Os lugares estão lá, mas os olhos, o olhar, não.
Parece que ainda posso ver. Caminhando pelos mesmos locais, ainda pareço escutar sua voz, lembrar do brilho dos seus olhos. E quem sabe, daquela risada a cada piada que eu fazia...
Mas não, agora é tarde. Não há mais ninguém. Só sobrou a estrutura. O restaurante, o bar, o ponto do ônibus, o posto de gasolina. O copo vazio...
Quantas vezes ele esteve cheio?
Não sei, perdi a conta. Foram muitas. Bastava ficar vazio para se encher novamente. Não chegava a ser um passe de mágica, não era tão assim. Era mais uma coisa automática, um movimento direto. Mas sem a contrapartida da repetição pós-movimento, como naquele velho filme do Chaplin...
E que importa? Agora só sobrou o copo vazio. Tem cerveja perto, mas não tem mais a mesma graça. Sem o brilho daqueles olhos, perdeu toda a graça. Sem carro, não tem combustível.
E aqui estou eu, sentado, sozinho, olhando o céu e a próxima estrela brilhando. Me sentindo estranho por pensar num texto tão poético, tão romântico, se há dúvidas se realmente acredito em tudo isso.
Se o tempo que passou realmente passou, e se vale a pena lembrar de todos aqueles olhares...
Eram apenas mais alguns, diante dos 2.354 que ainda vou encontrar pela vida. O copo ainda vai se encher muito. Ainda haverá muitos lugares, muias estruturas, que se tornarão mais do que isso...
Ah, como eu gostaria de acreditar nisso.
Sim, tudo continua como antes, mas parece que alguma coisa mudou. E sobre o que era o texto que eu estava escrevendo, mesmo?
Acho que era sobre alguém, alguma coisa, algum lugar...ou seria sobre o mistério do tempo? Ou sobre o copo de cerveja vazio?
Não sei. É hora de pedir a conta, o tempo acabou...
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