Sunday, September 13, 2009

Por enquanto...é mais um domingo

Mudaram as estações / Nada mudou / Mas eu sei que alguma coisa aconteceu / Tá tudo assim tão diferente / Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar / Que tudo era pra sempre, sem saber, que o pra sempre / Sempre acaba...
Por Enquanto, Renato Russo


A música veio, assim, sem pedir licença. Não está no meu MP3, nem no meu top cinco, nem no top dez, e muito menos eu a ouvi recentemente.

Veio assim, naturalmente, como uma mensagem qualquer, como uma resposta para as dúvidas, como um conforto a uma simples pergunta.

"Alguma coisa mudou de lá pra cá?".

Não sei. Mas lembro que os primeiros raios de sol daquela manhã de domingo banhavam os velhos prédios da Lapa enquanto o ônibus seguia, em alta velocidade, rumo à Praia do Flamengo. E enquanto as lágrimas teimavam em rolar pelo meu rosto.

Mas que droga, pensava eu. É ridículo. Não deveria deixar ninguém ver. Um homem desse tamanho chorando às seis da manhã de um domingo, depois de uma noite inteira se distraindo, rindo, bebendo, ouvindo histórias, falando bobagens.

Não há nada que justifique isso. Nada mesmo. Esse choro parece de outra pessoa, de outro ser, não parece meu. Não sou assim. Ou será que eu sou? Ou será que há algo que justifica tudo isso e não quero admitir?

Mas, quem disse que adiantava? O sol continuava subindo, o ônibus continuava seguindo, e eu continuava mal. Às vezes triste, às vezes chorando. Às vezes tentando lembrar...do que mesmo?

"Se a coisa ficar preta, faz uma piada que melhora."

Quem foi o idiota que inventou isso? Como se fosse simples assim, a gente faz uma piada, ri e daqui a pouco essa tristeza passa. Bem, na verdade é meio assim. Mas é difícil quando a gente teima em guardar as coisas para si, também. Não dá pra rir com tudo isso guardado. Melhor botar tudo para fora.

No bom sentido, é claro. Mas seria o ônibus na Lapa às seis da manhã de domingo o melhor lugar pra isso? Estaria o álcool me afetando de alguma forma? Ou...alguém estaria me afetando de alguma forma?

A memória dá saltos, pulos. Me lembro de gente se despedindo de mim em Copacabana, como se o ônibus não tivesse passado pelo Rio-Sul, por Botafogo. Tomara que eles não tenham reparado em nada, eu não teria cara para encará-los de novo. Ou não.

Me lembro do Corte do Cantagalo, e do sol já alto. Sempre adorei voltar para casa esse horário, hoje parece chato. Talvez porque falte alguém pra conversar. Ou talvez porque tenha gente demais no ônibus e eu não possa falar alto e dizer tudo o que penso, sob pena de ser tachado de louco.

Não que seja normal, mas louco também já é demais.

Me lembro da chegada ao Leblon, tão bonito sob o sol das seis da manhã, com seus pássaros cantando, suas ruas simpáticas, gente saindo para fazer exercício. Pô...tem que gostar muito pra fazer exercício essa hora. Ou então ir direto da noite. Tem maluco pra tudo.

Não, não fui fazer exercício, fui para casa. No caminho, xingava, chutava pedras, reclamava. E o Leblon tão bonito. E um dia lindo que nascia. E eu dizendo que passaria o dia emburrado. Como se estivesse de luto por alguma coisa. E cadê o espírito pra fazer uma piada pra melhorar o astral?

Tem a piada do disque-luto (liga pra lá e ouve um minuto de silêncio), mas era tão ruim que não consegui contar pra mim mesmo. E ela é tão ridícula e tosca que é engraçada, mas nem assim consegui rir.

E cheguei em casa dizendo que não tinha sido uma noite boa. Por que mesmo, hein? Nem lembro mais. A memória pula de novo, lembro que fiz um belo sanduíche e comi. Passava Chaves na TV, fiz questão de assistir. E no próximo "salto" já ouço a voz de alguém me acordando.

E um banho pra recobrar as forças, colocar as ideias em ordem, me refazer.

Foi quando a música veio, assim, de memória, sem pedir licença. Não está no meu MP3, nem no meu top cinco, nem no top dez, e muito menos eu a ouvi recentemente.

Veio assim, naturalmente, como uma mensagem qualquer, como uma resposta para as dúvidas, como um conforto a uma simples pergunta.

"Alguma coisa mudou de lá para cá?"

Wednesday, September 02, 2009

Perdidos e achados

Cheguei em casa, entrei no quarto, e quando me dei conta...ela não estava lá.

Por um instante achei que tivesse me enganado. Onde será que poderia estar? Comecei a procurá-la pela casa inteira.

Mas...que nada. Nem sinal. Nem sombra. E nenhuma resposta aos meus apelos.

Então, talvez...bem...estivesse na padaria. É...às vezes ela ficava por lá naquele horário, esquecida ali pelo balcão. Não custava nada ir verificar. Então, coloquei os sapatos, desci as escadas e fui atrás dela.

Pela rua, a angústia era enorme. Como isso podia ter acontecido? Não era possível que eu a tivesse perdido assim, num mísero instante. Não era possível que tivesse sumido sem mais nem menos, sem motivo, sem razão. E ela era tão importante para mim...e sabia bem disso.

Cheguei na padaria, e em vez de perguntar por ela, saí procurando. Passei o olhar por todos os cantos, todos os lugares, da porta à entrada da cozinha, e nada. Do balcão à caixa, nada ficou por ser verificado. Perguntei por ela.

Nada.

Voltei para casa desanimado, desolado, as mãos nos bolsos. Subi...e tive um estalo. Fui verificar o armário.

Vazio. Lá dentro não havia nada. Absolutamente nada. Fiquei desolado.

E num instante, percebi tudo. Era tudo tão claro para mim. Tão óbvio. Já sabia onde ela estava, e tinha de ir atrás dela o mais rápido possível.

Voltando à sala, mexi nas malas que havia comprado e arrumado naquele dia mesmo. Que cabeça a minha...esquecer uma coisa como aquela. É claro que ela só podia estar lá.

Em uma das malas, puxei uma etiqueta e verifiquei que havia um telefone. Peguei o celular e disquei.

Contei a história a quem atendeu do outro lado. Perguntei por ela. Tinha que estar lá.

Nada.

A busca foi em vão.

Nunca soube onde diabos perdi a minha carteira.