Sunday, August 21, 2005

As grades do metrô

O dia já havia nascido. O sol já ia alto no céu.
Céu azul de brigadeiro, com umas nuvenzinhas aqui e ali, e um vento fresco como esse que tá soprando agora, mas sempre em intervalos regulares, pra que se sinta a diferença no clima.
O chão é cimento cinza, já gasto pelo vai-e-vem de passos, pela ação do sol, do vento e da chuva.
À frente, se abre um espaço quadrado, que permite que muitas pessoas passem simultaneamente para o outro lado; quem sabe, evitar confusões em dia de jogo no Maracanã.
E lá estou eu, seguindo em direção ao portal...não pensando em nada. Chega de pensar, nessa vida.
E à frente, observo as grades que delimitam o caminho, que servem de apoio. Fundamentais quando se trata de uma passarela como essa, necessárias para conservação e bem-estar do lugar, e claro, evitar acidentes.
Lá estão três crianças, vestindo uniforme de escola, com suas mochilas nas costas, o cabelo penteado pelas mães, o rosto limpo do banho que tomaram há pouco. Podiam estar caminhando pela passarela, conversando, rindo de alguma coisa, pensando nas aulas do dia, ou melhor ainda, no que iam fazer depois do colégio.
Mas, nada disso, tsc-tsc. Estão jogando fora sua agressividade, chutando a grade do metrô, a grade da passarela que nada fez, que está ali por mera obrigação.
Repetem um ritual: chutam a grade algumas vezes, usando inclusive voadoras; depois que o objeto se soltou da armação de ferro, arrancam o que sobrou e deixam lá, destruído. E seguem assim, fazendo isso com as grades à frente, como se fosse algo normal.
Nenhum segurança para impedir. Ninguém para se importar: todos passam caminhando, deixando a cena como está, como se não tivessem visto nada. Devem estar atrasados.
Atrasado está este país, que deixa suas crianças de escola destruindo grades do metrô.
Atrasadas estão as pessoas, que precisam ganhar dinheiro para sobreviver e mal conseguem enxergar os pequenos delitos do dia-a-dia - o que os torna normais.
Atrasadas também estão as crianças, que já deviam ter passado da fase de destruir e deveriam estar começando a construir – primeiro os desenhos mais simples, e amanhã um país melhor.

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