Monday, September 12, 2005

Senhor Vento

Desligou o telefone.
Estava sem chão. Os olhos, cheios de lágrimas.
Ainda tonto, se ergueu da cadeira, e caminhando torto, seguiu até a janela.
Ficou olhando a vida lá fora.
Olhando é maneira de dizer: os olhos estavam lá fora, mas a mente não.
Levou a mão aos olhos, enxugando as lágrimas que teimavam em rolar pelo rosto, e começou a soluçar alto.
Recuou. Não queria que ninguém ouvisse. Não queria ter que dar maiores explicações. Passou o soluço para um tom mais baixo.
E o choro foi ficando mais forte, e mais intenso.
Depois de alguns minutos, começou a sentir-se sufocado, com calor. Ar. Precisava de ar.
Abriu a janela, se mantendo no mesmo lugar, os olhos ainda marejados.
Sentiu o vento soprar forte, passando pelo rosto e refrescando.
A única coisa que queria era que aquilo fosse um filme, um desses filmes bobos que passam na televisão de vez em quando. Onde as coisas são mais fáceis. Onde os personagens conseguem as coisas sem esforço e ganham aplausos sem querer. Aí não estaria sofrendo tanto. Nos filmes, sempre há três pessoas.
Tudo é tão mais fácil.
Senhor vento, senhor vento que sopra, leve as tristezas embora.
Começou a rir da própria frase. Soava ridículo, infantil.
O vento não ia responder, muito menos levar algo embora.
Mas pelo menos o riso aliviara o soluço e as lágrimas.
Será mesmo que o vento não leva nada embora?
Senhor vento, senhor vento. Porque é que tudo tem que ser tão difícil e tão sofrido, hein?
Riu de novo. Soava mesmo ridículo. Resolveu fechar a janela.
Foi então que percebeu.
Não era mestre em direção de ventos, mas notou que aquele era um sudoeste, o conhecido vento da mudança.
Sim, o vento da mudança sopra...sopra para quem estiver disposto a senti-lo.
Do outro lado da rua, uma criança brincava, enroscada em seu velocípede, sorrindo, enquanto um homem – provavelmente o pai – também ria, entusiasmado.
A alegria pode estar em coisas tão simples...
Não acreditava que o vento pudesse responder, nem que levasse realmente as coisas embora.
Sabia apenas que refrescava.

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