Aquele era um dia estranho.
Ele se lembrava que, quando saiu de casa, o dia estava cinza e nublado. Depois, fez sol. Em seguida, choveu e ventou. Agora estava sol e calor de novo.
Caminhando pela Avenida Rio Branco, se espremia em meio à multidão que passava pela Rua do Ouvidor para tentar chegar logo ao ponto do ônibus. Não que estivesse precisamente atrasado...mas estava cansado e queria chegar logo. Tinha a sensação que, se fizesse as coisas mais depressa, o dia passaria mais rápido e logo ele estaria em casa dormindo.
Em meio à multidão que circulava pela calçada, era difícil se mover rapidamente. O suor escorria por seu rosto, peito e braços, empapando a camisa pólo verde.
Ao cruzar a calçada para desviar de uma árvore, ele a viu.
Estava ali, em frente a uma galeria, com um bolo de panfletos na mão, tentando distribuí-los a quem passava. Vestia uma blusa branca justa e uma minissaia jeans, tinha os cabelos muito negros e cortados na altura do queixo. O rosto era de um ar muito simples, e ao mesmo tempo, muito forte, com dois belos olhos azuis brilhando quase que intensamente.
Ela não tinha sucesso em sua tarefa "panfletária": os pedestres, em meio ao corre-corre da hora do almoço, mal paravam para olhá-la.
Mas ele parou. De repente, esqueceu o cansaço, o calor, o corre-corre, a hora...e ficou ali, só observando.
Distraída, ela a princípio não percebeu nada. Mas, dali a pouco, ao se virar para tentar entregar um panfleto, seu olhar se cruzou com o dele. E os dois ficaram se observando. Tímida, ela sorriu discretamente e baixou o rosto, como se estivesse procurando alguma coisa no chão.
E ele continuou olhando fixamente, agora esboçando um leve sorriso, e foi se aproximando devagar, sem pressa nem preocupação, cruzando a avenida e desviando dos pedestres para olhá-la mais de perto. Já ela continuava a rir, sem-graça, e volta e meia o olhava...mas logo se distraía, baixava o rosto, voltava a distribuir seus panfletos.
Quando ele estava quase chegando perto dela, dois operários carregando uma enorme tábua de madeira atravessaram o caminho, tapando totalmente a visão.
Esperando pacientemente, ele teve vontade de quebrar logo a tábua para chegar do outro lado. Mas esperou. Aqueles segundos pareciam horas.
E finalmente, quando os operários passaram, levando sua enorme tábua...
...ela não estava mais lá.
Atônito, espantado e surpreso, ele olhou por todos os lados, procurando-a. Para onde ela teria ido em tão pouco tempo? Teria fugido? Se escondido? Mas como era possível...só haviam se passado alguns segundos, não, não era possível.
Enquanto isso, o tempo louco voltava a escurecer, e o vento anunciava uma nova chuva para muito breve...
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