Thursday, September 01, 2005

The Flash

(para quem achava que a onda de inspiração terminou...digo que tá só começando!)

Não gosto de ondas nostálgicas.
Daquele negócio de achar que o passado é sempre melhor e mais bonito, de ficar lembrando da infância como a época áurea da vida, de ficar sonhando acordado, lembrando...lembrando...de que mesmo?
Lembrando das tardes na casa da vovó. De chegar do colégio, vestindo o uniforme e carregando a mochilinha, trazido pelo ônibus especial ou pela mãe.
De deitar no sofá da casa da vovó e comer todos os tipos de lanches que ela preparava, e tomar o mate quentinho da tarde, e ficar vendo televisão – primeiro os filmes japoneses primos do Jaspion, depois o programa da Gilse Campos (é, eu via, embora até hoje não entenda porque), depois as novelas e os desenhos animados...
Lembrando de ficar deitado todo torto no sofá, e a vovó dizendo “tira esse uniforme, menino!”. Ou então “sai daí, senta direito”. Ou quem sabe, o não menos famoso “você está vendo televisão muito de perto, hein? Vai estragar a vista!”.
Lembrando de ficar esperando a mãe chegar, pra poder ir pra casa, seja a do Leblon ou a que veio depois, em Vila Isabel.
Ir pra casa da Vila era mais divertido: ia no carro brincando com os bonecos (aqueles de super-herói), ou então falando sozinho, brincando de repórter, numa inocência que a mãe achava engraçado, e ria, ria, e não falava nada.
Ah, sem esquecer aqueles passeios do colégio...passeios incríveis, onde me esbaldei, embora hoje não consiga me lembrar direito. Teve tudo: bienal do livro (onde comprei o livro “Cebolinha e Floquinho”), jardim botânico, jardim zoológico, Fazenda Alegria (não gosto de lembrar dessa)...e toda aquela atmosfera com os amiguinhos, e aquela coisa de ir no ônibus festejando, e me achando o máximo, vestindo uniforme e mochilinha, carregando as coisas, rindo sozinho.
Não posso também deixar de citar a saída do colégio. Ah, que momento mágico! Sair do colégio depois de um dia inteiro de aula (é, eu achava muito. Mal sabia, né?). E aquela atmosfera da saída, e o pipoqueiro em frente ao portão, e os coleguinhas felizes também, e a atmosfera de ir pra casa beber o mate quentinho da vovó, e ouvir ela mandando eu tirar o uniforme.
Para terminar, a cena que marca: O The Flash – eu, correndo pela casa, com um raio desenhado e recortado em papel (extremamente mal-feito, porque eu nunca soube desenhar nem recortar), me sentindo o super-herói mais rápido do mundo. Na época era apaixonado por esse herói, essa criatura extremamente rápida, e sonhava que tinha todos esses poderes.
Não gosto dessa onda nostálgica – mas quando ela é prejudicial, quando a gente fica sonhando acordado e...e....e...bem, e não vive. Mas de vez em quando é bom lembrar, né?
“Rafael!!!! Venha beber o teu mate, menino, que tá esfriando!!!”

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