Tuesday, January 10, 2006

De Roger Paillac à Didier Deschamps, passando por Decio Pinto e Gil Brother, de formas que não derrubem a estátua do pajé

Tempo
Tempo mano velho
Falta um tempo ainda eu sei
Pra você correr macio...


O dia era muito claro, de céu azul. Daqueles bem típicos do verão carioca: sol escaldante, gente com pouca roupa e um climinha gostoso no ar.
E lá estava eu. Ao invés de estar pegando sol, ou na praia, ou tomando minha tão sagrada água-de-coco, estava...estava...onde é que eu estava mesmo?
Ah, sim, ali na Dias Ferreira, perto do boteco. Não sabe onde é? Bem...é uma rua que tem uma papelaria mambembe que tem tudo (um dia ainda vou descobrir que o dono tem uma sacola mágica igual à do Gato Félix), dois botecos, uma loja de ferragens e uma farmácia. E ah, o ponto de ônibus do não menos famoso frescão, aquele ônibus de viagem que anda pela cidade e cuja passagem custa R$ 2,50.
Minha descrição foi mais que perfeita, né? Imagino eu que agora todo mundo já saiba direitinho como é a rua.
Estava eu ali, na banca de um camelô, próximo à casinhola do Novaes – um chaveiro muito simpático, barbudo, olhos profundos e claros, que eu nunca vi. É, esqueci de descrever a casinhola dele. Traço fundamental da paisagem. Casinhola azul, perdida no meio da paisagem da rua, fechada de manhã e aberta apenas naquelas janelinhas que abrem pra fora, à tarde. Só uma casinhola de chaveiro.
Onde eu estava mesmo? Ah, sim, ali na rua dos dois botecos, perto da casinhola do Novaes, grande Novaes, o chaveiro. Tão bom que destranca até privada entupida.
Voltando. Eu estava por ali, naquele belo dia de sol, de bermuda amarela, camiseta branca e cabelo caindo na cara, indo ao camelô. Ele é quase lojista: tem o ponto há 20 anos, sempre no mesmo lugar, e sempre traz os mesmos relógios para vender. Me pergunto se as pessoas que compram os relógios os devolvem por algum problema, por simplesmente cansarem de usar, ou se ninguém compra mesmo.
Estava indo ao camelô trocar a bateria do relógio. Um bom relógio, aquele. Quase de estimação. Embora eu nunca tenha usado relógio.
Preciso manter a bateria dele funcionando. Chego e pergunto quanto é.

Dez real.

Hã? Dez real pra trocar a bateria de um relógio? Mas com isso eu compro um novo aqui no seu camelô!

E porque você acha que custa esse preço?


Saio frustrado, com o relógio de estimação ainda sem bateria, e a rua com os mesmos botecos, casinholas e camelôs. E o sol escaldante na cabeça, e o mundo aproveitando a praia, e eu aqui, trocando a bateria de um relógio.
O que é pior, num camelô que nunca vi mais gordo, embora passe todos os dias pela mesma rua, a caminho do mesmo lugar. Dez reais por uma bateria. Alguém merece isso, cara? Para um relógio que nem se vai mais usar? É brincadeira, realmente, sacanagem, cara.
Saio caminhando e atravesso a rua. Quem sabe naquele restaurante ali eles não cobram mais barato pra trocar a bateria? E ainda dá pra tomar um chope enquanto espero.