Thursday, November 05, 2009

O sonhador, o "talvez" e o mar

"Beijo, tchau".

Ela desligou e ele ficou ali, parado, estático, meio sem saber o que fazer. Tinha vontade de chorar, e ao mesmo tempo, raiva de si mesmo.

Ela não tinha ideia do quanto ele se dedicara. Comprara flores, chocolates. Fizera questão de mandar entregar, com direito à cartão e tudo. Ligara para ela várias vezes. Marcara tudo.

Sim, quando ela sofreu, da última vez, quem estava a seu lado? Ele. Todo o apoio, toda a atenção. Dias e dias de telefone, e-mails, MSN.

Agora, tudo parecia terminado, e olha que era antes mesmo de começar. Com o telefone em uma das mãos e o buquê na outra, não sabia direito nem o que fazer. O que pensar. Como reagir.

Não era a primeira, nem seria a ultima vez. Mas ele tinha a sensação de já ter visto aquele filme outras vezes. E não falava de uma, mas sim de várias.

Tinha vontade de chorar, raiva de si mesmo, angústia, aflição, desapontamento. E de novo aquela sensação de falta de sorte, de que tudo dava sempre errado...

Ainda meio sem saber o que fazer, guardou o telefone em um bolso e meteu a mão no outro, à procura das chaves. Achou. Tirou a chave, e ainda meio cambaleante, o buquê para baixo, seguiu até a porta da rua. Abriu, espiou dos dois lados e saiu.

Desceu, tentou passar rapidamente pela portaria, sem ser visto. Não deu: quase esbarrou com o porteiro. Ficou sem-graça, tentou disfarçar, deu a volta e abriu a porta da rua.

Sentiu o vento gelado bater em seu rosto e se sentiu um pouco melhor. Para onde, agora?

Não fazia ideia, não sabia. Foi quando se lembrou do mar. Quando era pequeno e estava triste, seu pai costumava levá-lo para ir ver o mar. O barulho das ondas, a água batendo na areia, tudo isso costumava acalmá-lo.

Sim, a praia. Tinha esse privilégio. Morava perto. E sentindo voltar um pouco da confiança, seguiu para lá.

Aquela hora, não havia ninguém. A noite já havia caído há tempos, e olhando no horizonte, via apenas a branca faixa de areia e o mar batendo com força.

Desceu dois degraus da escada que levava à areia, se sentou, botou o buquê de lado e ficou olhando o mar, ouvindo o barulho das ondas, sentindo aquele vento gelado bater no rosto.

Tentava pensar, mas era difícil continuar. Como um texto que chega a um ponto onde não se sabe para onde vai, ele também não sabia mais o que fazer. Tentava pensar, arrumar as ideias, mudar a mente, mas nada funcionava.

Talvez o problema fosse justamente esse: pensar demais. Quanto tempo havia perdido pensando em como conquistá-la...ela e todas as outras...quanto tempo pensara se lamentando por tudo o que acontecera...e quanta coisa deixou de fazer nesse meio tempo...

Largou o buquê ali mesmo, botou as mãos nos bolsos e começou a voltar para casa.

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