqui.”
“Mas...”
“Venha. É importante. Não deixa de vir. Beijo.” E desligou.
Ele foi.
“Tenho uma coisa para te falar.”
O coração gelou.
“Sabia que isso podia acontecer, mas...”
“Fala logo!”
“Voltei com o cara.”
Ele sentiu um frio percorrer-lhe o corpo, e o chão sumir debaixo de seus pés. Então era assim que funcionava?
“Então é assim? O cara te trai na frente de todo mundo, quebra a tua confiança, dá uma de filho da puta, e aí aparece outro que gosta de você de verdade, que não tem medo de dizer isso. E você volta com o outro?”
“Eu...”
“Não fala mais nada, tá? Também não me liga mais. Também não vai mais lá em casa, quando ele te trair de novo, porque não vou atender o interfone.”
E saiu, pisando duro, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Se sentiu traído. Não era capaz de compreender aquilo. Como? Tanto tempo esperando, um sentimento tão puro, e ela preferia o cara que traía, o cara que não tinha respeito?
Chegou em casa, subiu até seu apartamento e deitou na cama, sem saber direito o que fazer. Então era assim? Os sonhos podiam ser pisados desse jeito, e traídos assim? Todo o tempo e todos os sonhos não valiam de nada?
Ela, sem saber, matara um sonhador.
Ele, sem saber, se tornara um, mais um entre muitos, e sinceramente, não sabia como ia ser.
Não sabia nem se ia ser.

Tuesday, October 04, 2005

O tempo está acabando

O tempo está acabando – é tempo de você sair, cair no mundo.
Já que o tempo está acabando, apague as luzes sobre cada garoto e cada garota.
O tempo está acabando, e esse é o último convite pra beber, então tome logo seu whisky ou sua cerveja.
Nunca esqueça que o tempo está acabando, e que por isso, você não precisa voltar para casa; mas também, não precisa ficar por aqui.
Eu sei quem eu quero que me leve para casa.
Eu sei.
Eu sei.
Eu sei.
Lembre sempre que o tempo está acabando – o tempo de você voltar para os lugares de onde virá.
Que fique claro que o tempo está acabando, e que este quarto não estará aberto até que seus irmãos e irmãs cheguem.
Então pegue sua jaqueta, e saia logo. Espero que você tenha achado um amigo.
O tempo está acabando – e todo começo nasce do fim de um outro começo...
Eu sei quem eu quero que me leve para casa.
Eu sei.
Eu sei.
Eu sei.
O tempo está acabando – o tempo de você voltar dos lugares de onde virá.
Eu sei quem eu quero que me leve para casa.
Eu sei.
Eu sei.
Eu sei.
O tempo está acabando – e todo começo nasce do fim de um outro começo...

Queria eu ter escrito esse texto. Ele é apenas a tradução (devidamente adaptada) da música Closing Time, do Semisonic. Deu vontade de ouvir?
Que bom. Alcancei meu objetivo.
Não deu? Então ao menos aproveite a mensagem...

Tuesday, September 27, 2005

A hora do cético

Pode ser que, no fundo, eu acredite e esteja querendo apenas expressar uma coisa de momento.
Ou não. Vai que não acredito mesmo.
Parei de sonhar. Não o sonho do desejo, da vontade, da garra; não, esse existe sempre, é firme.
Parei com as hiper-mega-super utopias, com o sonhar acordado, com o sonhar de passado...
Não acredito mais que o PT vai mudar o Brasil, não acredito mais que algum partido político possa mudar o Brasil sozinho – essa mudança passa por cada um – não acredito que a violência, a criminalidade, o tráfico e as mortes por armas de fogo vão diminuir assim, puf, do nada.
Não acredito que a faculdade seja um lugar perfeito, sem problemas; e nem que seja ruim, que não tenha aula.
Não acredito mais naquela coisa de achar a pessoa e viver um compromisso, um sentimento enorme. Não acredito que compromisso seja pré-requisito em alguma coisa, nem que seja tão necessário quanto pensei que fosse.
Não acredito que não possa conseguir as coisas. Não acredito que não vale a pena acreditar no sonho que se tem. Não acredito que nunca vou ser alguém. Não acredito que não haja vida após a morte. Não acredito no sonho de mudar o passado, de ficar pensando alternativas, de como as coisas foram, deveriam ou poderiam ter sido, de como eu poderia ter agido diferente, de como errei aqui e ali, e sonhar com aquilo que nunca aconteceu nem vai acontecer.
Não acredito mais em pistas e indícios em relação a pessoas – mesmo porque, essas pistas estão sempre sujeitas à “nefasta” ação da mente humana, e já me dei bastante mal por causa disso.
Não acredito mais que planejar e pensar demais as coisas as torne mais fáceis de viver e de compreender. Não mais acredito que falar tudo o que vem a mente é o melhor caminho, que jogar limpo 100% das vezes é o mais correto. Não é.
Não acredito mais que as coisas precisam ser certinhas, perfeitinhas, redondas demais. A vida não é televisão. As coisas são tortas, tronchas e aos trancos e barrancos, sim. Não acredito também que não possa mudá-las; mas não acredito mais que precise mudá-las.
Não acredito que falar tudo a todo mundo que entra no MSN e tem mais intimidade é certo.
Não acredito que fazer drama demais torne as coisas mais fáceis...nem que seja muito bom.
Não acredito e também prefiro não acreditar, porque vem tornando as coisas mais e mais difíceis.
É como já dizia alguém em seu blog (tá nos links, se você quiser procurar): parei de sonhar.

P.S.: Leia o texto aí de baixo. É novo, também...publiquei no mesmo dia desse aí de cima! :)

E o próximo trem...

Por um instante, pensei. E quando pensei, me perdi. Tudo tão certo, tão equilibrado, voltando a funcionar aos poucos, com aquela calma da qual nunca deveria ter saído.
E aí, penso. E quando penso, me perco.
Idéias que já não estavam mais na mente resolveram voltar, algo meio rápido, meio sem sentir. E lá estava eu, de novo, pensando, me perdendo.
A chuva que cai só deixa o dia mais cinza e mais nostálgico. Andar num dia assim, é pensar.
E quando penso, me perco.
Agora subindo a passarela, guarda-chuva em punho, tentando vencer logo os últimos metros e pegar o próximo trem. Quem sabe desse jeito eu me concentro em outras coisas e não penso.
E quando penso, me perco.
Tarde demais para concluir o que é óbvio. Cedo demais para achar que tudo passou. Tempo demais para achar que é aquilo que nunca foi. Chuva demais para conseguir andar tranqüilo. Proteção demais para umas gotinhas de água caindo do céu.
Demais, demais, demais. Ando pensando demais demais. E sempre que penso, me perco.
Já foi muito mais forte do que eu. Já escapou ao controle; hoje tudo é mais simples, mais fácil, mas ainda assim...é.
Estação. Aqui fica tudo mais difícil, as lembranças são mais fortes. Sempre que lembro, penso. E quando penso...
Lá está. Finalmente. Gotinhas de água da chuva, no chão da estação, em frente à escada, embaixo da lixeira. Hum. Muitas gotinhas de água. Estão quase formando uma poça. Ei, o que será que acontece com as poças de água da estação do metrô, hein? O que será delas daqui a algumas horas, ou dias (anda chovendo muito), quando a chuva parar? Será que vai vir alguém e escorregar, levando um daqueles tombos cinematográficos? Ou será que a pessoa encarregada da limpeza do metrô vai vir aqui e enxugar tudo, e a água vai parar num rodo? Ou ainda, será que vai vir um cachorro e lamber tudo?
Descendo a escada, constato: o próximo trem acaba de se tornar o último. Haja calma para esperar pelo próximo. Haja mesmo.
Um giro pela estação, já que não tenho nada para fazer, e não quero pensar. Vocês sabem o que acontece sempre que eu penso.
Lá do outro lado, está o muro da estação. Tem um bem na minha frente, do lado onde o próximo trem vai parar, mas eu quero olhar o outro lado.
Todo molhado na parte de cima...mas é engraçado, só na parte de cima. Mais embaixo, parece seco. Como se a água não escorresse, sei lá.
Me encosto a uma quina da parede da estação. Haja calma. E mais uma vez, começo a pensar de novo. Isso já tá ficando chato. Já deu.
Só que...quem disse que consigo controlar? Lá estou eu de novo, pensando.
E sempre que penso...
Olho para um ponto da estação, lá no fundo, no trilho desativado do meio. E lá adiante, está chegando o próximo trem, fazendo aquele barulho engraçado que o metrô faz quando tá chegando.
Esse é o próximo trem...e já tá mais do que na hora de embarcar.

Friday, September 23, 2005

Histórias de Colégio

O professor e o chaveiro

Uma manhã qualquer, segundo semestre do ano de 1998.
Lá estou eu, sentado numa carteira na primeira fila, na sala de aula, vestindo uniforme, com letras bem grandes estampadas na camiseta: COLÉGIO TERESIANO.
É uma das minhas aulas preferidas –Geografia. O assunto também ajuda: o professor está falando sobre cultura norte-americana, sua influência em outras culturas, e coisas assim.
O discurso dele é pseudo-inflamado:
“Porque a cultura norte-americana está presente em todos os lugares. O cinema é predominantemente norte-americano, e exatamente por esse motivo, eles não aceitam que em seu país sejam exibidos filmes legendados. Lá tudo é dublado, ao contrário daqui, onde damos preferência às legendas. É uma questão de cultura mesmo. Só um exemplo de como a cultura norte-americana está espalhada pelo mundo...”
Meus olhos, cansados de observar o rosto do professor, repousam sobre seu chaveiro prateado, que está pendurado para fora do bolso da calça.
Hum. Chaveiro prateado. Hã? O que é isso?
Estava gravado no chaveiro, em letras garrafais: PHANTOM OF THE OPERA.
Não pude deixar de rir. E sapequei a pergunta:
“Professor, que chaveiro é esse, hein?”
“Ahn...esse aqui?” disse, um pouco sem graça. “Ah...esse eu comprei em Miami, quando eu fui lá.”
É, professor. Foi um ótimo exemplo para ilustrar a aula...

Thursday, September 15, 2005

Rapidinha do 438

Rio de Janeiro, tarde, solzinho esquisito de inverno, céu ficando azul, ventinho fresco soprando.
O cenário é um, que na verdade são dois: um 438-rápido e a Praça Santos Dumont, na Gávea.
Estou chegando em casa, finalmente. Descansar. Depois de um dia de rádio, é hora de dar uma relaxada.
Estou sentado num dos primeiros bancos, o que justifica ouvir as conversas entre o motorista e o trocador.
De repente, desviando de um caminhão, o motorista diz assim:
“Esse caminhão aí veio de longe”.
O trocador olha meio espantado, como quem não entendeu.
“Ahn?”
O motorista: “É, veio de longe, sim.”
“Como você sabe?”
“Porque está aí desde ontem”.
“Desde ontem?”
“É. Está aí desde ontem, consertando. E se está aí desde ontem, é porque veio de longe”.

Tuesday, September 13, 2005

Ironicamente...água com açúcar.

São onze e dez da noite.
Tenho que fazer um trabalho para entregar amanhã de manhã. Acontece que estou irritado, cansado e chateado, ou seja, nem um pouco inspirado pra fazer um trabalho. Portanto, venho enrolando desde as quatro da tarde.
Agora resolvi tomar um copo de água com açúcar. Sei lá, ver se consigo me concentrar. Tá, não é isso. Mas eu resolvi, quando passava pela geladeira. Vai que acalma.
O velho ritual: pegar um copo, apoiar na pia, abrir a geladeira, pegar o açucarei...
CATAPLOFT!
O açucareiro escorregou da minha mão, a tampa rolou pela mesa de vidro e parte do conteúdo se espalhou.
É, hoje não é um dia muito bom, mesmo.
Fui limpar. Lembrei que se limpa açúcar com a esponja.
O velho ritual: pegar a esponja na pia, molhar a esponja, passar a esponja no açúcar...
Eca. O que é isso? Virou uma pasta de açúcar.
Er. Não era exatamente isso!
Bom, ironicamente ou não, água com açúcar.
Fui limpar a cagada. Só que, quando fui passar a esponja, a pasta escorreu pela mesa e se espalhou ainda mais.
É, hoje NÃO é um dia muito bom, mesmo.
Lá vou eu de novo. Pegar a esponja, limpar...
A pasta continuou mais rápida, escorreu para baixo da mesa e começou a pingar no chão.
Lá vou eu. Sem esponjas, agora. Vamos ver se com uma toalha de papel eu resolvo.
Hum. Mesa limpa, chão também. Missão cumprid...
Ah, não. E essa agora? A pasta de açúcar escorreu pela mesa de vidro e entrou...embaixo do vidro.
É, HOJE NÃO é um dia muito BOM, mesmo.
Limpei o que pude, mas ainda ficou lá. Deixei lá. Não consegui levantar o vidro pra limpar.
E do jeito que estou hoje, ia no mínimo espatifar o vidro.
Não desisti de beber: água no copo, açúcar. Um, dois, três goles. Estou melhor. Ao menos tudo isso me distraiu, e me inspirou pra escrever, dar uma relaxada, sei lá.
Ironicamente...água com açúcar.
Duas vezes.

Monday, September 12, 2005

Senhor Vento

Desligou o telefone.
Estava sem chão. Os olhos, cheios de lágrimas.
Ainda tonto, se ergueu da cadeira, e caminhando torto, seguiu até a janela.
Ficou olhando a vida lá fora.
Olhando é maneira de dizer: os olhos estavam lá fora, mas a mente não.
Levou a mão aos olhos, enxugando as lágrimas que teimavam em rolar pelo rosto, e começou a soluçar alto.
Recuou. Não queria que ninguém ouvisse. Não queria ter que dar maiores explicações. Passou o soluço para um tom mais baixo.
E o choro foi ficando mais forte, e mais intenso.
Depois de alguns minutos, começou a sentir-se sufocado, com calor. Ar. Precisava de ar.
Abriu a janela, se mantendo no mesmo lugar, os olhos ainda marejados.
Sentiu o vento soprar forte, passando pelo rosto e refrescando.
A única coisa que queria era que aquilo fosse um filme, um desses filmes bobos que passam na televisão de vez em quando. Onde as coisas são mais fáceis. Onde os personagens conseguem as coisas sem esforço e ganham aplausos sem querer. Aí não estaria sofrendo tanto. Nos filmes, sempre há três pessoas.
Tudo é tão mais fácil.
Senhor vento, senhor vento que sopra, leve as tristezas embora.
Começou a rir da própria frase. Soava ridículo, infantil.
O vento não ia responder, muito menos levar algo embora.
Mas pelo menos o riso aliviara o soluço e as lágrimas.
Será mesmo que o vento não leva nada embora?
Senhor vento, senhor vento. Porque é que tudo tem que ser tão difícil e tão sofrido, hein?
Riu de novo. Soava mesmo ridículo. Resolveu fechar a janela.
Foi então que percebeu.
Não era mestre em direção de ventos, mas notou que aquele era um sudoeste, o conhecido vento da mudança.
Sim, o vento da mudança sopra...sopra para quem estiver disposto a senti-lo.
Do outro lado da rua, uma criança brincava, enroscada em seu velocípede, sorrindo, enquanto um homem – provavelmente o pai – também ria, entusiasmado.
A alegria pode estar em coisas tão simples...
Não acreditava que o vento pudesse responder, nem que levasse realmente as coisas embora.
Sabia apenas que refrescava.

Saturday, September 10, 2005

Empórios & Depósitos

Cerveja. Caipirinha. Amendoim. Fogo Paulista.
A noite, mais uma vez, começa no bar.
Sobre o balcão de aço, os copos vão se acumulando, cheios de líquidos que, em excesso, provocam rodopios, tonturas, e fazem as pessoas falarem as maiores merdas do mundo. Que na verdade, são apenas os pensamentos guardados na memória, aqueles que o consciente são nunca deixava escapar. Acontece que esses líquidos têm o milagroso poder de “apagar” o consciente.
Depois de venenos de todos os tipos, é hora de ganhar amendoim de graça. Cortesia do dono do bar.
Terminado o serviço, vamos à luta.
Na entrada, pessoas estão penduradas do lado de fora, se acumulando, formando bolos de gente, bloqueando a passagem. Como mercadorias querendo ocupar um depósito lotado.
Dá licença. Deixa eu passar. Ou então um simples empurrão.
Uma escadinha, mais uns cinco “com licença”, e finalmente, estamos na “pista”.
Pista não: é um espacinho improvisado entre a mesa do DJ, as mesas dos clientes, a entrada do banheiro e a subida da escada para lugar nenhum (leva ao segundo andar, mas é fechado, e a porta parece não levar mesmo à nenhum lugar...coisa que só vendo pra entender).
Aqui, me posiciono entre as (poucas) pessoas, e elas estão se mexendo freneticamente, ao som de alguma música que não sei. O ritmo é bem claro: rock. Mas vai lá se saber qual a letra, e qual a próxima batida. Todos parecem saber, mesmo aquelas músicas desconhecidas, que você nunca ouviu antes. E todos se movem freneticamente, e bebem seus venenos, a maioria, aquele estranho líquido amarelo.
De repente, a “pista” se enche, e eu me vejo sem espaço. Chegam mais pessoas, de todos os gêneros e tipos, envenenadas ou não, e saem distribuindo cotoveladas, tapas involuntários, empurrões, “chega pra lá”, buscando espaço. Algumas estavam só querendo ir ao banheiro, mas teve muita gente que ficou, mesmo.
Não só o espaço; o ar também ficou estranho, ficou quente, sem vento. Agora estou suando, com calor. Há pessoas por todos os lados; ar, ar...sufoco...me roubaram o vento.
Não consigo nem sequer me balançar freneticamente: sempre que tento, esbarro no ser do meu lado, que está tão animado que distribui cotoveladas como se fossem beijos (não achei uma palavra mais agradável pra descrever), e que não está nem aí. Deve ter se envenenado bastante antes, ou algo assim. Fato é que ele não pára.
E o sufoco aumenta, e o calor também, e acabo ficando parado. E aí me vêm pensamentos à cabeça, de todos os tipos. Todas as aflições, tudo o que eu havia vomitado durante a semana e em especial no Sábado, tudo está de volta, girando na cabeça, brigando com as idéias novas, querendo seu espaço de novo. Não aceitam perder a guerra; durante anos, dominaram a mente, tiraram todo o proveito dela. Em uma semana, idéias novas chegaram e reclamaram seu espaço, expulsando as antigas. A guerra é inevitável, com vitórias dos dois lados, em que a confusão acaba prevalecendo.
Sem conseguir me concentrar na música e me mexer, a guerra mental começa, e ainda há idéias antigas que resolveram aproveitar o momento.
Mal, agora estou me sentindo mal, desconfortável demais. Então me destaco discretamente, e sigo para o bar.
Não, chega de venenos por hoje. Algo mais leve. Quem sabe aquele líquido preto gasoso e engordativo. É, talvez me faça bem.
Peço, pago, abro, coloco o canudinho. Um, dois, três goles. Estou melhor. Deixa a guerra mental pra lá.
Mais uns golinhos. É gasoso e venenoso também, mas é bem doce e refrescante. Hum. Idéias novas. Não precisa ser do jeito antigo de pensar, também. Que merda. Porque as coisas não podem ser novas, hein? Ah, que se dane a guerra mental...aliás, que se dane não, as idéias novas vão vencer. Demora, mas elas chegam lá. Tem a força e a experiência da juventude. As velhas podem ter a experiência, mas não agüentarão muito tempo. Ou então vai existir uma trégua.
Toca o celular; me destaquei tão discretamente que chamei a atenção.
Hora de voltar para a “pista”. Agora piorou: tem um chato que, além de dar cotovelada, ocupa todo o espaço, fica rebolando e se encostando no chão. Merda. Outros chegam, e o espaço fica ainda menor.
Acabou a noite, chega, hora de ir pra casa. Não foi hoje.
Tomara que algumas idéias velhas tenham ficado lá no empório. Me fariam um grande, enorme, imenso favor.

Sunday, September 04, 2005

Cena de Domingo

E aqui estou eu, parado à beira do caminho.
Literalmente.
Descrição: dia bom, sol, céu azul, vento fresco, praia à frente, uma multidão de pessoas caminhando.
Agora que estou escrevendo, deu preguiça de pensar que andei tanto. Bah, então não vou pensar, pronto.
Sentado à beira do caminho, massageando o pé, que está quase criando uma bolha.
E então ouço o cara dizendo:
“Olha a água, coca, coca light, skolzona...”
Me deu uma vontade de tomar uma coca light, pra refrescar o calor e dar uma relaxada, sair do clima e pensar menos...sei lá, bebendo eu me concentro em beber e não penso.
Mas pensei bem, e disse “não, não vou tomar coca agora, refrigerante faz mal...”
E então levantei, e segui em frente.
Lá na frente, parei e olhei pra trás.
Voltei.
Me vê uma coca light, por favor. Isso, toma os dez reais e me dá oito de troco.
E me sentei de novo à beira do caminho, sentindo o vento, e bebendo.

Saturday, September 03, 2005

Crônica do Telefone

Baseado numa música e numa história real (ou seria irreal?)

Colocou a mão no bolso; passando pelo celular e encostando no forro, encontrou finalmente a chave.
Puxou-a; encaixou-a na fechadura e girou. Uma volta e a porta se abriu. Empurrando-a, entrou em casa. Finalmente.
A noite havia sido longa.
Saíra sem espírito, sem ânimo, mas agora estava feliz. As coisas mudam rápido, pensou.
Passou pelo hall de entrada, pela sala e pelo corredor, e entrou no quarto.
Se sentando na cama, usou o pé esquerdo para tirar o sapato do outro pé, e vice-versa; depois desceu a mão até a altura do calcanhar-de-aquiles, e com um puxão, se viu livre da meia.
Respirou e suspirou fundo.
Levando a mão ao bolso, tateou até encontrar o papel rosa, e puxou-o para fora.
Abriu-o cuidadosamente e olhou-o: custou um pouco a acreditar.
Lá estava o número de telefone. Conseguira.
Não tinha sido fácil. Precisou de bastante tempo até conseguir; teve que conversar muito, e driblar um forte jogo duro. Mas, que importância tinha isso agora? Conseguira.
Fez a cama rapidamente, apagou a luz e foi dormir.

***
Dia seguinte, duas e meia da tarde, dia e hora ótimos pra ligar.
Quase pulando de alegria, agarrou o papel (que deixara embaixo do travesseiro, para não voar, ou quem sabe, ficar perdido por aí), e se dirigiu ao telefone.
Discou e esperou.
Ocupado: tu, tu, tu, tu...
Vai ver discou muito rápido. Apertou o botão de desligar o telefone, e depois discou de novo.
Tu, tu, tu, tu...
Mais uma vez.
Tu, tu, tu, tu...
Hum. Uma última, por via das dúvidas.
Tu, tu, tu, tu...
Resolveu dar um tempo, quem sabe, esperar. Deu azar, ligou na hora em que estava ocupado, deve ser isso.

***
Pegou o telefone já sem esperança, e agarrou o papel rosa, já muito amassado depois de três dias embaixo do travesseiro e perambulando pelos bolsos de calça. Não largara o número um só minuto.
Discou.
Tu, tu, tu, tu...
Discou de novo.
Tu, tu, tu, tu...
Tinha que desistir. Sabia disso. Mas não queria, não podia simplesmente desistir assim. De novo.
Tu, tu, tu, tu...
Arrasado, desligou o telefone e recolocou-o no gancho. Pegando o papel, foi se colocar diante da janela.
Será que aquele número fora inventado na hora? Mas se fosse assim, a fita ia falar que era número inexistente, não ia ficar dando ocupado.
Será que o telefone estava quebrado, e exatamente por isso, não tinha sido difícil driblar todo aquele jogo duro?
Bom, não podia estar ocupado há três dias, direto. Ao menos disso tinha certeza.
Olhou o papel de novo, com atenção...
Estranhou, a princípio. Depois ficou com raiva. E em seguida, caiu na gargalhada.
Não, não tinha driblado todo aquele jogo duro.
Se lembrou de que também tinha dado seu número de telefone. E que tinha sido num papel rosa.


Bein-bein/Ocupado pela décima vez/Bein-bein/Telefone não consigo falar/Bein-bein/Estou ouvindo há muito mais de um mês/Bein-bein/Já começa quando eu penso em discar/Eu já estou desconfiado/Que ela deu meu telefone pra mim...

Telefone - Wilson Simonal

Thursday, September 01, 2005

Um Dia de visita

Tudo começa na UERJ.
Andam dizendo por aí que estou misterioso demais, que estou ocultando informações e coisas assim.
E estou, mesmo. Aliás, estava, agora já não tem mais segredo.
Saí de fininho hoje de manhã, com uma furtividade adquirida em recente treinamento. Ninguém nem me notou.
Quer dizer, quase ninguém. Algumas pessoas me encontraram no ponto de ônibus, e tive que parcialmente revelar minha missão. Mas consegui escapar...e lá fui eu, de 464, rumo a um Dia de visita.

Duas e meia da tarde
Finalmente estou chegando à redação. O silêncio ouvido a princípio contrasta com a idéia original do ambiente: muito barulho, principalmente de telefones tocando, e de gente gesticulando, falando, trocando informações o tempo todo. Mesmo assim, continuo.
A princípio, a dúvida: não tem orientação, nem sei onde é que fica a repórter. Vou perguntando aqui e ali, até que um repórter baixinho e simpático (que vim a saber depois que é da editoria de polícia), diz, apontando: “é pra lá”.
Olho na direção indicada e vejo-a, finalmente. E lá vou eu, crachá preso ao pescoço, ansioso pelo que vai acontecer...

Duas e quarenta e cinco
Após alguns breves minutos de conversa, acabo de perceber que nada está garantido. E fico me perguntando o que estou fazendo ali.
Ela então começa a digitar a matéria no computador, já no espaço devido. E eu começo a me meter, dizendo “ih, como leitor, eu não entenderia aquilo ali”. “Olha, você esqueceu o f na palavra tal”. A relação de cumplicidade parece tão grande que ela me mostra uma matéria recente e diz “inventa uma legenda pra foto, pra não termos que repetir essa”.

Três horas da tarde
Depois dela me dizer que acertei na legenda (embora não vá ser a que vai pro jornal), continuo me perguntando o que estou fazendo ali. Estaria sendo submetido a algum teste para entrar em algum tipo de sociedade secreta? Ou seria simplesmente um dia pra conhecer a redação?

Quatro horas da tarde
A repórter me diz que precisa apurar uma matéria, e pede que eu me sente ao lado do editor. A ele, faço várias perguntas, sobre o funcionamento do jornal e coisas assim. A frase que choca:

“Não é mito que eu modifico a matéria do repórter. Meu papel é definir o que o leitor vai ler. Modifico, sim, e pronto. O máximo que o repórter pode pedir é para que a matéria não seja assinada, mas aí, é o próprio repórter que sai perdendo.”

Enquanto responde às perguntas, o editor começa a montar as pautas do dia. Ele pega enormes blocos de texto (as pré-pautas) e começa a enxugar as informações, deixando-as as mais resumidas possíveis. No caso de existirem mais de um bloco de texto, enxuga cada um separadamente, para depois reescrever todas as informações num bloco só.
Ao mesmo tempo em que monta as pautas, ele consulta repórteres, buscando novas informações e tirando dúvidas sobre os textos que está escrevendo. Tudo terminado, envia as pautas para os editores-chefe, e me manda voltar para a mesa da repórter.

Cinco e meia da tarde
Mais conversas com a repórter. Faço cara de cansado, e ela pergunta se quero um café.
Bebendo o café, conheço rapidamente o repórter baixinho (o mesmo de quando cheguei aqui), e descubro que ele é da editoria de polícia. Ele, a repórter e mais um outro (que não sei quem é) começam a falar sobre a Jeany Mary Corner (é, a cafetina do mensalão) e a conversa evolui rapidamente para a Rita Cadillac e as chacretes, passando pelos filmes pornôs (o baixinho diz que já viu filmes pornô com a Rita, que ela faz filmes desse naipe há muito tempo).
Terminado o café, volto para a mesa junto com a repórter.

Seis horas da tarde
Mais conversas. Pergunto à repórter se existem free lancers no jornal, mas ela diz que não. Então pergunto sobre voluntários, e afirmo que quero ser um. Ela diz que vai negociar com o editor, e depois me dá a resposta.
Em seguida, me convida pra ir lanchar.

Seis e quinze
Antes do lanche, passamos na sala da apuração, aquela onde tem rádios ligados na polícia, e onde os telefones tocam o tempo todo. É também onde a repórter resolve dar uma mãozinha pro apurador. Depois ela me apresenta o mesmo: é um repórter famosíssimo, da editoria de polícia, um dos melhores que existe. Ela me diz que aprendeu com ele. Ele então começa a me interrogar:

Qual seu nome?
Rafael.

Sobrenome?
Cavalcanti.

Filho de quem?
(Fiquei sem graça e não entendi bem a pergunta. A repórter respondeu por mim: de ninguém, não é filho de jornalista).

Ah...e o que é seu pai?
Era empresário.

Não é mais?
Não. Não deu certo.

Ele agora é aposentado?
Não. Está estudando para fazer concurso público.

(A repórter fala com ele, diz que eu também quero ser voluntário. A resposta quase me emociona...)

Vem. Se quiser, eu te ensino. Mas por favor, depois não passe na rua e não finja que não me conhece. Tem uns aí que eu ensinei tudo, e eles passam na rua e nem olham pra minha cara. Não essa aqui (aponta pra repórter), essa daqui continua a mesma, sem nariz em pé.

A repórter e eu saímos, afirmando que vamos lanchar. Ela diz que depois vou ficar lá um pouco, conversando com o famoso jornalista. Fato que acabaria não acontecendo...

Seis e vinte
Agora estamos eu, a repórter e uma colega dela de redação, sentados na mesinha, lanchando. A conversa flui, falando de faculdades e tal, e a colega afirma ser contra faculdade de jornalismo. Diz que é técnica, que um curso resolveria tudo. A repórter permanece calada.
Em dado momento, a repórter fala que quero ser voluntário, e a colega corta logo o barato:

“Não pode abrir esse precedente. Senão a gente aqui era mandado embora...”

A repórter então explica à colega que o processo seletivo acabou de acabar, e coisa e tal. Fim de lanche, e voltamos à redação.

Seis e meia
Agora a redação começa a ferver. Os telefones tocam o tempo todo; jornalistas colocam o fone no ombro e correm para terminar seus textos, apurações e o que mais for necessário. Todos pesquisam na Internet, procurando saber se não há nenhum fato novo, nada que ainda possa ser transformado em matéria.
Sento-me novamente ao lado do editor, que agora cuida da página e do espaço em que as notícias serão publicadas. Ele não pára quieto, indo e voltando, olhando a página, as matérias, consultando um e outro. Num desses intervalos...

Quero me tornar voluntário...
(Risada) Ah não, isso não existe.
Existe sim.
Não, não existe.

Nesse instante, chega um repórter, que pelo que ouvi anteriormente, deve ser sub-editor, ou algo assim.

Olha só, quer ser voluntário.

Ih, não existe não. Você desvaloriza o trabalho do seu colega. Eu sempre digo aos meus alunos: não façam nada sem remuneração ou sem supervisão.

Além do que, se bater o fiscal do trabalho aqui, vai querer saber quem é você, e o que está fazendo aqui. Não, voluntário não existe em grandes empresas
(ou, ele disse “em grandes espaços” ou “é algo irreal”, ou “não temos pessoas trabalhando de graça em grandes empresas”, algo assim). Ainda é cedo pra você se preocupar com redação...

É claro que as informações são um choque: vão contra tudo em que eu sempre acreditei. Ainda bem que o choque é rápido, nada sério...

Sete horas da noite
Agora chega, preciso ir. O editor volta, num de seus intervalos, já me despachando (ou será que não?).

Agora vou ficar assim, Rafael, levantando toda hora...

Já vou.

Ah. Muito prazer. E não se preocupe. Ainda é cedo pra você se preocupar com redação...

Quando volto para me despedir da repórter, ela está conversando com uma colega, passando meu curriculum. Quem sabe.

Sete e quinze
Termina o Dia de visita.
Baixas? O comportamento “curto e grosso” do editor, e algumas idéias muito “dentro do sistema”.
Ganhos? A experiência de viver um Dia de redação.
Um dia estarei de volta – mesmo que não seja aqui. Já não tenho mais dúvidas: não há vida fora da redação. E dentro, será que existe?

The Flash

(para quem achava que a onda de inspiração terminou...digo que tá só começando!)

Não gosto de ondas nostálgicas.
Daquele negócio de achar que o passado é sempre melhor e mais bonito, de ficar lembrando da infância como a época áurea da vida, de ficar sonhando acordado, lembrando...lembrando...de que mesmo?
Lembrando das tardes na casa da vovó. De chegar do colégio, vestindo o uniforme e carregando a mochilinha, trazido pelo ônibus especial ou pela mãe.
De deitar no sofá da casa da vovó e comer todos os tipos de lanches que ela preparava, e tomar o mate quentinho da tarde, e ficar vendo televisão – primeiro os filmes japoneses primos do Jaspion, depois o programa da Gilse Campos (é, eu via, embora até hoje não entenda porque), depois as novelas e os desenhos animados...
Lembrando de ficar deitado todo torto no sofá, e a vovó dizendo “tira esse uniforme, menino!”. Ou então “sai daí, senta direito”. Ou quem sabe, o não menos famoso “você está vendo televisão muito de perto, hein? Vai estragar a vista!”.
Lembrando de ficar esperando a mãe chegar, pra poder ir pra casa, seja a do Leblon ou a que veio depois, em Vila Isabel.
Ir pra casa da Vila era mais divertido: ia no carro brincando com os bonecos (aqueles de super-herói), ou então falando sozinho, brincando de repórter, numa inocência que a mãe achava engraçado, e ria, ria, e não falava nada.
Ah, sem esquecer aqueles passeios do colégio...passeios incríveis, onde me esbaldei, embora hoje não consiga me lembrar direito. Teve tudo: bienal do livro (onde comprei o livro “Cebolinha e Floquinho”), jardim botânico, jardim zoológico, Fazenda Alegria (não gosto de lembrar dessa)...e toda aquela atmosfera com os amiguinhos, e aquela coisa de ir no ônibus festejando, e me achando o máximo, vestindo uniforme e mochilinha, carregando as coisas, rindo sozinho.
Não posso também deixar de citar a saída do colégio. Ah, que momento mágico! Sair do colégio depois de um dia inteiro de aula (é, eu achava muito. Mal sabia, né?). E aquela atmosfera da saída, e o pipoqueiro em frente ao portão, e os coleguinhas felizes também, e a atmosfera de ir pra casa beber o mate quentinho da vovó, e ouvir ela mandando eu tirar o uniforme.
Para terminar, a cena que marca: O The Flash – eu, correndo pela casa, com um raio desenhado e recortado em papel (extremamente mal-feito, porque eu nunca soube desenhar nem recortar), me sentindo o super-herói mais rápido do mundo. Na época era apaixonado por esse herói, essa criatura extremamente rápida, e sonhava que tinha todos esses poderes.
Não gosto dessa onda nostálgica – mas quando ela é prejudicial, quando a gente fica sonhando acordado e...e....e...bem, e não vive. Mas de vez em quando é bom lembrar, né?
“Rafael!!!! Venha beber o teu mate, menino, que tá esfriando!!!”

Monday, August 29, 2005

O dia D

Acordei naquele dia chuvoso...sentindo.
Estava me incomodando profundamente, me irritando, machucando, causando uma sensação ruim.
E eu sentia que não pararia de crescer, e se tornaria algo muito mais incômodo.
Tentei levar o dia adiante, não pensando naquilo – tentaria me distrair, ocupar o tempo, sair, fazer alguma outra coisa, para que nem me lembrasse que existia.
Realmente, me distraí – mas bastava parar um minuto e lá estava eu, sentindo de novo, aquilo, que vinha de dentro, incomodava, doía, machucava.
Mas não era para ser assim, não foi assim que eu imaginei. Pensei que fosse proporcionar uma sensação agradável, me deixar mais animado, nada melhor para melhorar o astral e a aparência, e levantar a auto-estima.
No entanto, não estava sendo assim. Continuava incomodando. E eu já não sabia mais o que fazer.
E agora? Será que dou um ponto final nisso? Ou deixo as coisas continuarem como estão? Mas se eu der um ponto final, posso me arrepender depois, porque sei que vou me arrepender. Então tá, vou dar um ponto final nisso.
Ai, caramba, não posso dar um ponto final assim, desse jeito. Mas eu preciso. Só que não quero...
E agora, o que fazer?
Diante do espelho, a dúvida cruel. Agora o momento é de irritação, por eu ficar parado no mesmo ponto e não resolver. Merda. Mil vezes merda. Mas nossa, não posso tomar uma decisão dessas assim. Só que eu preciso.
Mas não posso, as coisas não são simples assim. Ou será que são e eu complico? Ah, que coisa, já está me irritando...
Não agüento mais. Preciso tomar uma decisão. Agora. Não vou continuar parado no mesmo ponto.
Mas não consigo sair, não pode ser assim...
Vou resolver, agora chega.
Sigo até o banheiro e me coloco diante do espelho. Pego a lâmina gillete e seguro com firmeza. Vou cortar e acabar com tudo de uma só vez. Chega, não dá mais mesmo.
Hum...será que essa é a decisão certa? Não posso mais...não dá mais, não consigo. Chega. Tá na hora de cortar!
E num relance, eu levo a lâmina à pele e corto. CORTO!
Mas antes, que tal um pouco de espuma de barbear? Fica mais fácil.
Seguro a lata nas mãos, e na hora de apertar o botão, olho pra mim mesmo diante do espelho e começo a gargalhar, fazendo as risadas ecoarem pela casa. Agora estou achando engraçado.
Quanto drama pra saber se faz ou não a barba!

Saturday, August 27, 2005

A primeira a gente nunca esquece

Calma, gente...é só a primeira matéria que eu escrevi XD
Na verdade é a segunda. A primeira eu não salvei, não sei porque.
Essa é do tempo que eu era colaborador da Re-vista!, e achava que sabia escrever.


Em novembro de 1904 estoura, no Rio de Janeiro, mais uma revolução de caráter popular. A Revolta da Vacina está completando 100 anos e traz na sua história o nome de uma importante personalidade brasileira – Oswaldo Cruz.

A Revolta da Vacina foi um movimento ocorrido no início do século XX, como forma de reação à política sanitarista do então Diretor-Geral de Saúde Pública (cargo equivalente ao de Ministro da Saúde), o médico Oswaldo Cruz. O levante entrou para a história por ter sido um dos únicos, senão o único movimento popular contra as arbitrariedades do governo, e por ter tido apoio de diversos outros setores da sociedade.
“É preciso enxergar a Revolta da Vacina sob o contexto da Revolução Médico-Sanitária mundial” diz o Dr. José Augusto Messias, médico do Hospital Universitário Pedro Ernesto. “Todas as evoluções da medicina ao longo do século XVIII e XIX culminaram na revolução sanitária do século XX, e como bem se sabe, todas as mudanças passam por um processo de rejeição antes de serem incorporadas pela sociedade”.
O ano era 1903. O Rio de Janeiro era conhecido como “cidade maldita”, infestada por malária, varíola e febre amarela. Os cortiços ocupavam o centro da cidade, abrigando pessoas sob péssimas condições de vida e favorecendo o desenvolvimento de transmissores de doenças. Preocupado, o Prefeito Pereira Passos resolveu acabar com o estigma da cidade, organizando uma série de reformas urbanas. Dentro dessa política, Oswaldo Cruz foi chamado para assumir a Diretoria Geral de Saúde Pública, com o objetivo de melhorar as condições sanitárias do Rio de Janeiro.
Cruz tomou diversas medidas para melhorar a saúde pública: combateu os mosquitos que transmitiam malária e febre amarela, exterminou os ratos cujas pulgas causavam a peste bubônica, limpou as ruas e demoliu imóveis que serviam como criadouro de larvas de vetores. As medidas causaram riso – ninguém acreditava que iriam melhorar a saúde pública – e irritação, principalmente por parte da população pobre e dos donos de cortiços.
Em 1904, uma epidemia de varíola se abateu sobre a cidade, levando em torno de 1800 pessoas aos hospitais em apenas cinco meses. O Governo então enviou ao congresso um projeto que tornava obrigatória a vacinação antivariólica. O atestado de vacina era exigido para tudo: matrícula em escolas, emprego, viagem, casamento etc, e sofreu duras críticas da imprensa carioca. “A imprensa foi contrária a lei,chegando a afirmar que a vacina, ao invés de combater, provocava a doença. Ela não teve um entendimento da validade científica dessa medida, do alcance dessa medida. Eles (a imprensa) foram reacionários” diz Leovegildo Alfradique de Andrade, formado em história pela Universidade Federal de Campo Grande (Feuc).
A irritação com o Diretor-Geral atingiu seu ápice por volta de 10 de Novembro, quando a notícia da obrigatoriedade da vacina chegou aos jornais. Parlamentares, associações de trabalhadores, positivistas, oficiais do Exército, monarquistas e líderes operários criaram uma liga anti-vacina, que foi a responsável por organizar passeatas e comícios na cidade. Os protestos puseram a polícia e a população em choque.
Três dias depois, a Revolta começa de fato, com os manifestantes se levantando contra o governo, enfrentando a polícia a tiros e formando barricadas pela cidade. No dia 14 estouram pelo Rio diversos saques, incêndios e depredações. A revolta é acalmada nos dias seguintes, seguindo com alguns incidentes isolados até o dia 19. Seu saldo: 945 prisões, 461 deportados, 110 feridos e 30 mortos. A Revolta é “pacificada”, porém o governo não foi o vencedor, já que a vacinação obrigatória foi suspensa. O povo conseguira, porém, outro surto de varíola em 1908, o qual provou que Oswaldo Cruz estava certo.
Prestes a completar 100 anos no dia 10 de Novembro de 2004, a Revolta da Vacina figura na história do Brasil como um dos únicos movimentos de revolta popular bem sucedido. Manifestantes enfrentaram o governo, lutaram pelo que queriam e acabaram conseguindo. Pagaram pelas conseqüências, mas conseguiram. Prova de que, quando o brasileiro vai à luta, consegue tudo o que deseja, sem ter que esperar as coisas acontecerem.
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Leram? Ótimo. Agora vejam a matéria do post anterior, como ficaria hoje...er...mais ou menos, tá? Mesmo porque, fiz essa com pressa e sem compromisso. Um dia vou ler a reescrita e também vou achar uma merda. Mesmo porque, já vi que o fechamento ficou péssimo. Normal isso.


Em novembro de 1904 estoura, no Rio de Janeiro, mais uma revolução de caráter popular. A Revolta da Vacina está completando 101 anos e traz na sua história o nome de uma importante personalidade brasileira – Oswaldo Cruz.

Rio de Janeiro, Novembro de 1904. Com apoio do exército e dos jornais, Parlamentares, associações de trabalhadores, positivistas, oficiais do Exército, monarquistas e líderes operários criam uma liga anti-vacina, a fim de protestar contra a vacinação obrigatória instituída pelo então secretário de saúde do Rio de Janeiro, Oswaldo Cruz. Começava assim a Revolta da Vacina, o movimento popular que marcaria para sempre a história do Rio de Janeiro.
Oswaldo Cruz havia instituído a vacinação obrigatória após o surto de varíola ocorrido na cidade – surto esse que levou mais de 1800 pessoas aos hospitais em apenas cinco dias. No entanto, vários setores da sociedade não acreditaram na eficácia da vacina, e isso terminou por causar a revolta, que consistiu em várias passeatas onde a população e a polícia entraram em choque.

Vitória dos manifestantes

O saldo dos conflitos foi violento - 945 prisões, 461 deportados, 110 feridos e 30 mortos. Ainda assim, os manifestantes foram vitoriosos, conseguindo a suspensão da vacinação obrigatória. No entanto, um outro surto de varíola, em 1908, viria provar que Oswaldo Cruz estava certo.
A revolta se situa dentro do contexto da Revolução Médico Sanitária do início do século XX. “Todas as evoluções da medicina ao longo do século XVIII e XIX culminaram na revolução sanitária do século XX, e como bem se sabe, todas as mudanças passam por um processo de rejeição antes de serem incorporadas pela sociedade”, afirma o Dr. José Augusto Messias, médico do Hospital Universitário Pedro Ernesto.

101 anos depois

Sendo o único movimento de massas na história do Brasil, a revolta da vacina entrou para a história, não só pelo ato em si, mas por ter sido um movimento vitorioso, conseguindo cumprir seu objetivo inicial.

Thursday, August 25, 2005

Dia Chuvoso

Hoje é dia...ah...ih...esqueci, não sei, nem me lembro. Não uso mais relógio.
Estou voltando para casa, de ônibus. Também estou extremamente irritado com o trânsito, que parece caótico por todos os pontos da cidade.
Se vamos por Botafogo, está engarrafado; por Copacabana, é lento demais; se optamos pelo rápido Túnel Rebouças, descobrimos que também está lento; e finalmente, quando chegamos ao Jardim Botânico e à Lagoa, também está tudo parado.
Hum. Relógio digital: quatro e meia. Deixa eu ligar pro cara, ele deve estar esperando...
Ih, esqueci. O celular ficou carregando hoje.
Mas que merda de trânsito...e que merda, também, que tenho que ficar aqui sentado nesse ônibus.
Lá fora, o dia é cinza, com aquelas nuvens grossas de chuva e pessoas vestindo roupas quentes, portando seus belos (ou não) e funcionais guarda-chuvas. Um dia cinza de luz cinza, a luz do dia que não cessa nunca, nem quando o sol resolve ficar dormindo atrás do morro.
Mas que merda de trânsito. Cacete, é hoje que eu chego em casa!
Agora já devem ser umas cinco horas, e ainda no trânsito.
Cinco e quinze, pelo último relógio digital: desço e resolvo ir a pé mesmo. Não está tão longe assim...
Desço, já de guarda-chuva na mão; desço com ímpeto, saltando do ônibus em direção à calçada, abrindo o guarda-chuva quase ao mesmo tempo (só não foi ao mesmo tempo porque aqui não é Hollywood).
Começo a caminhar, atravessando uma rua, passando por uma ponte, sentindo o vento frio desse dia úmido (argh, que palavra horrível).
Mas algo me incomoda, e não sei o que é.
De repente, olho para a frente, ao invés do chão – e vejo um mundo todo cinza, de ruas molhadas pela chuva fina, folhas espalhadas pelo chão, carros percorrendo caminhos entre as poças de lama, pessoas andando encasacadas.
O mundo não mudou – é o mesmo do ônibus. Só que agora, eu estou nele, agora eu sou o cara que as pessoas presas no engarrafamento observam passar, livre, sem a obrigação de se manter parado.
Cara, o lado de dentro do mundo é bem mais bonito.
Fecho o guarda-chuva quase que imediatamente, jogando-o longe; era o último acessório que me impedia de ser livre (fora o ônibus, que não é meu). Um guarda-chuva novo, bom, todo preto, daqueles automáticos, que custam R$ 5 em qualquer camelô.
Ao mesmo tempo (ou quase, porque afinal, não é Hollywood), reduzo o passo, caminhando mais devagar, apreciando o mundo cinza – os prédios, as folhas, a chuva muito fina, o vento frio, as pessoas, a luz, o clima, o cheiro de...ah sei lá, não importa...só sei que é bom, e continuo...
E passo por entre mundos de folhas, sentindo a água pingar no rosto, me lembrando da primeira vez que eu vi a chuva – e olhei pra cima, pra saber de onde vinha a água e quem tava jogando.
Olho pra cima, repetindo o movimento, e murmurando palavras pra ninguém ouvir.
Minha casa fica logo ali.

I´m singing in the rain / Just singing in the rain / I´m happy again... / Cause I´m just dancing and singing in the rain...
Gene Kelly – Dançando na Chuva

Monday, August 22, 2005

Um texto sobre...coisa alguma?!

Eu não sei porque eu escrevo. Aliás, sei, inclusive já falei sobre isso: pathos.
Toda vez que outros fatores que envolvem essa coisa mística chamada “pathos” acontecem, eu penso logo em escrever...e venho pra cá...e aqui sai tudo. Não consigo escrever só pra mim, bem que eu queria, mas...eu gosto de dividir as coisas. Às vezes, inclusive, podia dividir menos, mas isso é assunto pra outro texto.
Eu também queria que os textos fossem menos claros e mais metafóricos, e deixassem meus sete leitores em dúvida sobre o que eu de fato estou falando. Mas também não consegui vencer o estilo sério, aquele que não consegue esconder nada, que por mais que tente disfarçar, sai falando tudo, para quem a mentira é algo que não deve realmente ser dito.
De fato, já estou até ficando cansado desse estilo. Eu devia ser claro e direto, devia deixar 100% de pathos, porque no fim, a beleza plástica parece apenas esconder o que o texto realmente significa.
Mas será que os oito leitores, o esquilo e o pitbull (eles dois também lêem, de vez em quando) iam ler e apreciar do mesmo jeito? Será que os textos iam mexer com a sensação deles do mesmo jeito?
Talvez sim, talvez não.
Mas, pensando bem, eu não devia mudar o estilo, esse jeito plástico de escrever...afinal, é a melhor coisa que eu sei fazer na vida – ah, sim, fora ser um cara dramático. Só que isso, no máximo, me garantiria uma vaga de contra-regra ou iluminador do teatro...para um dia chegar, quem sabe, alguém, e dizer que eu devia ser dramático na ilusão, e não na vida real. Ou que eu sou dramático, mas pouco na ilusão e muito na vida real...que enquanto não fizer o contrário, não dou para um bom teatrólogo (ui, isso realmente não).
Enquanto isso, escrever textos plásticos pode sofrer uma adaptação e gerar um bom pseudo-jornalista, e claro, sem contar que pode continuar divertindo vocês aqui no blog, fazendo várias sensações e idéias serem propagadas através dessa rede que é a internet...de textos sobre política à textos sobre meninas, pássaros, a vida, a espera, o cotidiano, ou sobre coisa alguma.
É por isso que, embora os textos não sejam tão metafóricos quanto deveriam, ou mais dramáticos do que deviam, ou menos plásticos do que são (beleza enche o saco de vez em quando, né?), eu pretendo continuar, firme e forte, vivendo cada fase e cada texto como se fosse o primeiro.

O contador de estrelas

(ou seria..."uma, duas, três, quatro..."?)

O poeta disse que sabia ouvir e entender estrelas. Disse também que só quem ama é capaz disso.
Eu nunca consegui ouvir – afinal, eu sou pseudo-escritor, não poeta.
Passava os dias esperando a noite chegar, e passava a noite inteira contando estrelas, admirando o brilho, imaginando como seriam...uma, duas, três, quatro...
Quando era pequeno, achava que eram pontos brilhantes no céu...e assim foi até fazer sete anos. Aí ganhei aqueles livrinhos de criança que mostram o universo como ele realmente é...
Não foi um choque, mas muitas coisas mudaram. Não queria nem mais ouvir falar; tinha até medo de olhar demais...agora que sabia que eram um universo enorme, com planetas e corpos celestes muito maiores do que aquele onde eu estava.
Mas aos poucos, o fascínio voltou, e lá estava eu de novo, deitado no chão, admirando aqueles pontos brilhantes, agora que podia compreendê-los melhor. Agora gostava mais: haviam ficado intensamente mais bonitos.
Contava as estrelas, sabia as constelações de cor, os nomes de cada estrela, sabia a posição no céu, a hora que apareciam, quanto tempo ficavam, e até mesmo a hora em que mudavam de posição, deixando o sol surgir, deixando mais um dia começar...
Era basicamente um êxtase ver as estrelas brilhando, sentir o brilho a cada minuto que passava, perceber ali uma força da natureza cuja sensação é incomparável.
Mas me ressentia sempre por não conseguir ouvi-las. Existia em mim a coisa do poeta, a necessidade de ouvir, de entender, de compreender...algo que ia muito além de ficar contando. Existia a necessidade...e eu continuava admirando...e continuava ali...e queria ouvir, mas continuava admirando...e continuava contando...um, dois, três, quatro...
E admirava o brilho, fascinado; admirava o comportamento delas, o ciclo de vida (do nascimento à supernova), achava a coisa mais bonita do universo (literalmente)...mas continuava admirando...e continuava contando...uma, duas, três, quatro...
Existiu um dia, apenas um dia, em que me pareceu conseguir finalmente ouvir.
Ouvi. Sim, eu ouvi...ouvi! Eu ouvi! Falou comigo!
E falava, e eu em êxtase...e continuava dizendo “eu ouvi!”, “eu ouvi!”, e saltava por aí, e saía fora de mim, e não voltaria tão cedo.
E nem me dei ao trabalho de entender o que dizia. Nem me dei ao trabalho de, além de ouvir, escutar...se é que me entendem. O importante era, como diz o poeta, ouvir e entender estrelas...e eu me preocupei apenas em ouvir. Ah, sim, sem contar os saltos enormes,a empolgação por algo...que deveria ter feito sempre.
Agora cá estou eu de volta, observando as estrelas de novo, fascinado pelo brilho e sonhando em um dia ver uma grande supernova, contando-as...uma, duas, três, quatro...
E me perguntando se conseguirei ouvi-las de novo...
Como dizia ele, só mesmo quem ama é capaz de ouvir e entender estrelas...e até aprender, é um looongo processo...
Ah, como brilham essas estrelas...uma, duas, três, quatro...

Sunday, August 21, 2005

As grades do metrô

O dia já havia nascido. O sol já ia alto no céu.
Céu azul de brigadeiro, com umas nuvenzinhas aqui e ali, e um vento fresco como esse que tá soprando agora, mas sempre em intervalos regulares, pra que se sinta a diferença no clima.
O chão é cimento cinza, já gasto pelo vai-e-vem de passos, pela ação do sol, do vento e da chuva.
À frente, se abre um espaço quadrado, que permite que muitas pessoas passem simultaneamente para o outro lado; quem sabe, evitar confusões em dia de jogo no Maracanã.
E lá estou eu, seguindo em direção ao portal...não pensando em nada. Chega de pensar, nessa vida.
E à frente, observo as grades que delimitam o caminho, que servem de apoio. Fundamentais quando se trata de uma passarela como essa, necessárias para conservação e bem-estar do lugar, e claro, evitar acidentes.
Lá estão três crianças, vestindo uniforme de escola, com suas mochilas nas costas, o cabelo penteado pelas mães, o rosto limpo do banho que tomaram há pouco. Podiam estar caminhando pela passarela, conversando, rindo de alguma coisa, pensando nas aulas do dia, ou melhor ainda, no que iam fazer depois do colégio.
Mas, nada disso, tsc-tsc. Estão jogando fora sua agressividade, chutando a grade do metrô, a grade da passarela que nada fez, que está ali por mera obrigação.
Repetem um ritual: chutam a grade algumas vezes, usando inclusive voadoras; depois que o objeto se soltou da armação de ferro, arrancam o que sobrou e deixam lá, destruído. E seguem assim, fazendo isso com as grades à frente, como se fosse algo normal.
Nenhum segurança para impedir. Ninguém para se importar: todos passam caminhando, deixando a cena como está, como se não tivessem visto nada. Devem estar atrasados.
Atrasado está este país, que deixa suas crianças de escola destruindo grades do metrô.
Atrasadas estão as pessoas, que precisam ganhar dinheiro para sobreviver e mal conseguem enxergar os pequenos delitos do dia-a-dia - o que os torna normais.
Atrasadas também estão as crianças, que já deviam ter passado da fase de destruir e deveriam estar começando a construir – primeiro os desenhos mais simples, e amanhã um país melhor.

Saturday, August 20, 2005

Instantigrafia

Instantigrafia

Sentado num banco, em algum lugar do lado de fora da construção cinza, observando o céu lá longe, as montanhas se perdendo no infinito, aquela visão poética da natureza, um pombo passando na frente, uma nuvem deslizando, um avião lá longe.
“Porque a vida me fez passar por todos esses problemas?”
Olha para baixo, observando a construção em arco, os bancos lá embaixo, o palco distante, e vendo as luzes e os sons daquele outro dia. E as coisas ecoam na memória, e o tempo parece voltar, e parece vir de novo...
“Porque será que tudo teve que acabar assim? Será meu destino eterno, que tudo o que for ‘primeiro’ tem que ir embora, e me deixar pensando sobre o que aconteceu, e me preparando pra próxima?”
Agora caminhando pelo amplo espaço.
“Cheio demais. Fique vazio...”
As pessoas somem, e também os carros; agora o espaço é livre para caminhadas, enquanto reflete. Nenhum obstáculo pode incomodar...nada pode estar no caminho...
“Ah, porque será que eu não consigo? O que será que falta? Mas porque falta, como falta, se falta, e de que jeito pode não faltar?”
Alguém aparece.
“Cale a boca e tente, ao invés de pensar.”
A irritação sobe, enquanto alguém some.
Alguém aparece.
“Me disseram que penso muito e não tento.”
“Bah, não deixam de estar certos...”
A irritação atinge um ápice, enquanto alguém some.
“Merda. Merda. O que vai ser de mim amanhã? Ah sei lá que se dane! Mas e se eu fiz errado? Porra, vai à merda, se fez já fez. Mas pode comprometer o futuro...sim e daí, foda-se, se comprometer já era, comprometeu...”
Deixou o prédio cinza e tudo mais pra trás.

Friday, August 19, 2005

Reflexo

Basta olhar pra ver.
Lá estão eles, brilhando ansiosamente, como nunca antes.
Já os vi tantas vezes, mas nunca...nunca parei assim...pra ficar admirando...e mais do que admirar, pra sentir...
Ah, que brilho é esse? Que brilho ansioso é esse? Que brilho é esse, que provoca frio, calor e me deixa sem...sem...sem chão?
Seria um reflexo da luz ou um reflexo da alma? Seria a luz que irradia de dentro, encontrando ali uma fresta por onde brilhar?
Seria uma mistura de todas as luzes?
Ou será que é a luz que irradia de mim?
Não sei, essa coisa de ficar pensando está começando a me irritar profundamente. Sabe, se eu pensar, vou perder esse brilho.
Prefiro continuar aqui, olhar fixo, só admirando...só sentindo...tem algo...ah, que coisa...que coisa...como eu...ah...a luz que irradia...como é gostoso ficar só sentindo...ah...tô com calor nas costas, mas foda-se, essa luz compensa tudo...esse brilho...agora estou me encostando para poder observar melhor...ah...eu não quero pensar em nada, eu quero só sentir...como foi que perdi tanto tempo...ah foda-se isso também...eu só queria ver esse brilho...e sentir tudo o que ele diz...está me dizendo pra continuar olhando...
Que olhar é esse?
Ah, não tenho que descobrir...
Só preciso continuar vendo.
Nenhuma compreensão me faria entender melhor esse olhar...esse brilho...
Simplesmente porque ele não inspira entendimento...
Inspira que continue olhando, vendo, e sentindo, como se fosse a última coisa que eu precisasse fazer.
É, e você sabe bem disso...

Quando a luz dos olhos meus/E a luz dos olhos teus / Resolvem se encontrar.../ Ai que bom quisso ai meu deus que frio que me dá o encontro desse olhar...
Música que eu não lembro o nome - Tom Jobim

Thursday, August 11, 2005

11 de Agosto de 2005

Dez horas que Abalaram a República

Acabou agora, dez e dez da noite, o depoimento do publicitário Duda Mendonça. Amanhã, ele estará nas capas de todos os jornais, e no final de semana, na capa de todas as revistas. O personagem que ergueu a república usando sofisticadas técnicas de marketing político e persuasão eleitoral acaba de dar um golpe nessa mesma república, um golpe digno de mestre, daqueles que pode-se até reclamar com o juiz, dizer que foi baixo, que não vale, mas cuja dor não cessa.
A participação de Duda na crise começou há mais ou menos uma semana, quando o publicitário e sua funcionária apareceram como sacadores das contas da empresa SMPB, do empresário mineiro Marcos Valério, acusado de ser o operador do “mensalão” – o esquema pelo qual o PT compraria o apoio de deputados da base aliada usando recursos de origem não identificada.
Quando sua funcionária Zilmar Fernandes foi chamada à CPI, Duda se apresentou junto, pediu para falar. As razões são claras: ele tem o próprio nome e o de sua empresa a zelar. É um dos, senão o maior, especialista em marketing político do Brasil. Não quer ver seu nome ser arrastado para o centro do furacão e jogado em seguida no mar de lama da crise política.
Foi por isso que se dispôs a falar, e foi por isso que optou pela verdade. Não sei se está falando 100% da verdade, mas assumiu o crime de ter recebido dinheiro ilegal no exterior. Embora isso não o isente e nem garanta nada, ele ao menos assumiu – ao contrário de outros depoentes.
Mas, voltando. Duda Mendonça explicou que foi contratado pelo PT para fazer a propaganda política de quatro candidatos – o presidente Lula, a (agora) ex-governadora Benedita da Silva, o senador Aloizio Mercadante e o ex-presidente do PT José Genoíno (que foi candidato ao governo do estado de São Paulo em 2002). Como pagamento de todas essas campanhas, ficou combinado um pacote eleitoral – um valor que girava em torno de R$ 25 milhões, se não me engano.
Por essa quantia, segundo Duda, o PT não teria nenhuma despesa eleitoral. Tudo o que viesse a ser produzido e gasto seria responsabilidade do publicitário.
Por aí, já parecem cair por terra as versões de Marcos Valério e Delúbio Soares para a origem dos empréstimos da SMPB ao governo, que segundo os dois, seriam para quitar dívidas eleitorais.
Ora, que dívidas, se Duda afirma que bancava tudo? Para que tanto dinheiro – para pagar o publicitário? Mas como, se os pagamentos não foram feitos a ele, e sim a parlamentares?
Continuando. O publicitário afirmou que, até o final de 2002, recebeu parte do pagamento da campanha através de cheques entregues pelo ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. A partir de 2003, no entanto, quem fez os pagamentos foi o empresário Marcos Valério, por indicação do próprio Delúbio, que afirmou que não poderia conceder nota fiscal aos pagamentos. Estes eram feitos numa agência do Banco Rural em São Paulo, através de malotes de dinheiro, e foram, segundo o publicitário e a sócia, R$ 900 mil, divididos em três parcelas de R$ 300 mil (não tenho muita certeza dos valores).
Em dado momento, Valério teria procurado Duda e dito “olha, tá difícil fazer os pagamentos por dentro, vamos ter que fazer lá fora. Abra uma conta nas Bahamas e você receberá o resto do seu dinheiro”.
Duda afirmou que, desde que foi negada a nota fiscal, sabia que o dinheiro era de caixa-dois. “Ou eu recebia assim, ou não recebia”.
Zilmar, por sua vez, disse que ficou constrangida com o pagamento em malotes de dinheiro, mas acabou recebendo.
Voltando. Duda disse que abriu a conta nas Bahamas, e que o dinheiro foi sendo assim depositado. São R$ 10 milhões, segundo o publicitário, que ainda estão lá. Ele afirma poder provar todas as transações, e colocou seus sigilos à disposição da CPI – inclusive o extrato dessa conta bancária nas Bahamas.

Conseqüências

Duda foi à CPI limpar seu nome, e acabou jogando mais coisas na lama. A começar pelo presidente Lula, que ficou extremamente...enrolado. Mesmo que Duda esteja mentindo em algum momento (por exemplo, no fato de que Valério o obrigou a abrir a conta nas Bahamas), o dinheiro recebido no exterior pode ser comprovado facilmente. Mesmo Valério, que depunha em outra CPI e comentou que “é tudo mentira” (como aliás, vem sendo hábito), não negou os repasses a Duda Mendonça, afirmando apenas que eram feitos em cheque.
Há algum impedimento de que esses cheques tenham sido de alguma conta do PT no exterior? Não. O próprio Valério não negou isso.
É aí que a crise dá mais um nó e avança um passo em direção ao presidente da república. Dinheiro de caixa-dois para pagar dívidas de campanha complicaria a situação de Lula, já que o presidente é responsável pelo dinheiro gasto para se eleger. Por outro lado, dinheiro no exterior complica a situação do PT, que poderia até a perder o status de partido.
É. Dez horas de depoimento abalaram mais uma vez a república. Lula tem que vir à público e falar, desabafar com a nação, ser sincero. Caso contrário, sua situação pode se complicar ainda mais, caso as denúncias de Duda venham a ser comprovadas...e caso apareçam outras.
Querem uma prova de que abalou a república? Hoje mesmo, 21 deputados petistas se desligaram da bancada, e o PT está perplexo com todos os fatos. A economia sofreu um abalo sério, com o dólar saltando de aproximadamente R$ 2,30 para aproximadamente R$ 2,40 em apenas um dia, depois de levar quase uma semana para descer na mesma variação. Lula parece – pela primeira vez, primeira mesmo – escorregar sobre a rampa do Palácio do Planalto.
Nessa altura do campeonato, que ninguém duvide da última hipótese. Quando a crise estava amansando, reacendeu. Não se sabe o dia de hoje, e muito menos o de amanhã.

Tuesday, August 02, 2005

O nome "Pathos"

Pois é, galera, o blog voltou à ativa, mudou de nome e eu nem expliquei o porque da mudança. Também não expliquei o novo nome, que a princípio soa estranho demais. Calma que eu explico...
“Folha de Jornal” foi um nome “emprestado”, peguei de um verso da música de apresentação do Afrorreggae (é assim que escreve?). Aquele que diz “Capa de Revista / Folha de Jornal / Somos Afroreggae / Vigário Geral”.
Mas não era só um nome emprestado, era também improvisado. Eu queria criar logo o blog, e aí esse nome foi um dos mais plausíveis que veio à minha cabeça. Aí não pensei: coloquei.
Só que...bem...não significa nada com nada, certo? “Folha de Jornal” é muito genérico. E pra completar, o que tem de “jornal” no blog? Nada. Os textos não lembram as colunas dos jornalistas. Nem isso.
Aí resolvi mudar.
“Pathos” não é um nome definitivo, pode ser que mude outra vez (embora, em caso de mudança, o endereço vá permanecer). Só que...bem...acho que o nome tem tudo a ver com o blog.
“Pathos” é uma palavrinha grega que deu origem a outras em nossa língua, como “patologia” (essa não tem nada a ver com o blog) e “paixão”. Essa sim.
“Pathos”, em grego, seria...bem...o resumo do significado de “paixão”. São todos aqueles sentimentos que vêm de dentro, que você não explica, que não são passíveis de serem entendidos pela razão, mas que você adora sentir.
E esse blog é isso: um monte de sentimentos que eu adoro escrever, e cara, isso não tem razão lógica. Não sei porque eu escrevo, não sei porque escrevo meus sentimentos, não sei porque publico aqui, e não sei porque volto pra ler os comments; mas tudo isso me dá um prazer danado, me faz sentir muito bem.
E isso é “Pathos”, total, 100%. É por isso que eu escolhi esse nome.
Um grande abraço, meus 5 leitores! Eu amo vocês!

Me deu vontade de contar uma história!

O sol ainda nem nasceu. Do lado de fora da casa, a noite ainda exibe o brilho das centenas de estrelas que enfeitam o céu. Casa simples, de três cômodos, no interior do Nordeste, chão de terra batida e paredes que parecem ser levadas por um vento mais forte.
Aos poucos, no entanto, a claridade vai tomando conta do lugar, e o brilho das estrelas vai sumindo, dando lugar àquele tempinho existente entre o fim da noite e o nascer do sol, quando os primeiros raios atravessam os céus e tocam o solo, ainda com aquela delicadeza e poesia do nascer do sol.
Mal o sol nasce, Dona Lurdinha já está de pé, fazendo café. Acordou antes, e foi olhar as estrelas. Como dorme antes do sol se pôr, não pode olhar as estrelas; então faz isso quando acorda.
Lá está ela, de pé em frente ao fogão muito simples, na cozinha pequena e apertada, de paredes porosas, naquele tom mostarda-amarelado, esperando a água ferver. Assim que a água ferve, Dona Lurdinha prepara o café.
A primeira xícara ela bebe ali mesmo, para “acordar”, quem sabe. Depois enche duas outras e vai se sentar na varanda.
Fica ali sentada, olhando a estrada, os campos lá longe, admirando a grandeza do mundo, olhando o chão daquela terra maltratada. E, principalmente, não desgrudando os olhos do caminho.
Há 35 anos, Seu José foi comprar uma caixa de fósforos na venda da vila, que não fica longe, e disse que voltava, que era para D. Lurdinha esperar.
Ela esperou. Esperou um dia, dois, três, dez, vinte, cinco meses, e nada de Seu José voltar. Os vizinhos diziam “ih, esse não volta mais”.
Mas D. Lurdinha continua esperando. Os olhos brilham ao avistar alguém na estrada, e o brilho some quando ela percebe que não é Seu José que vem vindo. Mas ela continua lá, xícara de café na mão, bebendo aos golinhos, olhando a estrada. E dizendo para si mesma: “José, meu velho, por onde você anda? Seu café está esfriando!”.

Monday, July 18, 2005

O avesso da festa

O lugar está basicamente deserto. Só o porteiro. Não preciso temer.
Aperto o botão do elevador e espero alguns instantes. Quando ele chega, eu entro. Aperto o botão do andar, a porta se fecha, e o elevador segue o seu destino.
Chega ao destino, a porta se abre novamente. De longe, escuto o barulho da música vibrante, das pessoas se mexendo freneticamente, em movimentos ritmados. O chão está cheio de latas de cerveja, totalmente inundado pela mesma; esse estranho líquido amarelo, que ninguém lembra como começou a beber, não sabe porque bebe e não sabe quando vai parar. Ninguém também sabe como tanta cerveja foi parar no chão.
A festa pulsa: as pessoas conversam, falam, se mexem, riem, caem de bêbadas, esmurram a porta do banheiro querendo mijar, falam merda, xingam, mandam os outros para vários lugares, chegam nas outras, beijam, colam, ficam junto, dançam, falam da própria vida, quem sabe, fazem planos para o futuro.
Estou fora de toda essa pulsação.
Fora, totalmente fora. Estou observando a festa de fora, amassando as latas de cerveja no chão, chutando-as a um canto, perseguindo os conhecidos, tentando manter um contato verbal, que seja. Mas é inútil. Não faço parte dessa pulsação. Aqui não é meu mundo, esse não é meu lugar, essas não são as minhas ações. Não esmurro porta de banheiro, não sou de xingar, não sou de beber líquido amarelo desesperadamente, não sou...não sou de conversar com quem eu não conheço, nem de levar uma conversa mais além. Sabe-se lá porque.
Como reação óbvia, me afasto de tudo isso. Vou embora, sigo pro outro lado do lugar, onde não tem ninguém. Aqui o silêncio impera; o barulho da festa ficou longe, distante, apenas alguns ecos.
Lá embaixo, a rua. Lá em cima, as estrelas.
A vida real não é a ficção. Se isso fosse um filme, talvez eu perguntasse às estrelas qual o meu problema, e no instante seguinte, saberia a resposta. Ou ela viria por trás de mim, ou passaria pela minha frente.
Mas isso não é um filme. Ainda assim, eu pergunto. Como já era de se esperar, não tenho resposta. E fico dizendo “seu imbecil, isso não é um filme, a poesia está no que se vê do céu, mas não está na pergunta, nem na resposta, simplesmente porque essas...não existem de fato”.
E sento no chão, e dá vontade de chorar. E eu digo “que merda, eu sou o último, o último, tenho problema e não sei qual é. Ou não tenho e fico tentando arrumar um. Foda-se, na prática é a mesma coisa., o resultado é o mesmo: permaneço aqui, estático, e não avanço. E o mundo é sempre um lugar à parte. E eu não sei mais o que fazer. E chorar não adianta, mas meus instintos falam mais alto.”
Só que o céu não é estrelado, nem escuro. Muito pelo contrário: o sol está bem alto no céu, e o dia é de um céu azul de brigadeiro, com algumas nuvenzinhas aqui e ali. E há passarinhos voando, e pessoas circulando na rua.
E continuo triste.
A festa vive para sempre. Eu não.

O vazio do quarto/É o avesso da festa/É o avesso do vício/De te namorar...
Vou sair por aí/Meu amor vamos nessa/Que o tempo/Não espera/A vida passar

Daniela Mercury, “Vem Morar Comigo”

Monday, July 11, 2005

Depois da dinâmica, vem a negativa...

Nesta primeira fase, optamos por outros estudantes com o perfil mais próximo do que estamos buscando. No entanto, outras oportunidades surgirão, pois a emrpresa está só começando.
Manterei seu currículo em nosso banco de dados, visando futuras oportunidades.

Eu já ouvi essa frase em algum lugar.
Parece até um padrão – todos seguem a mesma idéia. Não se dão nem ao trabalho de mudar um pouquinho o texto...
Podiam escrever algo como “olha só, você é muito feio, e por isso não foi aprovado”. Ou quem sabe, “você ainda está muito novinho, volta daqui a uns três anos”. Ou então “ah, gostei mais do fulano de tal, ele me disse uma frase bonita no telefone e escreve muito bem, e por isso eu o chamei”.
Tá, não foi engraçado.
Não fiquei chateado, nem triste. Já ouviram aquela história de que uma vez um certo editor de jornal mandou embora Walt Disney, dizendo que ele não tinha criatividade? Que o Flamengo dispensou o Ronaldo (o que não é Gaúcho) depois de um teste de rotina? Que o Einstein foi reprovado no colégio?
Tá, não chego nem perto desses três caras, mas tenho o meu valor, e sei disso. Sigo em frente, olhando o futuro e buscando novas oportunidades. Modéstia à parte, a empresa “que está começando” jogou fora um grande talento. Desperdiçou a chance de começar com um profissional que está começando, não tem padrão nem pre-conceitos, e se esforça muito mais para aprender e fazer certo do que um que já está trabalhando há algum tempo.
Perderam uma boa oportunidade.
Eu também. Mas eu terei outras. Eles, não sei. Ao menos comigo.

O que não falta nesse país é trabalho...

Chuva de textos no “Pathos”, hehe...

Uma vez vi um comercial tão bonito, que me marcou. Queria dividir com vocês, meus amados 5 leitores...
Começa com a câmera focando um jornal, e várias notícias. E a musiquinha de fundo... (se alguém já tiver visto e puder corrigir a musiquinha, eu agradeço...)

“Quero ser engenheiro e construir um país melhor...
Quero ser economista e não entrar pruma CPI...
Quero ser estilista e colocar o Brasil na moda...

O que não falta nesse país é trabalho...

Quero ser advogado fazer direito e não errado...
Quero ser jornalista e escrever pruma grande revista dizendo que o país mudou...

O que não falta nesse pais é trabalho...

Nesse momento, a câmera se afasta do jornal, mostrando que ele serve de cobertor a um mendigo, que está deitado num banco de praça.

O que não falta...é trabalho...”


Vou continuar a musiquinha. Quem quiser completar, escreve um comentário...quem tiver uma idéia melhor, pode escrever tb...

“Quero ser médico e tirar o Brasil da UTI...
Quero ser nutricionista e deixar o Brasil bem alimentado...
Quero ser psicólogo e tirar o país do divã...

O que não falta nesse país é trabalho...”


Não precisa ser necessariamente relativo ao país (é só ver o verso do economista), mas, de preferência, algo positivo...
Abraço!

Saturday, July 09, 2005

Uma imagem vale mais que mil palavras





Só uma pequena legenda...
Do lado esquerdo, uma data não precisa, mas pelo papel no quadro de avisos, é 2004. Do lado direito, Abril de 2005. Dois momentos tão desejados, separados apenas por uma boa dose de força de vontade.
Ê vida!

Wednesday, April 27, 2005

A primeira vez

A noite caía sobre a cidade.
No céu, as primeiras estrelas faiscavam, brilhando de maneira simples, porém muito especial. No céu escuro, nenhuma nuvem. Seria uma noite quente, mas não muito, entrecortada por uma brisa muito suave e fresca, que soprava quando se sentia mais calor.
Em casa, em frente à televisão, existia toda uma expectativa. Finalmente a hora estava chegando. Tinha esperado muito por aquilo. A ansiedade era muito grande, e eu mal podia me conter. Estava esperando que começasse logo. Ela hesitava bastante, tinha receio, achava tudo muito arriscado, ainda que fosse bem rápido. Mas eu podia jurar que, de alguma maneira, estava gostando da situação, caso contrário, não teria deixado acontecer.
A hora ia passando; o relógio bateu seis e meia. Era agora ou nunca. Precisava ser naquela noite, o tempo não podia mais esperar. Eu já estava cansado só pela espera. Estava pronto, e poderia gritar isso para o mundo. Estava feliz, e também gostaria de gritar isso pela janela, se pudesse. Gritaria para ela, se pudesse
Ela se levantou do sofá e disse que estava na hora. Perguntou se eu não ia também. A resposta foi imediata...
Não.Eu tinha sete anos e minha avó me deixou sozinho em casa pela primeira vez na vida. Foi comprar pão. Depois desse dia, nunca mais fui com ela. Ficava sempre em casa. Sozinho em casa: eis uma primeira vez interessante. Não a mais interessante de todas, mas...deixa isso pra lá. E você, aí, lendo isso aqui. Quais foram as primeiras vezes que mais te marcaram, e que você daria tudo para repetir? Quais as que você prefere esquecer? Porque tudo tem uma primeira vez na vida, mas nem tudo tem uma segunda, e às vezes, nem precisa ter.