Monday, August 22, 2005

O contador de estrelas

(ou seria..."uma, duas, três, quatro..."?)

O poeta disse que sabia ouvir e entender estrelas. Disse também que só quem ama é capaz disso.
Eu nunca consegui ouvir – afinal, eu sou pseudo-escritor, não poeta.
Passava os dias esperando a noite chegar, e passava a noite inteira contando estrelas, admirando o brilho, imaginando como seriam...uma, duas, três, quatro...
Quando era pequeno, achava que eram pontos brilhantes no céu...e assim foi até fazer sete anos. Aí ganhei aqueles livrinhos de criança que mostram o universo como ele realmente é...
Não foi um choque, mas muitas coisas mudaram. Não queria nem mais ouvir falar; tinha até medo de olhar demais...agora que sabia que eram um universo enorme, com planetas e corpos celestes muito maiores do que aquele onde eu estava.
Mas aos poucos, o fascínio voltou, e lá estava eu de novo, deitado no chão, admirando aqueles pontos brilhantes, agora que podia compreendê-los melhor. Agora gostava mais: haviam ficado intensamente mais bonitos.
Contava as estrelas, sabia as constelações de cor, os nomes de cada estrela, sabia a posição no céu, a hora que apareciam, quanto tempo ficavam, e até mesmo a hora em que mudavam de posição, deixando o sol surgir, deixando mais um dia começar...
Era basicamente um êxtase ver as estrelas brilhando, sentir o brilho a cada minuto que passava, perceber ali uma força da natureza cuja sensação é incomparável.
Mas me ressentia sempre por não conseguir ouvi-las. Existia em mim a coisa do poeta, a necessidade de ouvir, de entender, de compreender...algo que ia muito além de ficar contando. Existia a necessidade...e eu continuava admirando...e continuava ali...e queria ouvir, mas continuava admirando...e continuava contando...um, dois, três, quatro...
E admirava o brilho, fascinado; admirava o comportamento delas, o ciclo de vida (do nascimento à supernova), achava a coisa mais bonita do universo (literalmente)...mas continuava admirando...e continuava contando...uma, duas, três, quatro...
Existiu um dia, apenas um dia, em que me pareceu conseguir finalmente ouvir.
Ouvi. Sim, eu ouvi...ouvi! Eu ouvi! Falou comigo!
E falava, e eu em êxtase...e continuava dizendo “eu ouvi!”, “eu ouvi!”, e saltava por aí, e saía fora de mim, e não voltaria tão cedo.
E nem me dei ao trabalho de entender o que dizia. Nem me dei ao trabalho de, além de ouvir, escutar...se é que me entendem. O importante era, como diz o poeta, ouvir e entender estrelas...e eu me preocupei apenas em ouvir. Ah, sim, sem contar os saltos enormes,a empolgação por algo...que deveria ter feito sempre.
Agora cá estou eu de volta, observando as estrelas de novo, fascinado pelo brilho e sonhando em um dia ver uma grande supernova, contando-as...uma, duas, três, quatro...
E me perguntando se conseguirei ouvi-las de novo...
Como dizia ele, só mesmo quem ama é capaz de ouvir e entender estrelas...e até aprender, é um looongo processo...
Ah, como brilham essas estrelas...uma, duas, três, quatro...

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