Wednesday, January 13, 2010

O Largo - parte II

O ônibus fez a curva na Rua Bento Lisboa e cruzou os últimos metros até chegar à frente da Igreja Matriz da Glória.

Seria coincidência? Parece que foi ontem (e não foi?) que escrevi sobre um certo Largo do Machado, e aqui estou eu novamente.

Os tempos, é claro, mudaram. Me levantei e desci do ônibus, desligando o MP3, e cruzei os três degraus até a calçada.

Por ali, uma família que à primeira vista parecia de mendigos. Não, não eram: era gente esperando o ônibus. Fui vítima do meu próprio preconceito. Isso era uma coisa que não existia no "velho Largo"...

Deixando essas ideias estranhas para trás, segui até o sinal e atravessei a rua, chegando à praça, esse local onde o Largo é mais Largo.

São seis horas, um dos meus horários preferidos. Daqueles onde não é mais dia e ainda não foi noite. Sob as luzes dos postes acesas, o movimento é intenso. Gente vai e vem. Pessoas conversam. Crianças brincam, velhinhos jogam cartas, trocadores pegam água, motoristas cospem no chão, estudantes seguem rumo a algum lugar que certamente não me dirão qual é.

A essa altura do campeonato, a velha galeria do Condor já acendeu suas luzes, assim como as lojas do outro lado da rua. E estou chegando mais perto do metrô. E há mais gente andando, correndo, falando...

Às vezes tenho a sensação de viver num mundo à parte. Como seria possível que, de um simples passeio, alguém caminhasse o tempo inteiro imaginando a cena, capaz de descrevê-la depois? Não sei, realmente, devo ser um caso raro de loucura.

Até porque esse último parágrafo não fez qualquer sentido. Ou não.

Mas a praça já chegou ao fim, e a hora é de atravessar a rua. Por fora. Esse não é um bom local para circular assim, como se tudo estivesse bem e nada fosse um problema. Aliás, não só aqui como em todo o Rio.

Deixando isso para lá, sigo em frente, até a hora de atravessar de novo a Rua do Catete. Esse é o ponto onde o Largo deixa de ser Largo e passa a ser alguma coisa que ninguém sabe bem o que é.

E não adianta perguntar à prefeitura, ela coloca no IPTU o bairro mais caro.

Enfim, muitos metros depois, o destino está selado. Agora é hora do primeiro chope...

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