Thursday, December 30, 2004
Há confusões que vêm...pela porta
— Bom dia — diz a mulher. — Espero ter chegado na hora...
— É, chegou até antes — diz o dono da casa, ainda com a porta entreaberta. — Pensei ter marcado nove horas...
— Pois comigo o senhor marcou oito e meia — diz a mulher, apressadamente.
— Não, quanto a isso, sem problema — diz o sujeito, abrindo a porta. — Mas eu jurava que quem viria seria um homem...
A mulher o olha com uma cara de interrogação.
— Algum problema? Porque se houver...
— Não, não, me desculpe — diz o dono da casa. — Entre, entre...
A mulher entra, observando a casa.
— E então, o que acha? — diz o homem.
— Acho do que?
— Da casa.
— Ah, sim, é bem grande — diz ela. — Deve dar um trabalhão pra limpar...
— De fato — diz o dono. — Um dia só para limpar...e ainda assim, é insuficiente. Mas vamos direto ao ponto?
— Vamos.
— Tá.
— Sim.
— E então?
— Então o que?
O homem parece perder um pouco da sua preciosa paciência.
— Diga logo.
— Dizer o que, senhor? O senhor é que tem que me dizer.
— Eu não, eu vou te pagar pra você dizer!
— Pra eu dizer? Pra eu dizer o que? O que o senhor quer que eu diga?
— O que você veio aqui dizer!
— E o que foi?
— Ora, como é que eu vou dizer, se quem tem que dizer é você?
— E como eu vou dizer, se o senhor não me perguntar o que quer que eu diga?
— E como EU vou dizer, se você não me disser o que tem que dizer?
— E como eu vou dizer, se o senhor não me dizer o que quer dizer quando diz que eu tenho que dizer?
— Ai...dai-me paciência! Olha, eu tô pagando muito, muito caro, pra você me dizer, ok? Sendo assim, diga logo, meu tempo é muito precioso!
— Mas o que o senhor quer que eu diga?!
— O que acha.
— Acho do que?
— Ora, da casa!
— Já disse, é muito grande.
— Mas, você gosta?
— Ah, sim, claro, é muito bonita.
— Mas, não acha que precisa mudar nada? Vamos, venha por aqui, ainda não te mostrei os outros cômodos! Os móveis...será que não precisa mudar um móvel, ou outro?
— O senhor tem filho?
O homem fica sem graça com a pergunta.
— Tenho, mas...
— Ah, então “ranca” tudo fora! Móvel é tudo ruim!
— Acha mesmo que os móveis são ruins?
— Ih, horrível. Principalmente com criança, sabe? Elas quebram tudo, ficam pulando, é péssimo. Eu, por exemplo...
— Mas, e da qualidade?
— Qualidade?
— É...você me recomenda móveis de melhor qualidade?
— Hein? Móveis...qualidade...ah, sim, sim, claro, como não? Móvel ruim é péssimo vive dando problema! Eu, por exemplo, já desisti de ter móvel, sabe?
— Não tem móveis?!
— Não! Móvel é horrível, ta sempre quebrando, sempre dando dor de cabeça, sempre deixando a gente na mão!
— E como faz então, sem móveis?
— Ando de ônibus, ora! Baratinho, sem dor de cabeça, nem nada!
— Não, não é disso que estou falando — diz o dono da casa, sem paciência. — Eu não estou falando de AUTOmóveis, estou falando de MÓVEIS, desses que a gente tem dentro de casa, desses que servem para decorar!
— Decorar?
— É!
— Ora, eu sei lá se esses negócios servem pra decorar! A única coisa que eu decorava eram as lições da escola rural, sabe? E hoje em dia eu continuo decorando!
— As lições?
— Não, as tarefas que cada patrão me manda fazer!
— Patrão?
— É, patrão.
— Peraí, tem alguma coisa errada aqui. Você disse...patrão?
— Eu disse? Ah, claro, eu disse!
— Não, você não disse.
— Ora, mas como não disse, se o senhor acabou de perguntar dizendo como se eu tivesse dito?
— Ora, mas como pode ter dito, se você disse que não disse quando eu disse que você tinha dito?
— Não, senhor, eu não disse que não tinha dito, eu tava tentando me lembrar se eu tinha dito, porque o senhor me disse como se dissesse que eu tivesse dito!
— AH, JÁ CHEGA! Você disse patrão!
— Tá vendo como eu disse?
O homem sacode a cabeça negativamente.
— Enfim, você disse. Tá bom. Mas por acaso você tem patrão? Pensei que trabalhasse sozinha!
— Não, claro que não! Como eu vou trabalhar sozinha, sem o patrão pra abrir a porta e me dizer o que eu devo fazer?
— Peraí, tem algo errado. Você não é decoradora!
— Como não?
— Ah, então você é! Que alívio! Há quanto tempo você decora?
— Ué, desde que entrei pra escola! Já não disse que tenho que decorar tudinho?
— Não é nada disso! Estou falando de decoradora, de decorar!
— E tem alguma decoradora que não decore?
— Não! Ai! Não é nada disso! Quero dizer...se você não faz decoração de interiores!
— Interiores?
— É!
— Ah...claro que sim, como não? To sempre decorando! O interior da casa da Dona Cíntia, por exemplo, é lindo. Tem um sofá branco...
— Eu estou falando de decoração...de interiores...mas não essa! Decoração...de pessoas que...decoram interiores...que dão dicas de como melhorar a aparência do ambiente interno da casa!
— Olha, pra melhorar a aparência, doutor, não tem nada melhor do que uma boa limpeza, sabe? Fica lindo! Eu, com um espanador...
— Peraí, você não disse espanador, disse?
— Sim, eu disse.
— Não, você não pode ter dito!
— Ih, vai começar o disse que não disse, doutor? Puxa, o senhor gosta de dizer, hein? Bom, chega de conversa, eu quero saber quanto ganho.
— Espera aí. Você não é decoradora. Quero dizer...você não trabalha com decoração de interiores! Opa...antes que comece a dizer que não disse, o que você faz da vida?
— Eu? Eu sou empregada doméstica!
— Empregada?
— É!
O homem começa a rir.
— Não acredito...uma empregada doméstica! Me desculpe, acho que tudo isso não passou de um sério engano.
— Engano?
— É! Eu não preciso de uma empregada!
— Não? O senhor não é o Seu Jorge, do 609?
— Sim e não. Quero dizer, aqui é o 609, mas eu não sou o Seu Jorge! Meu nome é Rogério!
— Mas é daqui mesmo, ó — diz a mulher, mostrando o endereço.
Rogério pega o papel, olha-o por um instante e então dá uma gargalhada.
— O que é?
— Seu Jorge mora no 906. Acho que a senhora leu o número de cabeça para baixo...
Não sei se foi engraçado, ou se vocês riram em algum momento, mas gostaria que me dissessem o resultado desse texto em vocês no link laranja aí embaixo – se riram, gostaram, acharam sem graça, enfim. Aquele abraço!
Wednesday, December 22, 2004
Labirinto
Olho; no alto, o céu; ao meu redor, as paredes cor cinza-metálico, com inscrições estranhas em alguma língua mais esquisita ainda.
Por toda a parte, só o que eu vejo são portas. Abro umas e outras, encontrando diversos tipos de salas e quartos. Alguns são desertos, outros têm objetos demais, outros estão impecáveis. Alguns estão perfeitamente organizados, enquanto outros são a pura imagem da desordem, e outros ainda são caóticos – habitados por uma série de ordens superpostas, ou seja, uma bagunça onde é possível não ficar perdido.
Abro e fecho portas, sem encontrar. Algumas portas estão trancadas; outras, emperradas. Há buracos nas paredes, e sempre existe a opção de passar ou não por eles. Passo por alguns, evito outros.
Pelo local, só se vêem os corredores vazios, o som da minha própria voz ecoando. Não parece haver ninguém em um raio de centenas de quilômetros.
A procura dura segundos, minutos, horas, dias, noites, semanas, e daí além. Nada. Canso-me de tantas voltas em círculos, de tanta procura desenfreada. Estou cansado; minhas pernas doem. Eu durmo e acordo e estou sempre no mesmo lugar. Tenho a impressão de que estou ficando mais velho, me aproximando (ainda) devagar de chegar ao final da vida, e ainda não achei. Por ora me pergunto se acharei, algum dia. Chegarei eu ao final da minha pobre vida sem que tenha conseguido encontrar?
Onde estou eu mesmo?
Saturday, November 27, 2004
O sonhador e o cotidiano
Os primeiros raios de sol atravessam a minha janela, passando pelas frestas da cortina; são seis e meia da manhã. Me viro de bruços, querendo dormir mais um pouco, e quando estou quase pegando no sono novamente, o despertador começa a tocar. Detesto alarme; coloquei uma música. Naquela manhã especialmente, acordei ouvindo “Hey Ya”, do grupo americano Outcast. Uma música ideal para despertar, sem dúvida...
Me levanto extremamente irritado, doido para ficar na cama mais um pouco. Estou com uma cara parecida com a do Garfield quando cai da cama na Segunda-Feira de manhã. Hora de ir ao banheiro, lavar o rosto, limpar os olhos e escovar os dentes.
Feito isso, hora de tomar café. Cafezinho simples, pão, queijo, uma xícara de café de ontem. Volto ao banheiro; hora do banho matinal.
Nada melhor do que um banho matinal, daqueles que relaxam e fazem a gente compensar o tempo que não dormiu, mas que eles nos atrasam, ah, isso sem dúvida. Perdi a hora; desligo o chuveiro rapidamente, saio, me enxugo, me visto o mais depressa que posso e saio, pegando as chaves do carro que estavam sob a mesa da sala.
Não moro longe; meia hora, vinte minutos, chego ao meu destino, se o trânsito estiver bom. No carro, tenho que estar atento a tudo o que acontece, mas a minha cabeça não está.
Que saco essa rotina. Tempo igual, vida igual, tudo igual. Hora que passa do mesmo jeito, segundo que corre da mesma forma, minuto eternamente igual. Tudo, tudo, tudo do mesmo jeito. Estou cansado – cansado de não fazer nada, cansado da rotina. A vontade é mudar o curso do carro e ir para algum lugar onde eu possa sentar, quem sabe uma praça.
Iria para a praça e estacionaria o carro ali. Algumas crianças iam brincar pelo lugar; não, não ia haver perigo algum. Babás iriam dar voltas na praça e conversar umas com as outras; senhores simpáticos, de calça xadrez, blusa azul e boina, iriam dar suas caminhadas na praça, passando pela igreja e fazendo o sinal da cruz. Sempre resmungando coisas como “o mundo não é mais como antigamente” e contando suas velhas histórias, velhas e belas histórias de um tempo que já não mais existe.
Eu ia me sentar num daqueles bancos de praça e ali permaneceria, quietinho. Jogaria o meu relógio o mais longe que pudesse e ia ficar sentado, sentindo o tempo passar devagarzinho, aquele ventinho gostoso de outono soprando de leve, levantando o cabelo da gente..
— Acorda, imbecil! Tá dormindo?
Voltando à realidade. O trânsito não perdoa mesmo, não se pode nem mais imaginar enquanto se dirige o carro!
Mundo real chato e cotidiano, das coisas que não mudam nunca...não agüento mais esse trânsito, esse caminho, essa vida...
Trabalho, aqui estou eu. Esse trabalho sempre estafante!
Entro estressado na minha sala, depois de pegar um elevador lotado. Exagero chamar de “minha”: é uma sala enorme, com algumas divisórias. Minha mesa é uma mesa pequena, perto da janela, e com certeza a mais bagunçada de todas!
Trabalha, trabalha, trabalha.
Lá embaixo, todo aquele movimento, todas aquelas pessoas passando, os carros, o ar meio poluído...melhor do que o do interior do escritório...e uma sensação de rotina, de prisão...
Podia eu estar lá embaixo. Sozinho, sem ninguém, ninguém mesmo. Uma parte vazia da cidade. Estaria andando. Jogaria o terno longe, tiraria a gravata, jogaria os sapatos ao vento, arremessaria o relógio o mais longe que pudesse e sairia caminhando. Não, também não existiria a violência. Andaria por onde fosse, calmo e tranqüilo, sem hora, tempo, nem razão.
— Acorda! Por acaso eu te pago pra ficar sonhando, é?
Chefe. Quer uma coisa mais na rotina do que chefe? Aquela pessoa que se comporta sempre da mesma forma, que te trata sempre do mesmo jeito, que vem com aquelas velhas idéias, que te conta centenas de vezes a mesma história. Coisa chata...
Sete horas, tá na hora de sair. Ufa. O mundo lá fora, enfim...
Estou mais estressado que nunca, esbravejando palavrões. Não me deixam mais sonhar, me tiraram o direito de sonhar. Merda. Eu não agüento mais essa rotina, essa vida, tudo igual, sempre igual. Ah, amanhã eu largo tudo. Não, não posso conceber. Não agüento isso. Vou procurar algo pra fazer, algo que me agrade mais...
Trânsito. Como eu odeio, sempre igual, sempre engarrafado, por onde quer que se vá. Sempre esse mesmo caminho...
Meus olhos se arregalam de repente, o estresse fica em segundo plano. Aquela é a Baía de Guanabara, muito iluminada, belíssima com suas luzes refletindo-se na água, e aquele vento batendo no rosto, e tudo mais...
Saindo do túnel, uma visão magnífica: a Lagoa, a Lagoa Rodrigo de Freitas, aquele espetáculo de luzes se refletindo na água, o ar de paz, aquela beleza toda...
Praia. Aquelas ondas batendo na areia, o vento forte, o coco gelado a qualquer hora...lindo, lindo, lindo.
Passo, o estresse volta. Bem menos pior, lógico, pois ver aquela imagem bela me deixou bem.
Trrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrriiiiiiiiiiiimmmmmmm...
Celular. É a Amanda. Não acredito! Uma conversa rápida, estou dirigindo. Sair? Claro.
Um barzinho, um violão, um copo, um sorriso, um beijo.
Estresse? Onde? Largar tudo? Não sei quem foi que disse isso alguma vez. Impossível ficar estressado diante desse sorriso, desses olhos que parecem me dizer muita coisa, daquele beijo que pára tudo ao redor. Impossível largar tudo, não dá, não posso, não me vejo fazendo outra coisa, tendo outra vida. Impossível ficar estressado diante de uma cidade que se revela tão bela, capaz de, com uma visão, levar um cidadão ao êxtase, a sentir uma felicidade e uma renovação que nenhum outro lugar do mundo seria capaz de proporcionar.
Volto para casa feliz, um enorme sorriso no rosto, a madrugada já alta, a felicidade fluindo por todas as partes do corpo.
Amanhã começa tudo de novo...
Friday, November 19, 2004
Gosto?
O café não tem o mesmo gosto de todos os dias. Está amargo, aguado, com gosto ruim. Muita água, muito açúcar, outro café em outra xícara, e nada. O café continua horrível.
Torrada de pão de forma com manteiga: horrível também. A manteiga não tem gosto de nada; o pão parece um tijolo.
Um chá, quem sabe. Horrível: água suja com açúcar.
07h30: hora de sair de casa.
A noite foi chuvosa: há poças d´água por todos os lados e a rua ainda está molhada. A rua está feia, triste, vazia; tem cheiro de abandono.
O ônibus que eu pego é habitado por insetos nada convenientes, com suas asas nojentas e sua mania de pousar em qualquer lugar. Horrível...
08h30: hora do primeiro cafezinho no trabalho.
Merda de café, esse, hein? Quem foi o imbecil que fez este café aqui? Porra, vou dar umas aulas pra ele de como fazer um bom café. Andem, me digam quem foi. O que? Eu?
Tento beber um chá, mas é de boldo. O gosto é amargo, horrível, a xícara está toda suja; quando acabo de beber, talvez por intencionalidade, talvez não, a xícara voa em direção ao chão, se espatifando toda.
12h30: Hora do Almoço.
Bosta de restaurante. A comida é gordurosa demais, há pouca variedade de pratos, o atendimento é péssimo, e esses garçons são pessoas esnobes demais. Já ignoraram meu pedido três vezes. Teria sido por causa do meu jeito manso?
A carne está dura, a comida está sem tempero, esse pastel encharcou de gordura, esse empadão está uma merda. Nunca mais volto nessa espelunca, onde almoço já há exatos 25 anos...
16h00: Hora do Lanche da Tarde.
Não houve, por motivos de força maior: esqueci o sanduíche em casa.
19h00: Hora do Lanche final.
Lanchinho em casa, bem parecido com o café da manhã. O pão continua um tijolo, a manteiga está uma merda, a caneca está toda suja, o café muito ralo. Quero alguma coisa decente; me trazem um bolo comprado, vagabundo, com gosto de aditivo químico industrial. Nesse bolo horrorível o maracujá passou longe...
00h30: Dormir.
A cama, ao menos, não tem inconvenientes, nem nada. Putz...
Quando é que eu vou arrumar uma tomada repelente contra mosquitos?
01h30: Acordar e pegar o telefone.
Merda, ela ainda não voltou de lá. Tenho que dizer pra ela que não vivo sem ela, que ela precisa voltar de qualquer jeito...
Insônia
Abro os olhos devagar e olho o relógio: uma e meia da madrugada. Lá fora, o vento assobia alto; a noite é úmida e fria.
Me viro na cama, tentando dormir; são quase vinte minutos sem sucesso algum. Perco a paciência, enfim; me levanto e vou até a janela, quem sabe estou tenso, se eu relaxar um pouco...
O vento continua assobiando, parece estar zombando de mim. Ou talvez não, talvez ele queira apenas me assustar, para que eu corra desesperado para debaixo das cobertas e fique lá, tremendo, enquanto o sono vem naturalmente.
Volto para a cama. Resolvo desligar o relógio, quem sabe assim eu consiga dormir. Começo a me virar de um lado para o outro, mil pensamentos fervilhando na cabeça: idéias, tristezas, mágoas, saudade. Tudo junto, tudo misturado, num “bolo mental” que parece fechar a porta da minha mente toda vez que o sono bate: toc, toc, toc.
A irritação vem em seguida, e só não é pior porque estou cansado demais para reações muito enérgicas. Sem contar que não ia adiantar. Jogar o travesseiro longe, por exemplo, não me ajuda a dormir. Me alivia no momento, mas é só, no instante seguinte vou precisar de mais alguma coisa para me aliviar. Se cada vez que quiser um alívio eu tacar alguma coisa, não vai sobrar m**** alguma no quarto.
Angústia, incertezas, medo, saudade, mágoa, sensação de traição, tudo junto, tudo vem reforçar o “bolo mental”. Deve ser quatro da manhã e continuo rolando na cama, sem dormir. Não quero ler nada, simplesmente não tenho paciência nem disposição para isso; quero dormir. Quero dormir. Quero dormir. Quero dormir...
O tempo continua passando. O sono também vai passando, mas bem longe de mim. Meu corpo exige descanso, mas a mente impede que o sono chegue. Rolo na cama, de um lado para o outro; me cubro, me descubro, me cubro, me descubro, me cubro, me descubro e aí acabo descobrindo que isso não ajuda a dormir.
Poderia levantar e beber leite, mas não acredito que leite ajude a dormir; portanto, continuo deitado, rolando na cama. Três minutos depois, começo a achar que tudo é válido, afinal não custa tentar. Mas cadê as forças pra ficar de pé depois de quase quatro horas em claro?
O vento já parou de uivar; deve ter ido lá naquele lugar onde faz a curva, e aí, quem sabe, pôde descansar um pouco. A mente trabalha continuamente. Merda. Isso não é hora de a mente trabalhar!
Tento dizer isso pra mente, que não quer aceitar. Quer que eu resolva tudo logo, afinal, se não resolver, não tenho ânimo. É fo...go, eu preciso, eu quero, EU TENHO QUE DORMIR. Mas eu simplesmente NÃO CONSIGO!
Os primeiros raios de sol atravessam a janela; devem ser seis da manhã. Tenho que levantar, preciso levantar, está na hora. Não, hoje não vou, vou ficar dormindo.
Não dá, o corpo não obedece a nenhum dos dois comandos. Está exausto pela falta de descanso, e ao mesmo tempo, não consegue descansar.
É impossível ficar de pé e mais impossível ainda ficar deitado. Merda. Será que consigo ficar sentado?
Tento. Caio de volta na cama, deitado, imóvel. Meu corpo trabalha a mil por hora, e ao mesmo tempo, pede descanso.
O desespero é tamanho que eu GRITO, GRITO, GRITO, GRITO, com toda a força dos pulmões...
Acordo.
Saturday, November 06, 2004
Só mais um 438 rápido
Todo dia é dia de 438 rápido, afinal não tem jeito mais rápido de chegar em casa. É quente e nem sempre muito confortável; é chato e nem sempre empolgante; é sonolento e fica sempre na mesmice do caminho, que se antes era novidade, agora já está ficando chato. Ainda assim é o melhor jeito de chegar em casa.
Outro dia subi no ônibus, e quando estava terminando de me acomodar na cadeira, alguém fez sinal fora do ponto. O motorista parou e abriu a porta; para a surpresa dos passageiros, um grupo enorme entrou. Daqueles jovens que vão à praia em grupo e pegam ônibus, e que você sabe só de olhar que irão fazer uma algazarra por todo o caminho. Ah, claro, sem esquecer que sempre sentam juntos, nos últimos lugares do ônibus.
Dito e feito. Da Tijuca até a Praça da Bandeira apenas conversaram em voz alta; quando o ônibus saía da Praça, começaram a cantar, dando um show variado e bastante brega que tornou a viagem diferente das outras.
Primeiro foi funk. Começaram pelo mais recente, de um estilo mais “romântico”, e foram voltando, indo até Claudinho e Buchecha. Cantaram tudo, passando pelas mais variadas músicas e duplas de sucesso.
Já na metade do Rio Comprido, a inspiração pra cantar funk cessou. Voltaram a conversar em voz alta, falando bobagens e rindo, com o ônibus todo olhando para eles, fazendo aquela cara de “ai, que saco”.
Começaram a cantar algumas músicas “neutras”, enquanto um deles, de voz mais alta e aguda, soltava besteiras a torto e a direito, fazendo as meninas rirem em coro. Daí para o brega foi um pulo: Br´Oz, pagode, samba e tudo mais que vocês possam imaginar.
Já no Jardim Botânico, a inspiração cessou de novo. O “agudo” voltou a falar suas besteiras, agora mais alto, fazendo o ônibus todo ouvir:
“CAIU! CAIU! CAIU! Caiu o preço da bananada...”
Atravessávamos a Rua Jardim Botânico em frente ao Jardim, e o motorista deu uma gargalhada com um comentário feito pelo grupo. A partir dali, os dois estabeleceram uma espécie de “pacto”:
“Ih, olha, o motorista. Ele tá rindo!”
“Ih, eh mesmo!”
“Ae, seu motô...”
O motorista deu mais uma risada, olhando o grupo pelo espelho retrovisor, enquanto o ônibus continuou avançando. Algumas pessoas olharam novamente para trás, enquanto o agudo soltou mais uma das suas:
“Não, não olhem pra gente com essa cara. A gente não fala com vocês, só com o ‘home’ lá...”
O grupo então resolveu emendar mais uma música, numa espécie de “saideira rodoviária”. Era uma música “clássica”, um daqueles hits românticos bregas. Terminada a música, alguém do grupo se ergueu e apertou o botão, pedindo que o ônibus parasse. Enquanto toda aquela turma descia, uma das meninas disse:
“Tchau gente, boa viagem para vocês. Desculpem a confusão, as músicas bregas...”
Pronto. Novamente o silêncio, a paz da viagem de todos os dias, o barulho do ônibus deslizando pela pista, o ruído dos carros lá fora, o vento uivando. Novamente o ônibus tranqüilo, sem barulhos. Novamente a sonolência, a monotonia e as mesmas paisagens de todos os dias, o mesmo caminho que já começa a me impacientar. Ei! Onde vocês estão indo, grupo musical do 438-rápido? Voltem aqui...venham continuar a cantar...voltaaaaaaa...é tão bom ter você ao meu lado...
Histórias de uma viagem de ônibus, sempre tão cheia de monotonias, novidades e paisagens urbanas de uma cidade belíssima.
Wednesday, November 03, 2004
Summertime
Summertime
Estamos todos aqui
Rodando na estrada deixa a cidade sumir
Sou de praia na marola
Será sempre assim
Agora vou embora
Vou pra longe daqui
Vi
Longe daqui
Roda na areia no mar
Harmonia na praia
Sintonizada com o som das águas...
Invadindo a areia
Molhando nossa alma a noite inteira (doideira)
Só quero o que é meu
Não quero mais pedir
Momentos sentimentos relacionamentos
Eu olho pro céu
Antes de ver cair
Não reconheço mais as ruas
Por onde eu cresci
A cidade não tem mais o jeito
Nem do tempo de quando eu nasci
Yeah, yeah
Summertime
Estamos todos aqui
Rodando na estrada deixa a cidade sumir
Sou de praia na marola
Será sempre assim
Agora vou embora
Vou pra longe daqui
Vi
Longe daqui
Roda na areia no mar
Harmonia na praia
Sintonizada com o som das águas...
Vivo
Vivo nessa selva de pedra
Vivemos sem sorrir
Vivo
Lutando por uma vida eterna
Que nunca vai existir
Summertime – Tihuana – CD “Ilegal”, ano 2000, Virgin Records.
Deixem o seu comentário (é só clicar na palavra em laranja logo abaixo do texto), um grande abraço e até a próxima...
Não incomoda ninguém
É meio-dia, mês de Outubro, sol à pino. Desço do ônibus e começo a caminhar; atravesso uma rua, duas. Estou passando por uma praça, e por um instinto da natureza, olho para a placa de rua, aquele poste que tem uma marca de propaganda na parte mais alta e duas placas, que apontam a direção e dizem o nome da rua.
Permaneço andando e olhando para a placa. A distância entre eu e o poste começa a diminuir, até que passo por baixo dele, mantendo o olhar para cima. Qual não é minha surpresa quando eu noto, tremeluzentes e translúcidos, fios de teia de aranha habitando a placa...
Sim, fios de teia de aranha. A sujeira mais elementar de todas, a mais fácil de limpar – basta passar uma vassourinha e pronto – ali, habitando aquela placa.
Alguns irão me chamar de maluco, pelo estranho ato de olhar uma placa de rua de baixo para cima. Outros dirão que é uma sujeira “que não tem problema”, afinal “ninguém vê”, “ninguém nota”, “não incomoda ninguém”.
Acho que esse “não incomoda ninguém” é exatamente a idéia que levou o Rio de Janeiro a um completo abandono, chegando ao estado lastimável que se encontra hoje: totalmente podre, com os cantos, as placas, as árvores, o mar, tudo habitado por fios translúcidos e tremeluzentes de teia de aranha, o símbolo maior do abandono.
Acho que esse “não incomoda ninguém” é a mesma idéia que permitiu que os traficantes de drogas crescessem e tomassem conta da cidade. Deixa eles lá na favela, vendendo a droga deles, não é verdade? Não deixa a polícia subir lá não, afinal só vai dar dor de cabeça. Deixa eles lá vendendo a sua droguinha, eles “não incomoda ninguém” mesmo, não é verdade? Aí vem o bandido assaltar na Zona Sul, na porta da mansão, e a classe média e média alta fica horrorizada, se perguntando o que pode ser feito e até onde a situação vai chegar. Enquanto “não incomoda ninguém”, vai longe, muito longe mesmo.
Acho que esse “não incomoda ninguém” é a mesma idéia que leva o prefeito a não consertar os buracos das ruas. Ah, os buracos “não incomoda ninguém”, não é mesmo? A mesma idéia que leva o prefeito a não trocar a iluminação das ruas, afinal, uma rua escura “não incomoda ninguém”. Se aproveitando que “não incomoda ninguém”, bandidos e pivetes fazem a festa, assaltando e roubando pessoas que trabalham, lutam, suam o mês inteiro para ganhar o seu dinheiro e comprar um sonho qualquer, e mal conseguem aproveitar o sonho, ele é levado embora com a ajuda de uma arma...
Realidades e histórias de uma cidade partida, cansada, combalida, arrasada, e principalmente, abandonada. Parece que os presidentes paulistas gostam de deixar o Rio arrasado, afinal o Rio sem dinheiro “não incomoda ninguém”. Fica lá, no canto, deixando a violência explodir, as finanças quebrarem, a cidade ficar entregue às baratas, o estado investir em assistencialismo barato. Deixa, deixa, dizem todos. Deixa ele lá abandonado, como um morador de rua que ergue o chapéu pedindo uma moedinha. Deixa ele quieto, abandonado, não cuida dele não, não se preocupa com ele não. Afinal, ele quieto, pedindo esmola, “não incomoda ninguém”.
Rafael Cavalcanti é aluno de jornalismo, e por enquanto, seus textos “não incomoda ninguém”...
Abaixo o assistencialismo garotinho
Polêmica à vista. Não tenho medo de fazer a seguinte afirmação:
SE EU FOSSE ELEITO GOVERNADOR, A PRIMEIRA COISA QUE FAZIA ERA SUMIR DO MAPA COM OS RESTAURANTES POPULARES DA ROSINHA.
Sim, dirão vocês, e seria linchado em praça pública. Seria chamado de “governador das elites”, de “traidor do povo”, de “safado”, “pilantra”, “filho da” e outros adjetivos nada agradáveis.
Sim, realmente, desconfio que isso fosse acontecer. O povo – e entendam “povo” aqui como a massa “falida” e sempre manipulada pelas elites – é imediatista. Não costuma pensar grande, não parece pensar no futuro. Quer soluções rápidas, agora, já, imediatamente, sem mais delongas (bonita essa expressão hein?).
Exatamente, quer soluções rápidas. Por exemplo, tem fome, quer comer.
Entendendo isso, o Governo do Estado inventou esse negócio de comida a R$ 1. Você vai lá, paga R$ 1 e come. Mata a fome.
Ótimo. No dia seguinte, volta, paga mais R$ 1 e come.
No dia seguinte, o mesmo ritual.
Dentro de um mês, está escravo do restaurante popular. Não tem sequer a chance de escolher onde comer; TEM que comer ali, é a única opção. A idéia de “matar a fome” acaba tornando o povo um escravo do governo. O povo continua pobre, miserável, sem emprego nem oportunidade. De barriga cheia, mas pobre.
Pobre vota sem pensar muito, dizem os políticos por aí. Não precisa de muita coisa para votar: basta um prato de comida. É, a Rosinha e o Garotinho se aproveitaram dessa “ferida” da sociedade e exploraram esse nicho. Resultado: uma explosão de popularidade.
O Restaurante Popular é uma idéia muito controversa e muito perigosa. Ele tem um lado até que importante, no sentido de que mata a fome; mas a longo prazo, ele se torna algo terrível, pois escraviza o pobre, o limita a uma opção, faz com que ele esqueça que um dia poderia escolher onde comer. Faz com que o pobre se esqueça da vontade de subir, de mudar a sua condição. Afinal, como dizem por aí, “barriga cheia, coração contente”.
Com o sucesso desta m...maravilhosa idéia, o governo resolveu criar a Farmácia Popular: remédios por R$ 1.
Ótimo. Não teria nenhuma crítica à farmácia, desde que se cuidasse dos hospitais públicos, principalmente dos estaduais. Afinal, de que adianta farmácia sem hospital, ora porra? Pra que remédio barato se é impossível conseguir um diagnóstico num hospital do estado? Essa idéia não parece ser um incentivo à automedicação?!
Basta ver o estado lastimável do HUPE, o Hospital Universitário Pedro Ernesto, onde não há sequer ALGODÃO. Falta dinheiro para comprar ALGODÃO. Para se ter uma idéia, os médicos chegam a arrancar pedaços da própria roupa para tapar os ferimentos. Duas semanas depois, o indivíduo volta com uma (desculpem o termo) puta inflamação, com o ferimento muito pior do que chegou, todo infeccionado.
O HUPE está arrasado, e o governo estadual faz o que? Cria Farmácias Populares. Isso não parece incoerência?!
Tem mais; existe o lado negro dessas “popularidades assistencialistas” do casal garotinho.
Para se ter uma idéia, ouvi há algum tempo atrás que cada refeição popular custa, para o estado, R$ 3. O indivíduo paga R$ 1, e o estado fica com o prejuízo de R$ 2. Quem você acha que paga esse prejuízo, hein? O dinheiro da saúde e da educação. É...
Não posso dizer que essa informação é 100% segura, mas suspeito que seja. A governadora retira dinheiro da saúde e da educação para manter e pagar os prejuízos das “popularidades assistencialistas”. Inclusive tentou aprovar um projeto de lei para que o “desvio” desses recursos fosse “permitido”.
É por essas e outras que eu sou contra as “popularidades assistencialistas” e o “assistencialismo garotinho” desses dois seres, que se julgam os donos do Rio de Janeiro. Querem transformar o nosso pobre estado num feudo, onde irão mandar e desmandar. Aliás, já fizeram isso. O assistencialismo cresce, enquanto o emprego desce; a educação continua péssima e a saúde no estado só piora.
Talvez eu esteja sendo muito radical defendendo aquela idéia inicial. Fica entre nós: vou fazer uma pequena mudança.
SE EU FOSSE ELEITO GOVERNADOR, UMA COISA QUE FAZIA ERA SUMIR DO MAPA COM OS RESTAURANTES POPULARES DA ROSINHA.
Posso estar sendo tendencioso demais ao escrever esse texto. Juro que busquei não ser, mas ao mesmo tempo, é difícil quando a gente busca defender um ponto de vista. É difícil assumir o ponto de vista do outro, ainda mais quando sua realidade parece tão distante, e não quis me arriscar nisso, temendo ser mal interpretado e acabar gerando um grau de tendência ainda maior. Não sei se esse texto foi muito “chutando a porta na cara” e menos “uma conversa onde eu quero te convencer”, talvez tenha sido. Ainda assumo muito esse estilo “porta na cara”, a minha maior luta é para amenizar isso ao máximo.
Um grande abraço, comentem por favor, e até a próxima.
Wednesday, October 06, 2004
Chuva
“Chuva / Só peço que caia devagar / Molhe esse povo de alegria / Para nunca mais chorar...”
Não sei se a música é assim. Também não sei quem canta, qual é o nome, o resto da letra, enfim. Mas essa parte é muito bonita.
A chuva tem duas versões: pode ser anunciada ou vir de repente.
A chuva anunciada é aquela em que a gente olha pro céu e vê as nuvens se juntando, escurecendo aos poucos, enquanto um vento frio começa a soprar. Dali a pouco começam a cair as primeiras gotas, geralmente muito finas; em alguns minutos, se tornam mais grossas e chove definitivamente.
A chuva de repente não tem necessariamente as nuvens escuras. De uma hora para outra começa a chover forte; os pingos caem do céu e batem com força no chão, fazendo aquele barulho que chama a nossa atenção. Todo mundo corre pra fechar as janelas, dizendo frases como “olha a chuva”, “tá chovendo”, “ih”, enfim.
“Chove chuva / Chove sem parar...”
Jorge Benjor
A chuva parece ser o choro das pessoas, parece ser a tristeza material que habita os corações e mentes, parece prever grandes tragédias ou mesmo perdas. Naquele domingo de 1998 em que o Brasil perdeu a final da Copa do Mundo para a França, caiu um temporal. Eu disse à minha mãe que era para lavar a alma do brasileiro; não sabia se por tristeza ou felicidade, e fui descobrir isso mais tarde. Nas outras duas finais em que vi a seleção ser campeã – 1994 e 2002 – os dias foram ensolarados, daqueles de céu azul e nuvens brancas no céu.
A chuva lava não só a alma, ela também lava as ruas, as calçadas, causa algumas enchentes, molha o rosto da gente, nos faz sair encasacados. Torna poéticos alguns dias que nada teriam de especial; muitas vezes, traz consigo um friozinho gostoso, daqueles ventos gelados que fazem a gente pegar um cobertor e desistir de sair de casa, preferindo ficar e ver um filme, ler, e...bem...outras coisas que se faz em casa num dia frio e de chuva, principalmente quando se está acompanhado.
As gotas de água que caem do céu podem nos fazer lembrar de alguém, de um fato, um acontecimento, podem nos trazer tristezas e alegrias. Não tem nada melhor do que ir para a janela e espiar a chuva caindo, nem que seja um pouquinho. Se for de dia, melhor ainda: dá pra notar o céu “plúmbeo” (= cor de chumbo ou simplesmente “cinza”), como diria o poeta Manuel Bandeira.
A chuva pode ser tudo isso ou pode não ser nada, dependendo do ponto de vista de quem olha. Minha avó, por exemplo, não vê nada disso na chuva. Acho que para ela a única vantagem é que molha as plantas e evita que estas morram de sede, e olhe lá.
Uma chuvinha para “molhar o povo de alegria” e “não deixar que ninguém chore mais” não ia nada mal. No momento atual que estamos vivendo, bem que precisamos...
Eh, chuva!
Monday, October 04, 2004
Domingo e Segunda, 3 e 4 de Outubro de 2004
A esperança venceu o medo e se transformou em desespero
A data eram duas: dias 6 e 27 daquele mês de Outubro de 2002. Primeiro e segundo turno das eleições nacionais para presidente, governadores, deputados e senadores.
Antes, algumas semanas antes, na propaganda do José Serra, a Regina Duarte (pra quem não sabe, foi uma atriz bem famosa por aquele ano e por muitos outros subseqüentes) apareceu dizendo que tinha medo. Medo de que, quando o Lula fosse eleito, tudo voltasse a ser como antes: a inflação explodindo, uma imensa recessão acontecendo, o país retrocedendo anos em seu desenvolvimento histórico e político.
A declaração de Regina gerou uma imensa repercussão na mídia e entre os políticos, muitos olhando aquilo de forma muito negativa. Como que rebatendo aquela idéia, Lula falava muito na esperança de um país melhor, que segundo ele, venceria todos os medos.
Naqueles dois dias, 6 e 27 de Outubro de 2002, e também no período entre turnos, a esperança pareceu predominar sobre o medo. Existia esperança nos olhos das pessoas, nas ruas, no rosto dos cabos eleitorais, nas seções de votação, no sorriso dos mesários. Pode ser que a esperança apareça em tudo quando a gente quiser ver, mas o fato é que ela estava por toda a parte.
Tirei meu título em 2002 especialmente para votar no Lula. Confirmei o voto nele duas vezes, e quando o resultado saiu, eu me senti bem como nunca. Finalmente um operário, um homem da esquerda, do povo, que trabalhou como meus pais e passou fome, que viveu a pobreza em sua essência, se tornava Presidente da República Federativa do Brasil.
Lula e seu vice, o José Alencar, fizeram um discurso logo depois da confirmação da vitória. Pegando o microfone, Lula disse, entre outras frases:
“Estou muito feliz. A esperança venceu o medo.”
Venceu realmente, mas parece ter sido a única vitória real da eleição de 2002. A partir de 2003, o governo Lula mostrou sua cara. Aliás, não precisou mostrar muito, pois era a mesma do governo anterior, o do Fernando Henrique. As políticas econômicas, as reformas, o modo de governar, tudo igual. Ainda é pior: o modo como trata os dissidentes do partido, como encobre escândalos e como faz política de maneira suja e deslavada.
Há quem ponha a culpa nas alianças que fez para chegar lá; há quem diga que foram as pressões dos mais poderosos; há quem diga...enfim. Diz-se muito: é a eterna necessidade do ser humano de colocar a culpa em alguma coisa. O fato é o seguinte...
...a esperança venceu o medo e se transformou em desespero. Desespero que leva à desesperança. A tarde fria e chuvosa de 3 de Outubro de 2004 parece contrastar com aquele Domingo de sol de dois anos atrás. O desânimo parece estar nos olhos das pessoas, nos candidatos, nos homens e mulheres que fazem boca de urna, na urna eletrônica, que é o símbolo maior da democracia do Brasil. O desânimo contrasta com a esperança de dois anos atrás, com um ciclo de idéias e sonhos que o governo do PT vai pisando e enterrando aos poucos. Onde está o pacto social? Onde está a farmácia popular sem ser populista? Onde estão a verdadeira reforma tributária, a verdadeira reforma política, a verdadeira reforma da previdência?
Nos olhos das pessoas. Naqueles olhinhos que tinham esperança e agora têm o desespero. Olhos que parecem pedir desesperadamente por todas essas mudanças, por todas essas políticas, por um pouco mais de atenção e carinho, e menos por políticas econômicas complexas.
A chuva de 3 de Outubro parece ser o choro do país, arrasado por descobrir que toda a esperança depositada em Lula tinha pouco fundamento.
O dia 4 de Outubro amanhece chuvoso, talvez como o resto das lágrimas que ainda faltam chorar, e depois começa a clarear. No início da tarde surge o sol, imponente. O que ele representa? Não sei. Parece ser tudo, menos aquela esperança de 2002. Pior de tudo é que o desespero não mobiliza as pessoas, que continuam vivendo como se nada tivesse acontecido, passivas ao mundo a sua volta.
Esperança igual à de 2002, nunca mais. Nunca mesmo. Pode-se votar com esperança, mas agora os eleitores de Lula em 2002 estarão sempre com o pé atrás, seja o candidato que for. Talvez se Gandhi levantasse do túmulo e viesse governar o país, aquela esperança retornaria. Caso contrário...
Rafael Cavalcanti é pseudo-jornalista
Friday, October 01, 2004
433, o ônibus mais esquisito do mundo
Bairro do Maracanã. Ah, esqueci, não existe o bairro do Maracanã. Vila Isabel, então. Ou, precisando um pouco mais, o início de Vila Isabel.
Rua Maxwell esquina com Rua Professor Manuel de Abreu: um ponto de ônibus. Lá estou eu, na frente de um enorme muro de pedra, com o sol quase à pino batendo no rosto, esperando um ônibus para ir para casa, no Leblon. São onze e vinte da manhã, e o movimento por ali já é intenso, em parte por causa do Hospital Universitário Pedro Ernesto, que fica próximo, e por causa de uma escola pública que fica em algum lugar da Rua Maxwell. Um dia ainda descubro exatamente onde...
A quantidade de ônibus que passa pela esquina é enorme; lá atrás, posso ver o 433 que vem dobrando uma esquina em alta velocidade. Resolvo pegá-lo: ainda é cedo, o trânsito ainda é bom e ele chega rápido. Ele passa pelo ponto; faço sinal e entro.
Depois de pagar a passagem, me sento numa janela do lado direito do ônibus e passo a apreciar a viagem. São ruas e mais ruas, esquinas, praças, viadutos, postos de gasolina, placas, pessoas circulando: é a vida na cidade maravilhosa, tentando sobreviver em meio aos muitos problemas.
O começo do passeio é pela Rua Dona Zulmira, logo depois de deixar o ponto. Em seguida o ônibus dobra à direita na Rua São Francisco Xavier, uma das maiores e principais da Tijuca. Elementos passam: um hospital, uma lanchonete fechada, supermercados, várias lojas de veículos, uma casa de comida japonesa, um alfaiate, um posto de gasolina, uma churrascaria que oferece salão para festas e parece estar sempre fechada, o Colégio Militar, o Colégio Pedro II, um curso pequeno. Mais adiante, um prédio onde se ensina Krav Magá (defesa pessoal israelense), uma loja de sucos, outra churrascaria, uma igreja; o veículo anda um pouco mais e é o fim da Rua São Francisco Xavier. O ônibus vira à esquerda e passa pelo Largo da Segunda Feira.
Agora é hora de atravessar a Rua Haddock Lobo, outra enorme rua que é outra muito importante para a Tijuca, sendo a continuação da Rua Conde de Bonfim. Só para se ter uma idéia, esta última atravessa praticamente todo o bairro...
Aqui é bem mais difícil descrever o que há de um lado e de outro, pois a rua é muito mais extensa. A vida parece pulsar através do mundaréu de gente que anda de um lado para o outro. O ônibus vai vencendo a rua, e eu continuo a observar o que dá: bancos, supermercados, postos de gasolina, vidraçarias, padarias, lanchonetes, bancas de jornal. São centenas de transversais e ruas menores que cortam-na; acho que quem não conhece os caminhos ficaria perdido.
Mais à frente há um cruzamento da Haddock Lobo com a Avenida Paulo de Frontin, no Rio Comprido. Nessa hora eu sempre desejo que o ônibus vire à direita e pegue o Túnel Rebouças para que eu possa chegar em casa mais rápido, mas eles preferem dar uma volta maior. Paciência, sigo adiante com ele...
Após cruzar a Paulo de Frontin, a Haddock Lobo segue firme, agora em direção ao Estácio. Ah, o Estácio, o “bairro onde não tem nada”, mais conhecido por ser “terra de malandro” e onde bem poucos sabem que nasceu o carnaval. A Haddock termina e o ônibus vira de leve para a direita, entrando na Rua Estácio de Sá. Olhando à esquerda, observo os prédios que compõem a prefeitura: minha mãe está ali, em algum lugar, trabalhando. Do lado direito existem bares, lanchonetes e outros pequenos estabelecimentos comerciais, e a vida continua pulsando com a grande quantidade de pessoas que caminham pelo pequeno espaço da calçada.
O ônibus segue sua viagem, passando pela Praça Reverendo Álvaro Reis e entrando na Rua Frei Caneca. Aqui não há muito o que se observar: do lado direito, logo no começo, noto um hospital, e do lado esquerdo, a praça, que por sinal tem um aspecto péssimo. O resto da rua parece ser feito de casas antigas, de um outro tempo e espaço.
Já no final da rua, à esquerda, fica o famoso sambódromo, ou se preferirem, Marquês de Sapucaí. É uma área um pouco mais árida, onde há bem menos gente caminhando. O ônibus segue adiante, fecha a passagem pela Rua Frei Caneca e adentra o Túnel Martim de Sá, que corta Santa Teresa e vai sair na Rua do Riachuelo.
Esse túnel tem um estilão antigo, de um corte na rocha bem esquisito, e grades dos dois lados para as pessoas poderem atravessá-lo a pé. Não me arriscaria, com toda essa violência, mas vejo gente por ali.
Geralmente o trânsito no túnel está lento, e hoje não é diferente. Depois de conseguir atravessá-lo, o 433 faz uma curva meio brusca para a direita e entra na Rua do Riachuelo.
Essa rua deve ter sido tão importante que virou bairro. Tanto é que pelo meio do caminho existe uma placa da prefeitura dizendo assim:
Urbcidade Riachuelo e Bairro de Fátima
Aqui também é muito grande o número de transversais que cortam a Rua. São muitos pontos ao longo do caminho, e o movimento essa hora da manhã é intenso. Olho no meu relógio: 11h55 minutos. Vinte minutos de viagem, estamos bem até agora.
O trânsito ajuda a fazer o tempo passar mais rápido enquanto eu continuo observando tudo: construções bem antigas, muitas casas baixas, muitas ladeiras, e como sempre, bancos, colégios públicos, padarias, supermercados, tudo funcionando junto e ao mesmo tempo.
Quase no final da rua existe um poste estranho, diferente, que não vi mais em nenhum outro lugar da cidade. Ele tem a parte superior bem diferente, toda vazada; não sei se aquilo é um poste antigo de iluminação, mas sempre me chama a atenção quando passo pelo Riachuelo.
Quando o ônibus passa pelo cruzamento com a Rua do Lavradio, sei que estamos quase vencendo mais uma etapa. Mais à frente existe um posto de gasolina; o ônibus passa rapidamente por ele e entra na Avenida Mem de Sá, na Lapa.
Passando por baixo dos famosos arcos o 433 chega ao Largo da Lapa, um dos principais pontos da noite carioca, para então entrar numa rua sem nome à esquerda e ficar parado no sinal. Não sei qual é o problema desse sinal, mas ele sempre está fechado quando eu passo.
Olho o relógio de novo: são 12h07, por enquanto dentro do prazo determinado.
A próxima rua é a Teixeira de Freitas, que é cheia de ônibus e vans circulando; passando por ela, o meu ônibus chega à Avenida Beira Mar, na Glória.
Essa avenida é esquisita, tem quatro ou cinco pistas, duas para ir e duas para vir, com canteiros enormes separando as pistas.
Voltando à minha incrível viagem de 433. O ônibus passa pela Avenida Beira Mar: Hotel Glória, memorial à Getúlio Vargas, prédio da extinta Rede Manchete. Acabou o centro e sua zona de fronteira: estamos na Praia do Flamengo, Zona Sul da cidade.
A praia do Flamengo também tem várias pistas para ir e vir. Do lado esquerdo existe uma área verde, com campos de futebol, árvores e espaços de lazer; do lado direito, prédios, prédios e mais prédios, com alguns estabelecimentos comerciais na parte de baixo.
O ônibus segue, passando por vários cruzamentos da Praia com outras ruas: Rua Silveira Martins, Rua Ferreira Viana, Rua Correia Dutra, Rua Buarque de Macedo, Rua Machado de Assis, Rua Almirante Tamandaré, Rua Barão do Flamengo e Rua Paissandu. Não, não sou um guia ambulante de cidades. Se eu fosse contar um pouco da história de cada bairro, este texto teria no mínimo oitenta páginas...
A Praia termina na Praça Cuauhtemoque. Só citei essa praça porque tem esse nome bem esquisito, reparem: Cuauh – tem – o – que. Ou “Curral tem o que”. Bah, isso não faz sentido nem interessa...
Voltando ao meu relato de viagem, que já passou por tantos estilos de descrever que está parecendo ser escrito por cinco pessoas diferentes, uma de cada vez. Er...isso não interessa também...voltando...
O 433 entra à direita na Avenida Oswaldo Cruz, que passa na frente do Morro da Viúva, esse belíssimo conjunto de prédios construídos pela ditadura para evitar a formação de novas favelas na região. Aqui é uma área estritamente residencial, e o movimento de pedestres é bem pequeno. Olho no meu relógio de novo: 12h15.
Finda a Avenida Oswaldo Cruz, chegamos à Praça Nicarágua, e estamos de volta à praia – dessa vez, a de Botafogo. A avenida que margeia o mar deste lado é a Avenida das Nações Unidas.
A vista da Praia de Botafogo, mais conhecida como Baía de Guanabara, é belíssima. Um espetáculo como poucos, um show de belezas naturais no coração do Rio. Num dia ensolarado como hoje, a água reflete a luz do sol, dando ao mar um tom azul escuro belíssimo. No mar, alguns barquinhos; no fundo, completando a belíssima paisagem, o Pão de Açúcar. Este é o morro mais famoso da cidade, empatando com o Corcovado, a Mangueira e o Dois Irmãos, que é a pedra onde fica a Rocinha.
Voltando. Aprecio o espetáculo por alguns minutos, enquanto o ônibus cruza a avenida em alta velocidade. A viagem está chegando ao fim...do bairro de Botafogo, claro.
Lá adiante, à esquerda e no alto, fica uma parte da antiga sede náutica do Botafogo, que parece ter a forma de um barco gigantesco. À direita, quase no túnel, um belíssimo centro comercial, num prédio em vidro todo espelhado. O ônibus aumenta a velocidade, fecha sua passagem pela Avenida das Nações Unidas e entra no Túnel do Pasmado, que atravessa o morro de mesmo nome.
O túnel vai sair na Avenida Lauro Sodré, que aqui no Rio já foi encurtada para “o Rio Sul”, porque passa pela frente do shopping de mesmo nome. Não me surpreenderia que daqui a algum tempo tivesse seu nome mudado para “Avenida Rio Sul”.
No início da Lauro Sodré, à esquerda, existe um shopping, e à direita um ponto de ônibus. Já estou cansado da viagem, com um calor que não conto pra vocês e doido pra chegar em casa depois de mais um dia de estudo e luta.
Mas ainda não terminou. À esquerda, quase chegando no próximo túnel, posso observar uma famosa casa de espetáculos, e um pouco depois, um posto de gasolina; em seguida, o tal shopping. Finda a Avenida Lauro Sodré.
O próximo passo é o túnel Engenheiro Marques Porto, mais conhecido como “Túnel Novo” que cruza o Morro de São João e vai sair em Copacabana. Botafogo também fica para trás em mais uma parte desta incrível e fantástica viagem; se chegou até aqui, parabéns, não sei como conseguiu ler esse negócio tão chato. Continue, por favor, eu vou continuar viajando com o meu ônibus.
Saindo do Túnel Novo, o 433 passa por uma pequena parte da Avenida Princesa Isabel, na fronteira de Copacabana com o Leme; já estou ficando cansado, agora doido pra ele correr a próxima avenida e me deixar logo em casa. A viagem tá legal mas tá cansativa. 12h22; geralmente ele chega em 1h no Leblon, hoje acho que não vai conseguir.
Depois da Princesa Isabel, o passeio continua pela Rua Barata Ribeiro, uma das principais de Copacabana e uma das maiores. Aqui existem diversas lojas de móveis, algumas lanchonetes, padarias e restaurantes; é outro lugar onde o movimento parece não cessar nunca. (Talvez às 4h30 da manhã cesse um pouco, mas...enfim...)
O ônibus passa pelo cruzamento da Barata com várias transversais e por fim chega à praça Cardeal Arcoverde, onde fica a estação do metrô. Dali ele pega a direita, fugindo ao lugar comum de todos os ônibus, e indo sair na Rua Toneleiro.
É, é ela mesmo, aquela rua onde quase mataram o Carlos Lacerda. Hein? Você não sabe quem foi o Lacerda? Não sabe como tentaram matá-lo? Um pouco de História do Brasil é bem útil, sabia?
Argh...vamos continuar. O ônibus entra na Tonelero, contornando a praça Cardeal Arcoverde, e então segue em alta velocidade pela rua, aproveitando que ela não tem um trânsito muito intenso. Passa por um colégio, um restaurante e então entra numa área estritamente residencial de Copacabana. Lá na frente o trânsito começa a ficar intenso e eu mais ainda, olhando o relógio de cinco em cinco segundos. Meio dia e vinte e cinco, dali a mais uns dez minutos devo estar descendo do ônibus.
Quase na esquina da Tonelero com a Siqueira Campos (outra rua bem importante para Copacabana) o trânsito fica lento, devagar quase parando. É que o túnel Major Vaz, que separa a Barata Ribeiro da Rua Pompeu Loureiro, está em obras pela expansão do metrô, e isso leva tempo. Tempo pra terminar a obra e tempo do motorista que pega engarrafamento. Tempo que eu não quero perder; já olhei o relógio três vezes nos últimos dois segundos.
Por fim, depois de passar o cruzamento da Tonelero com a Siqueira, vem o outro cruzamento, agora com a Figueiredo de Magalhães. Ali o trânsito não é muito melhor; passando a estação do metrô, que fica do lado direito e quase na esquina, o 433 atravessa o cruzamento e segue pela Barata. Mais alguns metros e, desviando heroicamente da magnífica obra do metrô, entra no Túnel Major Vaz.
Findo o túnel, estamos na Rua Pompeu Loureiro. A quantidade de ônibus aqui é menor, e isso dá ao motorista espaço para correr. Quase caio do banco com a arrancada que ele dá; estou quase arrancando é o banco onde estou sentado, tamanha é a ansiedade para chegar em casa. Vocês sabem, cansaço psicológico, teoria de Freud, enfim.
O ônibus passa por um bingo, pelo SESC, por um supermercado e pela sede do Corpo de Bombeiros. Já saindo da Pompeu, passa pela praça Corumbá, à esquerda, e entra no Corte do Cantagalo. Mais uma vez corre como um louco, literalmente, cortando o Cantagalo, e indo sair na Lagoa, na Rua Epitácio Pessoa.
Passa por baixo de um viaduto, faz a volta e pega o mesmo viaduto; vai sair na direção Ipanema-Leblon da pista da Lagoa. Aqui também não há muito trânsito e o motorista continua a correr, é praticamente um Ayrton Senna.
Passa por um bar, uma boate (obviamente fechada, à essa hora da manhã não me admira), um posto de gasolina e alguns restaurantes; lá na frente, já dá pra ver um clube famoso, aliás, muito bem freqüentado. O 433 atravessa o Jardim de Alah, ainda pela Lagoa, e pega uma entradinha à esquerda, próxima ao Clube Monte Líbano.
A Epitácio segue após a entradinha à esquerda, na frente do Monte Líbano. O ônibus segue pela rua, passando pela frente do conjunto habitacional carente conhecido como Cruzada São Sebastião. São 12h30, estamos completando 55 minutos de viagem; é uma boa marca, eu diria.
Cruzando a Epitácio e deixando a Cruzada para trás, posso observar à direita uma casa de doces, e logo após a mesma, uma casa de ferragens ou algo assim. À frente, passando por um sinal, o ônibus vira à direita e “cai” na Rua General San Martin.
Agora entramos numa área quase que exclusivamente residencial. São muitas ruas e transversais que cortam a San Martin, e muitos prédios pelo caminho. O comércio é pouco: temos uma loja de decoração, uma academia, dois restaurantes, um colégio e uma loja de roupas.
É o fim da viagem: cruzamento da San Martin com a Rua Bartolomeu Mitre. Logo ali na frente já posso ver a Praça Antero de Quental, que é o meu ponto final. Fico de pé, ajeitando a calça que entrou na bunda (afinal foi uma viagem de 1h05), jogando a mochila sobre as costas e apertando aquele botão que gera um ruído estranho e faz o ônibus parar no próximo ponto.
Desço, enfim. Estou em casa, ou melhor, quase; ainda tenho que andar longínquos 10 minutos.
O 433 é o ônibus mais esquisito do mundo: ele pega um pouco do caminho de todas as linhas que vão de Vila Isabel e Grajaú para o Leblon e vice-versa. O caminho da Rua D. Zulmira até a Haddock Lobo é feito pelos ônibus 438, 438 rápido e 432; já o da Haddock ao Sambódromo é feito pelo 432. O 435 pega a Rua Frei Caneca também, passando pela frente do Sambódromo.
O caminho da Rua do Riachuelo até a praça Cardeal Arcoverde é feito pelo 464 e pelo 432. Da Cardeal até o Leblon é que ele se torna meio “único”. Mas é estranho, ao menos pra mim, ele ter um pedacinho do caminho de cada um dos outros ônibus e ser mais rápido do que a grande maioria deles. Nunca vi uma volta tão grande que fizesse um ônibus ser mais rápido do que os seus “concorrentes”.
Essa foi mais uma edição da...
Crônica Bizarraaaaaaaaaaaaaaaa!
Té a próxima! =)