Transforme as resoluções de ano novo em resoluções de ano inteiro.
Deseje todos os dias a todos que você gosta, e a você mesmo, tudo que se deseja de bom em dezembro.
Viva mais o espírito do Natal nos aniversários, reuniões de amigos, encontros, passeios, viagens.
Ria mais, do mesmo jeito que você ri (ou costumava rir, ou pretende rir, ou tem vontade de rir) nas noites dos dias 24 e 31.
Organize festas, encontros, passeios e viagens com a mesma alegria do fim do ano.
Mande mais cartões a quem você gosta, mesmo que não sejam de Feliz Natal ou Próspero Ano Novo.
Deixe seus problemas um pouco de lado assim como na hora em que estouram os fogos no céu.
Brinde mais com os amigos, a família, os agregados, os conhecidos, os amores, os amantes, os amados.
Reuna mais a família em volta da mesa, mesmo que seja para uma simples conversa.
Dê mais sorrisos espontâneos, daquele jeito que se faz ao ver as crianças abrirem os presentes do Papai Noel.
Enfeite e arrume mais a casa, nem que seja com uma limpeza, do jeito que você faz quando o ano termina.
Ouça mais músicas especiais, em datas mais do que especiais (embora não seja preciso ouvir Bate o Sino no Dia das Mães).
Seja mais Papai Noel durante todo o ano, mesmo que seus presentes sejam um sorriso, um abraço, uma palavra de conforto...
Faça mais promessas, mas dê preferência às que você possa cumprir.
Descanse mais e mais gostoso, o quanto for possível, como você faz no primeiro dia do ano.
Se organize mais para evitar filas, trânsito e confusões, mesmo que seja no meio de abril em vez da véspera de Natal.
Renove todos os dias as esperanças e as expectativas assim como se faz em todo 31 de dezembro.
Use mais palavras e pensamentos positivos, daquele jeito que se faz quando o ano termina.
Lembre-se todos os dias, e não apenas quando novembro acaba, que o tempo está passando cada vez mais rápido.
Escreva e leia mais textos positivos de fim-de-ano...
Monday, November 30, 2009
Friday, November 27, 2009
Duvida
A dúvida o torturava.
Era como uma fagulha enfiada em sua cabeça, latejando, doendo, incomodando.
Vinha assim há dias, semanas, meses. O que fazer? Como fazer? O que dizer? Afinal, o que significava tudo aquilo? Como não pensar naquilo? Como não dar àquilo mais importância do que realmente tinha?
Não sabia. Se esforçava, lutava, procurava entender, mas não conseguia. E quando ele menos esperava, lá estava ela de novo, incomodando. Aumentavam aos poucos as dificuldades para se concentrar.
Tentava se distrair, mas era pior. Não entendia, não sabia como, não conseguia ver, perceber, enxergar. Tinha a sensação de que já conhecia o caminho, sabia por onde ir ou não ir, mas mesmo assim insistia na parte mais difícil, no pior atalho.
O que fazer? Como fazer? O que dizer? E o que não dizer? E se tentasse algo diferente? E se ficasse calado? E se não dissesse nada? E se agisse mal? E se algo acontecesse? E se algo não acontecesse?
Tentava relaxar, brincar, esquecer, mas era impossível. Às vezes se pegava olhando para si mesmo e dizia...afinal, quem sou eu? Esse sou eu? Por que de repente eu ajo desse jeito? E por que passo o tempo me perguntando as coisas? E por que não mudo? E por que o tempo passa e eu continuo o mesmo?
Às vezes sentia vontade de chorar, botar tudo para fora. Em outras, não sabia se isso era o mais certo, o mais indicado, se estava agindo bem...às vezes se sentia como uma criança mimada, que diante da dúvida, da dificuldade, começava a chorar e reclamar...
Às vezes se sentia mal por se fazer tantas perguntas, achar tantas dificuldades, viver de forma tão intensa. Tinha vontade de mudar, mas aí se perguntava: devo mudar? Devo me transformar? Em que, por que e para que? De que forma? E se vou para algum lugar, para onde, como, por que, para que e de que forma?
Não sabia, não sabia, não entendia, não conseguia ver o porque...mesmo que ele estivesse na sua frente...não aceitava, continuava duvidando, perguntando, questionando, indagando...
Como a dúvida era fria e cruel. Mas, às vezes, ele se perguntava...
...será que era dúvida mesmo?
Era como uma fagulha enfiada em sua cabeça, latejando, doendo, incomodando.
Vinha assim há dias, semanas, meses. O que fazer? Como fazer? O que dizer? Afinal, o que significava tudo aquilo? Como não pensar naquilo? Como não dar àquilo mais importância do que realmente tinha?
Não sabia. Se esforçava, lutava, procurava entender, mas não conseguia. E quando ele menos esperava, lá estava ela de novo, incomodando. Aumentavam aos poucos as dificuldades para se concentrar.
Tentava se distrair, mas era pior. Não entendia, não sabia como, não conseguia ver, perceber, enxergar. Tinha a sensação de que já conhecia o caminho, sabia por onde ir ou não ir, mas mesmo assim insistia na parte mais difícil, no pior atalho.
O que fazer? Como fazer? O que dizer? E o que não dizer? E se tentasse algo diferente? E se ficasse calado? E se não dissesse nada? E se agisse mal? E se algo acontecesse? E se algo não acontecesse?
Tentava relaxar, brincar, esquecer, mas era impossível. Às vezes se pegava olhando para si mesmo e dizia...afinal, quem sou eu? Esse sou eu? Por que de repente eu ajo desse jeito? E por que passo o tempo me perguntando as coisas? E por que não mudo? E por que o tempo passa e eu continuo o mesmo?
Às vezes sentia vontade de chorar, botar tudo para fora. Em outras, não sabia se isso era o mais certo, o mais indicado, se estava agindo bem...às vezes se sentia como uma criança mimada, que diante da dúvida, da dificuldade, começava a chorar e reclamar...
Às vezes se sentia mal por se fazer tantas perguntas, achar tantas dificuldades, viver de forma tão intensa. Tinha vontade de mudar, mas aí se perguntava: devo mudar? Devo me transformar? Em que, por que e para que? De que forma? E se vou para algum lugar, para onde, como, por que, para que e de que forma?
Não sabia, não sabia, não entendia, não conseguia ver o porque...mesmo que ele estivesse na sua frente...não aceitava, continuava duvidando, perguntando, questionando, indagando...
Como a dúvida era fria e cruel. Mas, às vezes, ele se perguntava...
...será que era dúvida mesmo?
Tuesday, November 17, 2009
O sonhador e a menina
Aquele era um dia estranho.
Ele se lembrava que, quando saiu de casa, o dia estava cinza e nublado. Depois, fez sol. Em seguida, choveu e ventou. Agora estava sol e calor de novo.
Caminhando pela Avenida Rio Branco, se espremia em meio à multidão que passava pela Rua do Ouvidor para tentar chegar logo ao ponto do ônibus. Não que estivesse precisamente atrasado...mas estava cansado e queria chegar logo. Tinha a sensação que, se fizesse as coisas mais depressa, o dia passaria mais rápido e logo ele estaria em casa dormindo.
Em meio à multidão que circulava pela calçada, era difícil se mover rapidamente. O suor escorria por seu rosto, peito e braços, empapando a camisa pólo verde.
Ao cruzar a calçada para desviar de uma árvore, ele a viu.
Estava ali, em frente a uma galeria, com um bolo de panfletos na mão, tentando distribuí-los a quem passava. Vestia uma blusa branca justa e uma minissaia jeans, tinha os cabelos muito negros e cortados na altura do queixo. O rosto era de um ar muito simples, e ao mesmo tempo, muito forte, com dois belos olhos azuis brilhando quase que intensamente.
Ela não tinha sucesso em sua tarefa "panfletária": os pedestres, em meio ao corre-corre da hora do almoço, mal paravam para olhá-la.
Mas ele parou. De repente, esqueceu o cansaço, o calor, o corre-corre, a hora...e ficou ali, só observando.
Distraída, ela a princípio não percebeu nada. Mas, dali a pouco, ao se virar para tentar entregar um panfleto, seu olhar se cruzou com o dele. E os dois ficaram se observando. Tímida, ela sorriu discretamente e baixou o rosto, como se estivesse procurando alguma coisa no chão.
E ele continuou olhando fixamente, agora esboçando um leve sorriso, e foi se aproximando devagar, sem pressa nem preocupação, cruzando a avenida e desviando dos pedestres para olhá-la mais de perto. Já ela continuava a rir, sem-graça, e volta e meia o olhava...mas logo se distraía, baixava o rosto, voltava a distribuir seus panfletos.
Quando ele estava quase chegando perto dela, dois operários carregando uma enorme tábua de madeira atravessaram o caminho, tapando totalmente a visão.
Esperando pacientemente, ele teve vontade de quebrar logo a tábua para chegar do outro lado. Mas esperou. Aqueles segundos pareciam horas.
E finalmente, quando os operários passaram, levando sua enorme tábua...
...ela não estava mais lá.
Atônito, espantado e surpreso, ele olhou por todos os lados, procurando-a. Para onde ela teria ido em tão pouco tempo? Teria fugido? Se escondido? Mas como era possível...só haviam se passado alguns segundos, não, não era possível.
Enquanto isso, o tempo louco voltava a escurecer, e o vento anunciava uma nova chuva para muito breve...
Ele se lembrava que, quando saiu de casa, o dia estava cinza e nublado. Depois, fez sol. Em seguida, choveu e ventou. Agora estava sol e calor de novo.
Caminhando pela Avenida Rio Branco, se espremia em meio à multidão que passava pela Rua do Ouvidor para tentar chegar logo ao ponto do ônibus. Não que estivesse precisamente atrasado...mas estava cansado e queria chegar logo. Tinha a sensação que, se fizesse as coisas mais depressa, o dia passaria mais rápido e logo ele estaria em casa dormindo.
Em meio à multidão que circulava pela calçada, era difícil se mover rapidamente. O suor escorria por seu rosto, peito e braços, empapando a camisa pólo verde.
Ao cruzar a calçada para desviar de uma árvore, ele a viu.
Estava ali, em frente a uma galeria, com um bolo de panfletos na mão, tentando distribuí-los a quem passava. Vestia uma blusa branca justa e uma minissaia jeans, tinha os cabelos muito negros e cortados na altura do queixo. O rosto era de um ar muito simples, e ao mesmo tempo, muito forte, com dois belos olhos azuis brilhando quase que intensamente.
Ela não tinha sucesso em sua tarefa "panfletária": os pedestres, em meio ao corre-corre da hora do almoço, mal paravam para olhá-la.
Mas ele parou. De repente, esqueceu o cansaço, o calor, o corre-corre, a hora...e ficou ali, só observando.
Distraída, ela a princípio não percebeu nada. Mas, dali a pouco, ao se virar para tentar entregar um panfleto, seu olhar se cruzou com o dele. E os dois ficaram se observando. Tímida, ela sorriu discretamente e baixou o rosto, como se estivesse procurando alguma coisa no chão.
E ele continuou olhando fixamente, agora esboçando um leve sorriso, e foi se aproximando devagar, sem pressa nem preocupação, cruzando a avenida e desviando dos pedestres para olhá-la mais de perto. Já ela continuava a rir, sem-graça, e volta e meia o olhava...mas logo se distraía, baixava o rosto, voltava a distribuir seus panfletos.
Quando ele estava quase chegando perto dela, dois operários carregando uma enorme tábua de madeira atravessaram o caminho, tapando totalmente a visão.
Esperando pacientemente, ele teve vontade de quebrar logo a tábua para chegar do outro lado. Mas esperou. Aqueles segundos pareciam horas.
E finalmente, quando os operários passaram, levando sua enorme tábua...
...ela não estava mais lá.
Atônito, espantado e surpreso, ele olhou por todos os lados, procurando-a. Para onde ela teria ido em tão pouco tempo? Teria fugido? Se escondido? Mas como era possível...só haviam se passado alguns segundos, não, não era possível.
Enquanto isso, o tempo louco voltava a escurecer, e o vento anunciava uma nova chuva para muito breve...
Monday, November 16, 2009
O vidro
Antigamente ele não existia.
Em seu lugar, não sei o que ficava exatamente...mas acho que era um tapume de madeira. Isso, antes mesmo de existir um banco naquele local.
No tempo que ele não existia - e poxa, nem faz tanto tempo assim - tudo era tão diferente. As ideias eram tão diferentes. A angústia do dia passado parecia mais real, e a ansiedade pelo dia seguinte, maior. De certa forma, as preocupações seguiam pelo mesmo caminho.
Talvez as coisas fossem mais surpreendentes, menos estáveis, como o ônibus que surgia de repente na curva. Pudera: aquele era um tempo de construir, mas sem muita noção do que. Era um tempo de plantar sem saber o que seria colhido...poético isso.
No tempo em que aquele vidro não existia, tudo era muito diferente. Ou será que era menos igual?
Não sei. Mas o fato é que o momento da chegada do ônibus era mais imprevisível. Ou será que era o horário que variava sempre?
Também não sei. Mas fato é que, em algum momento, surgiu o vidro, foi-se o tapume. E o horário passou a ser mais ou menos o mesmo. E a espera do ônibus mudou...ganhou uma ajuda, um apoio. Agora já dá pra ver quando ele surge na curva, lá adiante, e a expectativa aumenta...
Será que um dia olharei para trás e direi o mesmo de hoje?
Em seu lugar, não sei o que ficava exatamente...mas acho que era um tapume de madeira. Isso, antes mesmo de existir um banco naquele local.
No tempo que ele não existia - e poxa, nem faz tanto tempo assim - tudo era tão diferente. As ideias eram tão diferentes. A angústia do dia passado parecia mais real, e a ansiedade pelo dia seguinte, maior. De certa forma, as preocupações seguiam pelo mesmo caminho.
Talvez as coisas fossem mais surpreendentes, menos estáveis, como o ônibus que surgia de repente na curva. Pudera: aquele era um tempo de construir, mas sem muita noção do que. Era um tempo de plantar sem saber o que seria colhido...poético isso.
No tempo em que aquele vidro não existia, tudo era muito diferente. Ou será que era menos igual?
Não sei. Mas o fato é que o momento da chegada do ônibus era mais imprevisível. Ou será que era o horário que variava sempre?
Também não sei. Mas fato é que, em algum momento, surgiu o vidro, foi-se o tapume. E o horário passou a ser mais ou menos o mesmo. E a espera do ônibus mudou...ganhou uma ajuda, um apoio. Agora já dá pra ver quando ele surge na curva, lá adiante, e a expectativa aumenta...
Será que um dia olharei para trás e direi o mesmo de hoje?
Monday, November 09, 2009
Cinco horas
Sempre me perguntei o que esse horário tem de mais. Sempre achei que ele era quase uma parte solta do dia - tipo manhã, tarde, cinco horas e noite.
Talvez o mais óbvio é que seja o horário em que muitas crianças saem do colégio. De uniforme, mochila às costas e companhia nem sempre agradável, circulam pelas ruas, pulando, correndo, brincando, seja sozinhas, com seus acompanhantes, umas com as outras, numa mistura de liberdade e a sensação de que logo estarão de volta no dia seguinte.
Em meio a tudo isso, o cheiro mais claro é o de pipoca. Aquela coisa meio óleo, meio sal, meio açúcar, meio doce, meio salgado, que pipoca de casa não tem e nunca terá. Aquele cheiro que sai de trás da lâmpada amarelada da carrocinha de pipoca, um eterno mistério - não existe pipoca melhor que a do pipoqueiro.
Em frente à padaria, o cheiro de pão às cinco da tarde é sempre muito claro. Não sei o que essa parte do dia tem de mais, mas parece que os cheiros ficam mais soltos. Nunca me ocorreu sentir cheiro de pipoca nem de pão ao passar as onze da manhã pela padaria/pipoqueiro. Mas se passar as cinco, lá estão eles.
Parece que as cinco horas há mais velhinhos caminhando nas ruas, mais cachorros com seus donos, mais gente voltando da praia, mais entregadores com suas bicicletas, mais carros circulando. Às vezes tenho a sensação de que todo mundo fica olhando o relógio, esperando dar cinco horas, para poder sair. Ou será que é só impressão minha?
Para quem não tem o privilégio da liberdade das ruas, do caminhar solto pelas calçadas, do ir e vir - é um horário propício para a prática do cooper, porque o sol já se foi e a noite não chegou - e encara o escritório, a repartição, a firma ou a empresa, cinco horas é o horário do "quase". Para quem entra cedo, então, é muito "quase": está "quase" na hora de ir embora, o trabalho está "quase" pronto, o dia está "quase" no fim, o happy hour é "quase" obrigatório, "quase" que eu não termino esse relatório antes do expediente...
E aos poucos, conforme os minutos passam, toda essa atmosfera vai se dissipando, e quando chega seis e meia, por aí, tudo começa a voltar ao normal...
Ou será que cinco horas é o normal e o resto do dia que é estranho?
Vai saber.
Talvez o mais óbvio é que seja o horário em que muitas crianças saem do colégio. De uniforme, mochila às costas e companhia nem sempre agradável, circulam pelas ruas, pulando, correndo, brincando, seja sozinhas, com seus acompanhantes, umas com as outras, numa mistura de liberdade e a sensação de que logo estarão de volta no dia seguinte.
Em meio a tudo isso, o cheiro mais claro é o de pipoca. Aquela coisa meio óleo, meio sal, meio açúcar, meio doce, meio salgado, que pipoca de casa não tem e nunca terá. Aquele cheiro que sai de trás da lâmpada amarelada da carrocinha de pipoca, um eterno mistério - não existe pipoca melhor que a do pipoqueiro.
Em frente à padaria, o cheiro de pão às cinco da tarde é sempre muito claro. Não sei o que essa parte do dia tem de mais, mas parece que os cheiros ficam mais soltos. Nunca me ocorreu sentir cheiro de pipoca nem de pão ao passar as onze da manhã pela padaria/pipoqueiro. Mas se passar as cinco, lá estão eles.
Parece que as cinco horas há mais velhinhos caminhando nas ruas, mais cachorros com seus donos, mais gente voltando da praia, mais entregadores com suas bicicletas, mais carros circulando. Às vezes tenho a sensação de que todo mundo fica olhando o relógio, esperando dar cinco horas, para poder sair. Ou será que é só impressão minha?
Para quem não tem o privilégio da liberdade das ruas, do caminhar solto pelas calçadas, do ir e vir - é um horário propício para a prática do cooper, porque o sol já se foi e a noite não chegou - e encara o escritório, a repartição, a firma ou a empresa, cinco horas é o horário do "quase". Para quem entra cedo, então, é muito "quase": está "quase" na hora de ir embora, o trabalho está "quase" pronto, o dia está "quase" no fim, o happy hour é "quase" obrigatório, "quase" que eu não termino esse relatório antes do expediente...
E aos poucos, conforme os minutos passam, toda essa atmosfera vai se dissipando, e quando chega seis e meia, por aí, tudo começa a voltar ao normal...
Ou será que cinco horas é o normal e o resto do dia que é estranho?
Vai saber.
Algo sobre o Leblon
Leblon.
Meu bairro já não parece mais o mesmo. Não sei o que mudou nele, ou talvez em mim. Mas meus passos são mais firmes agora, seja lá o que isso signifique.
Essas ruas nunca pareceram tão iluminadas, nem tão largas. Ao mesmo tempo, aqui ainda é possível ouvir um pouco do silêncio, fugir da sensação de cidade grande, nem que seja por míseros dez segundos. Se tempo é dinheiro, cada segundo vale muito, muito...
A música nos ouvidos não permite que se pense demais, nem que o silêncio seja maior do que alguns segundos. O som relaxa, distrai, faz esquecer. A vontade que tenho é cantar junto, mas tenho que lembrar sempre de controlar o movimento da boca e perceber se estou cantando alto demais. Mais maluco do que o costume é algo que não pretendo parecer.
Ou talvez não. Que talvez se danem essas pessoas que, ao ver a boca mexendo, me lancem olhares recriminatórios, de censura, duros, frios, como que me mandando ficar quieto. Odeio olhar de censura. Não sei porque todos me vêem desse jeito. Será que não é normal alguém pensar alto, cantar alto?
Às vezes tento prender as ideias na cabeça, mas é muita coisa. Preciso falar, dizer. E nem sempre escolho os melhores locais para isso. Sim, não devo lá ser muito normal...muito menos por escrever um texto sobre isso...
Os passos seguem tranquilos e firmes, andando pelo Leblon, alguma coisa meio sem rumo, sem norte, mas ao mesmo tempo, com um objetivo bem claro. E lá vai a música. E o carro que passou. E mais alguém com um cachorro. E o brilho do sol que passa pelas árvores e ilumina os prédios.
Não sei porque tanto cinza, tanto preto. Às vezes me sinto em uma selva de concreto (onde foi que já li isso?). Há algo que me incomoda em tudo isso. Meu bairro mudou, perdeu o ar bucólico de alguns textos atrás. Tampouco tem as sombras, o silêncio e o vento da madrugada. Agora parece simplesmente um caminho pelo qual sigo para chegar em casa.
Onde estarão a poesia e a prosa perdidas? E aquele olhar bonito, plástico? E as livrarias? E sim, a praia, sempre ela...não, não ela, não aqui, não agora.
Não agora.
Meu bairro já não parece mais o mesmo. Não sei o que mudou nele, ou talvez em mim. Mas meus passos são mais firmes agora, seja lá o que isso signifique.
Essas ruas nunca pareceram tão iluminadas, nem tão largas. Ao mesmo tempo, aqui ainda é possível ouvir um pouco do silêncio, fugir da sensação de cidade grande, nem que seja por míseros dez segundos. Se tempo é dinheiro, cada segundo vale muito, muito...
A música nos ouvidos não permite que se pense demais, nem que o silêncio seja maior do que alguns segundos. O som relaxa, distrai, faz esquecer. A vontade que tenho é cantar junto, mas tenho que lembrar sempre de controlar o movimento da boca e perceber se estou cantando alto demais. Mais maluco do que o costume é algo que não pretendo parecer.
Ou talvez não. Que talvez se danem essas pessoas que, ao ver a boca mexendo, me lancem olhares recriminatórios, de censura, duros, frios, como que me mandando ficar quieto. Odeio olhar de censura. Não sei porque todos me vêem desse jeito. Será que não é normal alguém pensar alto, cantar alto?
Às vezes tento prender as ideias na cabeça, mas é muita coisa. Preciso falar, dizer. E nem sempre escolho os melhores locais para isso. Sim, não devo lá ser muito normal...muito menos por escrever um texto sobre isso...
Os passos seguem tranquilos e firmes, andando pelo Leblon, alguma coisa meio sem rumo, sem norte, mas ao mesmo tempo, com um objetivo bem claro. E lá vai a música. E o carro que passou. E mais alguém com um cachorro. E o brilho do sol que passa pelas árvores e ilumina os prédios.
Não sei porque tanto cinza, tanto preto. Às vezes me sinto em uma selva de concreto (onde foi que já li isso?). Há algo que me incomoda em tudo isso. Meu bairro mudou, perdeu o ar bucólico de alguns textos atrás. Tampouco tem as sombras, o silêncio e o vento da madrugada. Agora parece simplesmente um caminho pelo qual sigo para chegar em casa.
Onde estarão a poesia e a prosa perdidas? E aquele olhar bonito, plástico? E as livrarias? E sim, a praia, sempre ela...não, não ela, não aqui, não agora.
Não agora.
Friday, November 06, 2009
Eu, a casa e o silêncio
Abri os olhos. Estava deitado de bruços sobre a cama, o rosto encharcado de suor. Nem um vento batia. Por uma fresta da janela, entrava um tímido raio de sol.
Me estiquei na cama, virei de barriga para cima e encostei a cabeça no travesseiro, também molhado de suor. Olhei o relógio na parede: quinze para as oito da manhã.
Era cedo ainda, meu desejo era dormir mais um pouco. Bocejei. Tentei fechar os olhos, pegar de novo no sono, mas nada. Não tinha mais vontade de dormir, embora tivesse sono. Ou seria o contrário?
Sem jeito, sentei na cama, me espreguicei, botei os óculos. Confirmei a hora e fiquei de pé.
Dei três passos até a porta do banheiro, entrei, fechei-a. Fiz minhas necessidades, lavei as mãos, o rosto, saí.
No silêncio da casa, apenas meus passos ecoavam. Todos dormiam profundamente, naquele estado de sono tão bonito de observar, de ver. Mas temo acordar as pessoas quando olho demais. Então voltei à cozinha, abri a porta e saí para o quintal.
Fazia um dia lindo, maravilhoso, de sol escaldante, céu azul sem uma nuvenzinha no céu. E nenhum barulho, nenhum ruído, nada. Na casa quase vazia, apenas o silêncio. Nem lembrava o mesmo cenário há três dias atrás.
Hoje é o dia
Eu quase posso tocar o silêncio
A casa vazia
Só as coisas que você não quis
Me fazem companhia...
Eu fico à vontade com a sua ausência...
A música do Capital Inicial veio, assim, discreta, sem pedir. Sem rádio, sem nada. Veio na cabeça. Era a síntese daquele momento tão estranho e tão singular. Só essa parte. Depois disso, perdia o sentido, a razão, a força...
Caminhando pela varanda de chão de madeira, me aproximei da mesa vermelha com quatro cadeiras em volta. A mesma que estava cheia e movimentada nos últimos dias. Agora não havia ninguém. Pelo chão, uma parte do jornal de domingo estava caída, suja, rasgada. Em uma das cadeiras, o resto do jornal. Lido, relido, remexido, agora já não servia para mais nada.
Em cima da mesa, já não havia nada. Minto: havia um pedaço de linguiça, um que caíra do prato no dia anterior, e que provavelmente não fora limpo. Curiosamente, não havia formigas em volta.
Deixei a mesa lá e fui me sentar no sofá, mais adiante. Olhar o céu. Pensar um pouco no que fazer. Era cedo para ir embora e tarde demais para ficar...
Depois de quatro segundos sentado, cansei e decidi fazer alguma coisa. Voltei ao quarto, enfiei a mão na mala e procurei o livro que havia trazido.
Quase pude lembrar das palavras de minha mãe dizendo que aquele livro era muito pesado para uma viagem tão curta, e que dificilmente teria tempo para lê-lo.
De certa forma, faltara tempo. Mas agora não. Agora tinha todo o tempo do mundo.
Voltei ao sofá, deitei e comecei a ler. Até que chegou a hora de ir embora.
Despedidas, beijos, abraços. E a casa ficou um pouco mais vazia...
Me estiquei na cama, virei de barriga para cima e encostei a cabeça no travesseiro, também molhado de suor. Olhei o relógio na parede: quinze para as oito da manhã.
Era cedo ainda, meu desejo era dormir mais um pouco. Bocejei. Tentei fechar os olhos, pegar de novo no sono, mas nada. Não tinha mais vontade de dormir, embora tivesse sono. Ou seria o contrário?
Sem jeito, sentei na cama, me espreguicei, botei os óculos. Confirmei a hora e fiquei de pé.
Dei três passos até a porta do banheiro, entrei, fechei-a. Fiz minhas necessidades, lavei as mãos, o rosto, saí.
No silêncio da casa, apenas meus passos ecoavam. Todos dormiam profundamente, naquele estado de sono tão bonito de observar, de ver. Mas temo acordar as pessoas quando olho demais. Então voltei à cozinha, abri a porta e saí para o quintal.
Fazia um dia lindo, maravilhoso, de sol escaldante, céu azul sem uma nuvenzinha no céu. E nenhum barulho, nenhum ruído, nada. Na casa quase vazia, apenas o silêncio. Nem lembrava o mesmo cenário há três dias atrás.
Hoje é o dia
Eu quase posso tocar o silêncio
A casa vazia
Só as coisas que você não quis
Me fazem companhia...
Eu fico à vontade com a sua ausência...
A música do Capital Inicial veio, assim, discreta, sem pedir. Sem rádio, sem nada. Veio na cabeça. Era a síntese daquele momento tão estranho e tão singular. Só essa parte. Depois disso, perdia o sentido, a razão, a força...
Caminhando pela varanda de chão de madeira, me aproximei da mesa vermelha com quatro cadeiras em volta. A mesma que estava cheia e movimentada nos últimos dias. Agora não havia ninguém. Pelo chão, uma parte do jornal de domingo estava caída, suja, rasgada. Em uma das cadeiras, o resto do jornal. Lido, relido, remexido, agora já não servia para mais nada.
Em cima da mesa, já não havia nada. Minto: havia um pedaço de linguiça, um que caíra do prato no dia anterior, e que provavelmente não fora limpo. Curiosamente, não havia formigas em volta.
Deixei a mesa lá e fui me sentar no sofá, mais adiante. Olhar o céu. Pensar um pouco no que fazer. Era cedo para ir embora e tarde demais para ficar...
Depois de quatro segundos sentado, cansei e decidi fazer alguma coisa. Voltei ao quarto, enfiei a mão na mala e procurei o livro que havia trazido.
Quase pude lembrar das palavras de minha mãe dizendo que aquele livro era muito pesado para uma viagem tão curta, e que dificilmente teria tempo para lê-lo.
De certa forma, faltara tempo. Mas agora não. Agora tinha todo o tempo do mundo.
Voltei ao sofá, deitei e comecei a ler. Até que chegou a hora de ir embora.
Despedidas, beijos, abraços. E a casa ficou um pouco mais vazia...
Thursday, November 05, 2009
O sonhador, o "talvez" e o mar
"Beijo, tchau".
Ela desligou e ele ficou ali, parado, estático, meio sem saber o que fazer. Tinha vontade de chorar, e ao mesmo tempo, raiva de si mesmo.
Ela não tinha ideia do quanto ele se dedicara. Comprara flores, chocolates. Fizera questão de mandar entregar, com direito à cartão e tudo. Ligara para ela várias vezes. Marcara tudo.
Sim, quando ela sofreu, da última vez, quem estava a seu lado? Ele. Todo o apoio, toda a atenção. Dias e dias de telefone, e-mails, MSN.
Agora, tudo parecia terminado, e olha que era antes mesmo de começar. Com o telefone em uma das mãos e o buquê na outra, não sabia direito nem o que fazer. O que pensar. Como reagir.
Não era a primeira, nem seria a ultima vez. Mas ele tinha a sensação de já ter visto aquele filme outras vezes. E não falava de uma, mas sim de várias.
Tinha vontade de chorar, raiva de si mesmo, angústia, aflição, desapontamento. E de novo aquela sensação de falta de sorte, de que tudo dava sempre errado...
Ainda meio sem saber o que fazer, guardou o telefone em um bolso e meteu a mão no outro, à procura das chaves. Achou. Tirou a chave, e ainda meio cambaleante, o buquê para baixo, seguiu até a porta da rua. Abriu, espiou dos dois lados e saiu.
Desceu, tentou passar rapidamente pela portaria, sem ser visto. Não deu: quase esbarrou com o porteiro. Ficou sem-graça, tentou disfarçar, deu a volta e abriu a porta da rua.
Sentiu o vento gelado bater em seu rosto e se sentiu um pouco melhor. Para onde, agora?
Não fazia ideia, não sabia. Foi quando se lembrou do mar. Quando era pequeno e estava triste, seu pai costumava levá-lo para ir ver o mar. O barulho das ondas, a água batendo na areia, tudo isso costumava acalmá-lo.
Sim, a praia. Tinha esse privilégio. Morava perto. E sentindo voltar um pouco da confiança, seguiu para lá.
Aquela hora, não havia ninguém. A noite já havia caído há tempos, e olhando no horizonte, via apenas a branca faixa de areia e o mar batendo com força.
Desceu dois degraus da escada que levava à areia, se sentou, botou o buquê de lado e ficou olhando o mar, ouvindo o barulho das ondas, sentindo aquele vento gelado bater no rosto.
Tentava pensar, mas era difícil continuar. Como um texto que chega a um ponto onde não se sabe para onde vai, ele também não sabia mais o que fazer. Tentava pensar, arrumar as ideias, mudar a mente, mas nada funcionava.
Talvez o problema fosse justamente esse: pensar demais. Quanto tempo havia perdido pensando em como conquistá-la...ela e todas as outras...quanto tempo pensara se lamentando por tudo o que acontecera...e quanta coisa deixou de fazer nesse meio tempo...
Largou o buquê ali mesmo, botou as mãos nos bolsos e começou a voltar para casa.
Ela desligou e ele ficou ali, parado, estático, meio sem saber o que fazer. Tinha vontade de chorar, e ao mesmo tempo, raiva de si mesmo.
Ela não tinha ideia do quanto ele se dedicara. Comprara flores, chocolates. Fizera questão de mandar entregar, com direito à cartão e tudo. Ligara para ela várias vezes. Marcara tudo.
Sim, quando ela sofreu, da última vez, quem estava a seu lado? Ele. Todo o apoio, toda a atenção. Dias e dias de telefone, e-mails, MSN.
Agora, tudo parecia terminado, e olha que era antes mesmo de começar. Com o telefone em uma das mãos e o buquê na outra, não sabia direito nem o que fazer. O que pensar. Como reagir.
Não era a primeira, nem seria a ultima vez. Mas ele tinha a sensação de já ter visto aquele filme outras vezes. E não falava de uma, mas sim de várias.
Tinha vontade de chorar, raiva de si mesmo, angústia, aflição, desapontamento. E de novo aquela sensação de falta de sorte, de que tudo dava sempre errado...
Ainda meio sem saber o que fazer, guardou o telefone em um bolso e meteu a mão no outro, à procura das chaves. Achou. Tirou a chave, e ainda meio cambaleante, o buquê para baixo, seguiu até a porta da rua. Abriu, espiou dos dois lados e saiu.
Desceu, tentou passar rapidamente pela portaria, sem ser visto. Não deu: quase esbarrou com o porteiro. Ficou sem-graça, tentou disfarçar, deu a volta e abriu a porta da rua.
Sentiu o vento gelado bater em seu rosto e se sentiu um pouco melhor. Para onde, agora?
Não fazia ideia, não sabia. Foi quando se lembrou do mar. Quando era pequeno e estava triste, seu pai costumava levá-lo para ir ver o mar. O barulho das ondas, a água batendo na areia, tudo isso costumava acalmá-lo.
Sim, a praia. Tinha esse privilégio. Morava perto. E sentindo voltar um pouco da confiança, seguiu para lá.
Aquela hora, não havia ninguém. A noite já havia caído há tempos, e olhando no horizonte, via apenas a branca faixa de areia e o mar batendo com força.
Desceu dois degraus da escada que levava à areia, se sentou, botou o buquê de lado e ficou olhando o mar, ouvindo o barulho das ondas, sentindo aquele vento gelado bater no rosto.
Tentava pensar, mas era difícil continuar. Como um texto que chega a um ponto onde não se sabe para onde vai, ele também não sabia mais o que fazer. Tentava pensar, arrumar as ideias, mudar a mente, mas nada funcionava.
Talvez o problema fosse justamente esse: pensar demais. Quanto tempo havia perdido pensando em como conquistá-la...ela e todas as outras...quanto tempo pensara se lamentando por tudo o que acontecera...e quanta coisa deixou de fazer nesse meio tempo...
Largou o buquê ali mesmo, botou as mãos nos bolsos e começou a voltar para casa.
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