Wednesday, October 06, 2004

Chuva

“Chuva / Só peço que caia devagar / Molhe esse povo de alegria / Para nunca mais chorar...”

Não sei se a música é assim. Também não sei quem canta, qual é o nome, o resto da letra, enfim. Mas essa parte é muito bonita.
A chuva tem duas versões: pode ser anunciada ou vir de repente.
A chuva anunciada é aquela em que a gente olha pro céu e vê as nuvens se juntando, escurecendo aos poucos, enquanto um vento frio começa a soprar. Dali a pouco começam a cair as primeiras gotas, geralmente muito finas; em alguns minutos, se tornam mais grossas e chove definitivamente.
A chuva de repente não tem necessariamente as nuvens escuras. De uma hora para outra começa a chover forte; os pingos caem do céu e batem com força no chão, fazendo aquele barulho que chama a nossa atenção. Todo mundo corre pra fechar as janelas, dizendo frases como “olha a chuva”, “tá chovendo”, “ih”, enfim.

“Chove chuva / Chove sem parar...”
Jorge Benjor

A chuva parece ser o choro das pessoas, parece ser a tristeza material que habita os corações e mentes, parece prever grandes tragédias ou mesmo perdas. Naquele domingo de 1998 em que o Brasil perdeu a final da Copa do Mundo para a França, caiu um temporal. Eu disse à minha mãe que era para lavar a alma do brasileiro; não sabia se por tristeza ou felicidade, e fui descobrir isso mais tarde. Nas outras duas finais em que vi a seleção ser campeã – 1994 e 2002 – os dias foram ensolarados, daqueles de céu azul e nuvens brancas no céu.
A chuva lava não só a alma, ela também lava as ruas, as calçadas, causa algumas enchentes, molha o rosto da gente, nos faz sair encasacados. Torna poéticos alguns dias que nada teriam de especial; muitas vezes, traz consigo um friozinho gostoso, daqueles ventos gelados que fazem a gente pegar um cobertor e desistir de sair de casa, preferindo ficar e ver um filme, ler, e...bem...outras coisas que se faz em casa num dia frio e de chuva, principalmente quando se está acompanhado.
As gotas de água que caem do céu podem nos fazer lembrar de alguém, de um fato, um acontecimento, podem nos trazer tristezas e alegrias. Não tem nada melhor do que ir para a janela e espiar a chuva caindo, nem que seja um pouquinho. Se for de dia, melhor ainda: dá pra notar o céu “plúmbeo” (= cor de chumbo ou simplesmente “cinza”), como diria o poeta Manuel Bandeira.
A chuva pode ser tudo isso ou pode não ser nada, dependendo do ponto de vista de quem olha. Minha avó, por exemplo, não vê nada disso na chuva. Acho que para ela a única vantagem é que molha as plantas e evita que estas morram de sede, e olhe lá.
Uma chuvinha para “molhar o povo de alegria” e “não deixar que ninguém chore mais” não ia nada mal. No momento atual que estamos vivendo, bem que precisamos...

Eh, chuva!


Monday, October 04, 2004

Domingo e Segunda, 3 e 4 de Outubro de 2004


A esperança venceu o medo e se transformou em desespero


A data eram duas: dias 6 e 27 daquele mês de Outubro de 2002. Primeiro e segundo turno das eleições nacionais para presidente, governadores, deputados e senadores.
Antes, algumas semanas antes, na propaganda do José Serra, a Regina Duarte (pra quem não sabe, foi uma atriz bem famosa por aquele ano e por muitos outros subseqüentes) apareceu dizendo que tinha medo. Medo de que, quando o Lula fosse eleito, tudo voltasse a ser como antes: a inflação explodindo, uma imensa recessão acontecendo, o país retrocedendo anos em seu desenvolvimento histórico e político.
A declaração de Regina gerou uma imensa repercussão na mídia e entre os políticos, muitos olhando aquilo de forma muito negativa. Como que rebatendo aquela idéia, Lula falava muito na esperança de um país melhor, que segundo ele, venceria todos os medos.
Naqueles dois dias, 6 e 27 de Outubro de 2002, e também no período entre turnos, a esperança pareceu predominar sobre o medo. Existia esperança nos olhos das pessoas, nas ruas, no rosto dos cabos eleitorais, nas seções de votação, no sorriso dos mesários. Pode ser que a esperança apareça em tudo quando a gente quiser ver, mas o fato é que ela estava por toda a parte.
Tirei meu título em 2002 especialmente para votar no Lula. Confirmei o voto nele duas vezes, e quando o resultado saiu, eu me senti bem como nunca. Finalmente um operário, um homem da esquerda, do povo, que trabalhou como meus pais e passou fome, que viveu a pobreza em sua essência, se tornava Presidente da República Federativa do Brasil.
Lula e seu vice, o José Alencar, fizeram um discurso logo depois da confirmação da vitória. Pegando o microfone, Lula disse, entre outras frases:
“Estou muito feliz. A esperança venceu o medo.”
Venceu realmente, mas parece ter sido a única vitória real da eleição de 2002. A partir de 2003, o governo Lula mostrou sua cara. Aliás, não precisou mostrar muito, pois era a mesma do governo anterior, o do Fernando Henrique. As políticas econômicas, as reformas, o modo de governar, tudo igual. Ainda é pior: o modo como trata os dissidentes do partido, como encobre escândalos e como faz política de maneira suja e deslavada.
Há quem ponha a culpa nas alianças que fez para chegar lá; há quem diga que foram as pressões dos mais poderosos; há quem diga...enfim. Diz-se muito: é a eterna necessidade do ser humano de colocar a culpa em alguma coisa. O fato é o seguinte...
...a esperança venceu o medo e se transformou em desespero. Desespero que leva à desesperança. A tarde fria e chuvosa de 3 de Outubro de 2004 parece contrastar com aquele Domingo de sol de dois anos atrás. O desânimo parece estar nos olhos das pessoas, nos candidatos, nos homens e mulheres que fazem boca de urna, na urna eletrônica, que é o símbolo maior da democracia do Brasil. O desânimo contrasta com a esperança de dois anos atrás, com um ciclo de idéias e sonhos que o governo do PT vai pisando e enterrando aos poucos. Onde está o pacto social? Onde está a farmácia popular sem ser populista? Onde estão a verdadeira reforma tributária, a verdadeira reforma política, a verdadeira reforma da previdência?
Nos olhos das pessoas. Naqueles olhinhos que tinham esperança e agora têm o desespero. Olhos que parecem pedir desesperadamente por todas essas mudanças, por todas essas políticas, por um pouco mais de atenção e carinho, e menos por políticas econômicas complexas.
A chuva de 3 de Outubro parece ser o choro do país, arrasado por descobrir que toda a esperança depositada em Lula tinha pouco fundamento.
O dia 4 de Outubro amanhece chuvoso, talvez como o resto das lágrimas que ainda faltam chorar, e depois começa a clarear. No início da tarde surge o sol, imponente. O que ele representa? Não sei. Parece ser tudo, menos aquela esperança de 2002. Pior de tudo é que o desespero não mobiliza as pessoas, que continuam vivendo como se nada tivesse acontecido, passivas ao mundo a sua volta.
Esperança igual à de 2002, nunca mais. Nunca mesmo. Pode-se votar com esperança, mas agora os eleitores de Lula em 2002 estarão sempre com o pé atrás, seja o candidato que for. Talvez se Gandhi levantasse do túmulo e viesse governar o país, aquela esperança retornaria. Caso contrário...

Rafael Cavalcanti é pseudo-jornalista

Friday, October 01, 2004

433, o ônibus mais esquisito do mundo

Brasil, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro – cidade maravilhosa. Esse lugar inundado de sol, com belas praias, belas pessoas, uma natureza incrível e a irresistível capacidade de resistir a tudo, continuando a ser sempre maravilhosa.
Bairro do Maracanã. Ah, esqueci, não existe o bairro do Maracanã. Vila Isabel, então. Ou, precisando um pouco mais, o início de Vila Isabel.
Rua Maxwell esquina com Rua Professor Manuel de Abreu: um ponto de ônibus. Lá estou eu, na frente de um enorme muro de pedra, com o sol quase à pino batendo no rosto, esperando um ônibus para ir para casa, no Leblon. São onze e vinte da manhã, e o movimento por ali já é intenso, em parte por causa do Hospital Universitário Pedro Ernesto, que fica próximo, e por causa de uma escola pública que fica em algum lugar da Rua Maxwell. Um dia ainda descubro exatamente onde...
A quantidade de ônibus que passa pela esquina é enorme; lá atrás, posso ver o 433 que vem dobrando uma esquina em alta velocidade. Resolvo pegá-lo: ainda é cedo, o trânsito ainda é bom e ele chega rápido. Ele passa pelo ponto; faço sinal e entro.
Depois de pagar a passagem, me sento numa janela do lado direito do ônibus e passo a apreciar a viagem. São ruas e mais ruas, esquinas, praças, viadutos, postos de gasolina, placas, pessoas circulando: é a vida na cidade maravilhosa, tentando sobreviver em meio aos muitos problemas.
O começo do passeio é pela Rua Dona Zulmira, logo depois de deixar o ponto. Em seguida o ônibus dobra à direita na Rua São Francisco Xavier, uma das maiores e principais da Tijuca. Elementos passam: um hospital, uma lanchonete fechada, supermercados, várias lojas de veículos, uma casa de comida japonesa, um alfaiate, um posto de gasolina, uma churrascaria que oferece salão para festas e parece estar sempre fechada, o Colégio Militar, o Colégio Pedro II, um curso pequeno. Mais adiante, um prédio onde se ensina Krav Magá (defesa pessoal israelense), uma loja de sucos, outra churrascaria, uma igreja; o veículo anda um pouco mais e é o fim da Rua São Francisco Xavier. O ônibus vira à esquerda e passa pelo Largo da Segunda Feira.
Agora é hora de atravessar a Rua Haddock Lobo, outra enorme rua que é outra muito importante para a Tijuca, sendo a continuação da Rua Conde de Bonfim. Só para se ter uma idéia, esta última atravessa praticamente todo o bairro...
Aqui é bem mais difícil descrever o que há de um lado e de outro, pois a rua é muito mais extensa. A vida parece pulsar através do mundaréu de gente que anda de um lado para o outro. O ônibus vai vencendo a rua, e eu continuo a observar o que dá: bancos, supermercados, postos de gasolina, vidraçarias, padarias, lanchonetes, bancas de jornal. São centenas de transversais e ruas menores que cortam-na; acho que quem não conhece os caminhos ficaria perdido.
Mais à frente há um cruzamento da Haddock Lobo com a Avenida Paulo de Frontin, no Rio Comprido. Nessa hora eu sempre desejo que o ônibus vire à direita e pegue o Túnel Rebouças para que eu possa chegar em casa mais rápido, mas eles preferem dar uma volta maior. Paciência, sigo adiante com ele...
Após cruzar a Paulo de Frontin, a Haddock Lobo segue firme, agora em direção ao Estácio. Ah, o Estácio, o “bairro onde não tem nada”, mais conhecido por ser “terra de malandro” e onde bem poucos sabem que nasceu o carnaval. A Haddock termina e o ônibus vira de leve para a direita, entrando na Rua Estácio de Sá. Olhando à esquerda, observo os prédios que compõem a prefeitura: minha mãe está ali, em algum lugar, trabalhando. Do lado direito existem bares, lanchonetes e outros pequenos estabelecimentos comerciais, e a vida continua pulsando com a grande quantidade de pessoas que caminham pelo pequeno espaço da calçada.
O ônibus segue sua viagem, passando pela Praça Reverendo Álvaro Reis e entrando na Rua Frei Caneca. Aqui não há muito o que se observar: do lado direito, logo no começo, noto um hospital, e do lado esquerdo, a praça, que por sinal tem um aspecto péssimo. O resto da rua parece ser feito de casas antigas, de um outro tempo e espaço.
Já no final da rua, à esquerda, fica o famoso sambódromo, ou se preferirem, Marquês de Sapucaí. É uma área um pouco mais árida, onde há bem menos gente caminhando. O ônibus segue adiante, fecha a passagem pela Rua Frei Caneca e adentra o Túnel Martim de Sá, que corta Santa Teresa e vai sair na Rua do Riachuelo.
Esse túnel tem um estilão antigo, de um corte na rocha bem esquisito, e grades dos dois lados para as pessoas poderem atravessá-lo a pé. Não me arriscaria, com toda essa violência, mas vejo gente por ali.
Geralmente o trânsito no túnel está lento, e hoje não é diferente. Depois de conseguir atravessá-lo, o 433 faz uma curva meio brusca para a direita e entra na Rua do Riachuelo.
Essa rua deve ter sido tão importante que virou bairro. Tanto é que pelo meio do caminho existe uma placa da prefeitura dizendo assim:

Urbcidade Riachuelo e Bairro de Fátima

Aqui também é muito grande o número de transversais que cortam a Rua. São muitos pontos ao longo do caminho, e o movimento essa hora da manhã é intenso. Olho no meu relógio: 11h55 minutos. Vinte minutos de viagem, estamos bem até agora.
O trânsito ajuda a fazer o tempo passar mais rápido enquanto eu continuo observando tudo: construções bem antigas, muitas casas baixas, muitas ladeiras, e como sempre, bancos, colégios públicos, padarias, supermercados, tudo funcionando junto e ao mesmo tempo.
Quase no final da rua existe um poste estranho, diferente, que não vi mais em nenhum outro lugar da cidade. Ele tem a parte superior bem diferente, toda vazada; não sei se aquilo é um poste antigo de iluminação, mas sempre me chama a atenção quando passo pelo Riachuelo.
Quando o ônibus passa pelo cruzamento com a Rua do Lavradio, sei que estamos quase vencendo mais uma etapa. Mais à frente existe um posto de gasolina; o ônibus passa rapidamente por ele e entra na Avenida Mem de Sá, na Lapa.
Passando por baixo dos famosos arcos o 433 chega ao Largo da Lapa, um dos principais pontos da noite carioca, para então entrar numa rua sem nome à esquerda e ficar parado no sinal. Não sei qual é o problema desse sinal, mas ele sempre está fechado quando eu passo.
Olho o relógio de novo: são 12h07, por enquanto dentro do prazo determinado.
A próxima rua é a Teixeira de Freitas, que é cheia de ônibus e vans circulando; passando por ela, o meu ônibus chega à Avenida Beira Mar, na Glória.
Essa avenida é esquisita, tem quatro ou cinco pistas, duas para ir e duas para vir, com canteiros enormes separando as pistas.
Voltando à minha incrível viagem de 433. O ônibus passa pela Avenida Beira Mar: Hotel Glória, memorial à Getúlio Vargas, prédio da extinta Rede Manchete. Acabou o centro e sua zona de fronteira: estamos na Praia do Flamengo, Zona Sul da cidade.
A praia do Flamengo também tem várias pistas para ir e vir. Do lado esquerdo existe uma área verde, com campos de futebol, árvores e espaços de lazer; do lado direito, prédios, prédios e mais prédios, com alguns estabelecimentos comerciais na parte de baixo.
O ônibus segue, passando por vários cruzamentos da Praia com outras ruas: Rua Silveira Martins, Rua Ferreira Viana, Rua Correia Dutra, Rua Buarque de Macedo, Rua Machado de Assis, Rua Almirante Tamandaré, Rua Barão do Flamengo e Rua Paissandu. Não, não sou um guia ambulante de cidades. Se eu fosse contar um pouco da história de cada bairro, este texto teria no mínimo oitenta páginas...
A Praia termina na Praça Cuauhtemoque. Só citei essa praça porque tem esse nome bem esquisito, reparem: Cuauh – tem – o – que. Ou “Curral tem o que”. Bah, isso não faz sentido nem interessa...
Voltando ao meu relato de viagem, que já passou por tantos estilos de descrever que está parecendo ser escrito por cinco pessoas diferentes, uma de cada vez. Er...isso não interessa também...voltando...
O 433 entra à direita na Avenida Oswaldo Cruz, que passa na frente do Morro da Viúva, esse belíssimo conjunto de prédios construídos pela ditadura para evitar a formação de novas favelas na região. Aqui é uma área estritamente residencial, e o movimento de pedestres é bem pequeno. Olho no meu relógio de novo: 12h15.
Finda a Avenida Oswaldo Cruz, chegamos à Praça Nicarágua, e estamos de volta à praia – dessa vez, a de Botafogo. A avenida que margeia o mar deste lado é a Avenida das Nações Unidas.
A vista da Praia de Botafogo, mais conhecida como Baía de Guanabara, é belíssima. Um espetáculo como poucos, um show de belezas naturais no coração do Rio. Num dia ensolarado como hoje, a água reflete a luz do sol, dando ao mar um tom azul escuro belíssimo. No mar, alguns barquinhos; no fundo, completando a belíssima paisagem, o Pão de Açúcar. Este é o morro mais famoso da cidade, empatando com o Corcovado, a Mangueira e o Dois Irmãos, que é a pedra onde fica a Rocinha.
Voltando. Aprecio o espetáculo por alguns minutos, enquanto o ônibus cruza a avenida em alta velocidade. A viagem está chegando ao fim...do bairro de Botafogo, claro.
Lá adiante, à esquerda e no alto, fica uma parte da antiga sede náutica do Botafogo, que parece ter a forma de um barco gigantesco. À direita, quase no túnel, um belíssimo centro comercial, num prédio em vidro todo espelhado. O ônibus aumenta a velocidade, fecha sua passagem pela Avenida das Nações Unidas e entra no Túnel do Pasmado, que atravessa o morro de mesmo nome.
O túnel vai sair na Avenida Lauro Sodré, que aqui no Rio já foi encurtada para “o Rio Sul”, porque passa pela frente do shopping de mesmo nome. Não me surpreenderia que daqui a algum tempo tivesse seu nome mudado para “Avenida Rio Sul”.
No início da Lauro Sodré, à esquerda, existe um shopping, e à direita um ponto de ônibus. Já estou cansado da viagem, com um calor que não conto pra vocês e doido pra chegar em casa depois de mais um dia de estudo e luta.
Mas ainda não terminou. À esquerda, quase chegando no próximo túnel, posso observar uma famosa casa de espetáculos, e um pouco depois, um posto de gasolina; em seguida, o tal shopping. Finda a Avenida Lauro Sodré.
O próximo passo é o túnel Engenheiro Marques Porto, mais conhecido como “Túnel Novo” que cruza o Morro de São João e vai sair em Copacabana. Botafogo também fica para trás em mais uma parte desta incrível e fantástica viagem; se chegou até aqui, parabéns, não sei como conseguiu ler esse negócio tão chato. Continue, por favor, eu vou continuar viajando com o meu ônibus.
Saindo do Túnel Novo, o 433 passa por uma pequena parte da Avenida Princesa Isabel, na fronteira de Copacabana com o Leme; já estou ficando cansado, agora doido pra ele correr a próxima avenida e me deixar logo em casa. A viagem tá legal mas tá cansativa. 12h22; geralmente ele chega em 1h no Leblon, hoje acho que não vai conseguir.
Depois da Princesa Isabel, o passeio continua pela Rua Barata Ribeiro, uma das principais de Copacabana e uma das maiores. Aqui existem diversas lojas de móveis, algumas lanchonetes, padarias e restaurantes; é outro lugar onde o movimento parece não cessar nunca. (Talvez às 4h30 da manhã cesse um pouco, mas...enfim...)
O ônibus passa pelo cruzamento da Barata com várias transversais e por fim chega à praça Cardeal Arcoverde, onde fica a estação do metrô. Dali ele pega a direita, fugindo ao lugar comum de todos os ônibus, e indo sair na Rua Toneleiro.
É, é ela mesmo, aquela rua onde quase mataram o Carlos Lacerda. Hein? Você não sabe quem foi o Lacerda? Não sabe como tentaram matá-lo? Um pouco de História do Brasil é bem útil, sabia?
Argh...vamos continuar. O ônibus entra na Tonelero, contornando a praça Cardeal Arcoverde, e então segue em alta velocidade pela rua, aproveitando que ela não tem um trânsito muito intenso. Passa por um colégio, um restaurante e então entra numa área estritamente residencial de Copacabana. Lá na frente o trânsito começa a ficar intenso e eu mais ainda, olhando o relógio de cinco em cinco segundos. Meio dia e vinte e cinco, dali a mais uns dez minutos devo estar descendo do ônibus.
Quase na esquina da Tonelero com a Siqueira Campos (outra rua bem importante para Copacabana) o trânsito fica lento, devagar quase parando. É que o túnel Major Vaz, que separa a Barata Ribeiro da Rua Pompeu Loureiro, está em obras pela expansão do metrô, e isso leva tempo. Tempo pra terminar a obra e tempo do motorista que pega engarrafamento. Tempo que eu não quero perder; já olhei o relógio três vezes nos últimos dois segundos.
Por fim, depois de passar o cruzamento da Tonelero com a Siqueira, vem o outro cruzamento, agora com a Figueiredo de Magalhães. Ali o trânsito não é muito melhor; passando a estação do metrô, que fica do lado direito e quase na esquina, o 433 atravessa o cruzamento e segue pela Barata. Mais alguns metros e, desviando heroicamente da magnífica obra do metrô, entra no Túnel Major Vaz.
Findo o túnel, estamos na Rua Pompeu Loureiro. A quantidade de ônibus aqui é menor, e isso dá ao motorista espaço para correr. Quase caio do banco com a arrancada que ele dá; estou quase arrancando é o banco onde estou sentado, tamanha é a ansiedade para chegar em casa. Vocês sabem, cansaço psicológico, teoria de Freud, enfim.
O ônibus passa por um bingo, pelo SESC, por um supermercado e pela sede do Corpo de Bombeiros. Já saindo da Pompeu, passa pela praça Corumbá, à esquerda, e entra no Corte do Cantagalo. Mais uma vez corre como um louco, literalmente, cortando o Cantagalo, e indo sair na Lagoa, na Rua Epitácio Pessoa.
Passa por baixo de um viaduto, faz a volta e pega o mesmo viaduto; vai sair na direção Ipanema-Leblon da pista da Lagoa. Aqui também não há muito trânsito e o motorista continua a correr, é praticamente um Ayrton Senna.
Passa por um bar, uma boate (obviamente fechada, à essa hora da manhã não me admira), um posto de gasolina e alguns restaurantes; lá na frente, já dá pra ver um clube famoso, aliás, muito bem freqüentado. O 433 atravessa o Jardim de Alah, ainda pela Lagoa, e pega uma entradinha à esquerda, próxima ao Clube Monte Líbano.
A Epitácio segue após a entradinha à esquerda, na frente do Monte Líbano. O ônibus segue pela rua, passando pela frente do conjunto habitacional carente conhecido como Cruzada São Sebastião. São 12h30, estamos completando 55 minutos de viagem; é uma boa marca, eu diria.
Cruzando a Epitácio e deixando a Cruzada para trás, posso observar à direita uma casa de doces, e logo após a mesma, uma casa de ferragens ou algo assim. À frente, passando por um sinal, o ônibus vira à direita e “cai” na Rua General San Martin.
Agora entramos numa área quase que exclusivamente residencial. São muitas ruas e transversais que cortam a San Martin, e muitos prédios pelo caminho. O comércio é pouco: temos uma loja de decoração, uma academia, dois restaurantes, um colégio e uma loja de roupas.
É o fim da viagem: cruzamento da San Martin com a Rua Bartolomeu Mitre. Logo ali na frente já posso ver a Praça Antero de Quental, que é o meu ponto final. Fico de pé, ajeitando a calça que entrou na bunda (afinal foi uma viagem de 1h05), jogando a mochila sobre as costas e apertando aquele botão que gera um ruído estranho e faz o ônibus parar no próximo ponto.
Desço, enfim. Estou em casa, ou melhor, quase; ainda tenho que andar longínquos 10 minutos.
O 433 é o ônibus mais esquisito do mundo: ele pega um pouco do caminho de todas as linhas que vão de Vila Isabel e Grajaú para o Leblon e vice-versa. O caminho da Rua D. Zulmira até a Haddock Lobo é feito pelos ônibus 438, 438 rápido e 432; já o da Haddock ao Sambódromo é feito pelo 432. O 435 pega a Rua Frei Caneca também, passando pela frente do Sambódromo.
O caminho da Rua do Riachuelo até a praça Cardeal Arcoverde é feito pelo 464 e pelo 432. Da Cardeal até o Leblon é que ele se torna meio “único”. Mas é estranho, ao menos pra mim, ele ter um pedacinho do caminho de cada um dos outros ônibus e ser mais rápido do que a grande maioria deles. Nunca vi uma volta tão grande que fizesse um ônibus ser mais rápido do que os seus “concorrentes”.
Essa foi mais uma edição da...

Crônica Bizarraaaaaaaaaaaaaaaa!

Té a próxima! =)