Sempre me perguntei o que esse horário tem de mais. Sempre achei que ele era quase uma parte solta do dia - tipo manhã, tarde, cinco horas e noite.
Talvez o mais óbvio é que seja o horário em que muitas crianças saem do colégio. De uniforme, mochila às costas e companhia nem sempre agradável, circulam pelas ruas, pulando, correndo, brincando, seja sozinhas, com seus acompanhantes, umas com as outras, numa mistura de liberdade e a sensação de que logo estarão de volta no dia seguinte.
Em meio a tudo isso, o cheiro mais claro é o de pipoca. Aquela coisa meio óleo, meio sal, meio açúcar, meio doce, meio salgado, que pipoca de casa não tem e nunca terá. Aquele cheiro que sai de trás da lâmpada amarelada da carrocinha de pipoca, um eterno mistério - não existe pipoca melhor que a do pipoqueiro.
Em frente à padaria, o cheiro de pão às cinco da tarde é sempre muito claro. Não sei o que essa parte do dia tem de mais, mas parece que os cheiros ficam mais soltos. Nunca me ocorreu sentir cheiro de pipoca nem de pão ao passar as onze da manhã pela padaria/pipoqueiro. Mas se passar as cinco, lá estão eles.
Parece que as cinco horas há mais velhinhos caminhando nas ruas, mais cachorros com seus donos, mais gente voltando da praia, mais entregadores com suas bicicletas, mais carros circulando. Às vezes tenho a sensação de que todo mundo fica olhando o relógio, esperando dar cinco horas, para poder sair. Ou será que é só impressão minha?
Para quem não tem o privilégio da liberdade das ruas, do caminhar solto pelas calçadas, do ir e vir - é um horário propício para a prática do cooper, porque o sol já se foi e a noite não chegou - e encara o escritório, a repartição, a firma ou a empresa, cinco horas é o horário do "quase". Para quem entra cedo, então, é muito "quase": está "quase" na hora de ir embora, o trabalho está "quase" pronto, o dia está "quase" no fim, o happy hour é "quase" obrigatório, "quase" que eu não termino esse relatório antes do expediente...
E aos poucos, conforme os minutos passam, toda essa atmosfera vai se dissipando, e quando chega seis e meia, por aí, tudo começa a voltar ao normal...
Ou será que cinco horas é o normal e o resto do dia que é estranho?
Vai saber.
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