O lugar está basicamente deserto. Só o porteiro. Não preciso temer.
Aperto o botão do elevador e espero alguns instantes. Quando ele chega, eu entro. Aperto o botão do andar, a porta se fecha, e o elevador segue o seu destino.
Chega ao destino, a porta se abre novamente. De longe, escuto o barulho da música vibrante, das pessoas se mexendo freneticamente, em movimentos ritmados. O chão está cheio de latas de cerveja, totalmente inundado pela mesma; esse estranho líquido amarelo, que ninguém lembra como começou a beber, não sabe porque bebe e não sabe quando vai parar. Ninguém também sabe como tanta cerveja foi parar no chão.
A festa pulsa: as pessoas conversam, falam, se mexem, riem, caem de bêbadas, esmurram a porta do banheiro querendo mijar, falam merda, xingam, mandam os outros para vários lugares, chegam nas outras, beijam, colam, ficam junto, dançam, falam da própria vida, quem sabe, fazem planos para o futuro.
Estou fora de toda essa pulsação.
Fora, totalmente fora. Estou observando a festa de fora, amassando as latas de cerveja no chão, chutando-as a um canto, perseguindo os conhecidos, tentando manter um contato verbal, que seja. Mas é inútil. Não faço parte dessa pulsação. Aqui não é meu mundo, esse não é meu lugar, essas não são as minhas ações. Não esmurro porta de banheiro, não sou de xingar, não sou de beber líquido amarelo desesperadamente, não sou...não sou de conversar com quem eu não conheço, nem de levar uma conversa mais além. Sabe-se lá porque.
Como reação óbvia, me afasto de tudo isso. Vou embora, sigo pro outro lado do lugar, onde não tem ninguém. Aqui o silêncio impera; o barulho da festa ficou longe, distante, apenas alguns ecos.
Lá embaixo, a rua. Lá em cima, as estrelas.
A vida real não é a ficção. Se isso fosse um filme, talvez eu perguntasse às estrelas qual o meu problema, e no instante seguinte, saberia a resposta. Ou ela viria por trás de mim, ou passaria pela minha frente.
Mas isso não é um filme. Ainda assim, eu pergunto. Como já era de se esperar, não tenho resposta. E fico dizendo “seu imbecil, isso não é um filme, a poesia está no que se vê do céu, mas não está na pergunta, nem na resposta, simplesmente porque essas...não existem de fato”.
E sento no chão, e dá vontade de chorar. E eu digo “que merda, eu sou o último, o último, tenho problema e não sei qual é. Ou não tenho e fico tentando arrumar um. Foda-se, na prática é a mesma coisa., o resultado é o mesmo: permaneço aqui, estático, e não avanço. E o mundo é sempre um lugar à parte. E eu não sei mais o que fazer. E chorar não adianta, mas meus instintos falam mais alto.”
Só que o céu não é estrelado, nem escuro. Muito pelo contrário: o sol está bem alto no céu, e o dia é de um céu azul de brigadeiro, com algumas nuvenzinhas aqui e ali. E há passarinhos voando, e pessoas circulando na rua.
E continuo triste.
A festa vive para sempre. Eu não.
O vazio do quarto/É o avesso da festa/É o avesso do vício/De te namorar...
Vou sair por aí/Meu amor vamos nessa/Que o tempo/Não espera/A vida passar
Daniela Mercury, “Vem Morar Comigo”
Monday, July 18, 2005
O avesso da festa
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