A taça do mundo é nossa
Com o brasileiro
Não há quem possa
Eeta esquadrão de ouro
É bom no samba
É bom no couro
(Copas de 58 e 62, Suécia e Chile)
Escrevo às duas e quinze da manhã de 2 de julho de 2006. Para os que gostam de futebol e curtem a Copa do Mundo, o dia de ontem entrou para a história como aquele em que a teimosia, a insistência e o “futebol feio”, onde “o gol é detalhe” e “o show é ganhar”, levou um baile do futebol-arte, jogado com raça e com vontade. Perdemos. Estamos fora da Copa do Mundo da Alemanha. E diga-se de passagem, com muita justiça.
A França tem um time excelente? Não. Mas jogou melhor o tempo inteiro, com raça e com vontade, soube atacar, defender e jogar no contra-ataque. Já o Brasil repetiu os erros dos últimos quatro jogos: prendeu demais a bola, fez muita firula, não jogou com velocidade, não criou (me desculpem a expressão) porra nenhuma e ainda deu espaços para o adversário. Está aí o resultado: perdemos de novo para os franceses, nossos eternos carrascos em Copa do Mundo – além de 2006, eles ganharam também em 86 e 98.
Do lado brasileiro, há os piores e os melhores, claro. Cafu, Roberto Carlos, Juninho, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Adriano e Kaká não jogaram absolutamente nada. Com exceção de Juninho, não fizeram nada a Copa toda. Todos pareciam o Romário em seus últimos anos de seleção: quero a bola no pé para fazer o gol. Palmas para Dida, Lúcio e Juan, que salvaram o Brasil de perder para Croácia, Austrália e Gana, e hoje evitaram um desastre contra a França.
70 milhões em ação
Pra frente Brasil
No meu coração
Todos juntos vamos
Pra frente Brasil
Salve a seleção...
De repente é aquela corrente pra frente
Parece que todo o Brasil deu a mão
Todos juntos vamos
Pra frente Brasil, Brasil
Salve a seleção!
(Copa de 70, México)
Parreira perde. Ficou insistindo a Copa toda que o time que ele escalava era o melhor. Fingia não enxergar os erros da equipe. Ia deixando rolar, dizendo que se estava ganhando, estava bom. Deve ter esquecido que até agora só havíamos enfrentado cabeças-de-bagre, como aquela seleção de Gana que chutou 20 vezes a gol e não acertou nenhum.
Perde a torcida, que tanto vibrou e torceu pela seleção, que deixou de trabalhar, que decorou as ruas e que acreditou no time. Os jogadores não estão nem aí: a Copa acaba, eles pegarão seus carros, irão embora e nada acontecerá. Já estão com o bolso cheio de dinheiro e cheios de mulheres à sua volta. Ganhar Copa para que?
Nas entrevistas após o jogo, Kaká era o único que parecia triste e abatido. Ronaldo não estava nem aí. Cafu chegou a dizer, ao ser perguntado sobre a expectativa da torcida, que “nós em primeiro lugar, somos prioridade”. Juninho também estava triste, mas mandou um recado indireto à comissão técnica e ao grupo: é hora de um grupo deixar a seleção, é preciso que haja uma renovação.
Voa canarinho voa...
Mostra pra esse povo que és um rei
Voa canarinho voa...
Mostra pra esse mundo o que eu já sei...
(Copas de 82 e 86, na Espanha e no México)
Depois do jogo, fui dar uma volta – um amigo, algumas amigas dele e eu. Num tradicional bar do Leblon onde se comemoram as vitórias da seleção, havia movimento. Muito menos do que se o Brasil houvesse ganho, claro. E o clima era ruim, estranho. Claro que Parreira e sua mãe foram os mais insultados.
Saímos e voltamos depois. Surpreendentemente, o lugar estava mais cheio, mas o clima era pior. Havia um ar de confusão na atmosfera, como se alguém fosse se empurrar e uma briga generalizada piorasse o que já era ruim.
Fomos a um bar e voltamos depois ao tradicional ponto de comemoração, já por volta de 23h30. O lugar estava escuro, vazio. Os bares estavam fechados e os vendedores ambulantes recolhiam seus isopores. Havia gente ainda, mas muito poucos, e a maioria falando em ir embora. No chão, os restos da festa da derrota: garrafas de cerveja quebradas, latas amassadas, espetos de churrasquinho, papel, chapéus de bobo-da-corte amassados. Aqui e ali, brasas acesas, assando churrasquinhos.
Na torcida são milhões de treinadores
E cada um já escalou a seleção
O verde e o amarelo são as cores
Que a gente pinta no coração!
A torcida a galera se agita...
Dá um grito
Brasil é campeão!
O toque de bola
A nossa escola
Nossa maior tradição
Eu sei que vou
Vou do jeito que eu sei
De gol em gol
Com direito a replay
Eu sei que vou
Com o coração batendo a mil
É taça na raça Brasil!
(Copas de 1994 e 1998, Estados Unidos e França)
Em meio ao cenário estranho daquele ponto de comemoração, havia um cheiro horrível no ar, cheiro de cerveja jogada no chão. Circulando mesmo, só os garis, limpando a festa da derrota. Ficamos imaginando como o lugar estaria cheio se o Brasil tivesse ganho...mas lembramos que a realidade era outra e fomos embora.
Seja como for, não merecíamos ganhar. Já não vínhamos bem nos jogos anteriores e fomos castigados. O sonho de ser campeão fica para 2010, na África do Sul. Mas, não sei porque, estou achando que o hexa ainda não virá na próxima Copa...
Eu já passei por quase tudo nessa vida
Em matéria de guarida espero ainda minha vez
Confesso que sou de origem pobre
Mas meu coração é nobre, foi assim que Deus me fez
E deixa a vida me levar (vida leva eu)
Deixa a vida me levar (vida leva eu)
Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu
Só posso levantar as mãos pro céuAgradecer e ser fiel ao destino que Deus me deu
Se não tenho tudo que preciso
Com o que tenho, vivo
De mansinho , lá vou eu
Se a coisa não sai do jeito que eu quero
Também não me desespero
O negócio é deixar rolar
E aos trancos e barrancos, lá vou eu
E sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu
E deixa a vida me levar (vida leva eu)
Deixa a vida me levar (vida leva eu)
(Copa de 2002, na Coréia e no Japão – escolhida pelo técnico Luís Felipe Scolari e pelos jogadores).
No comments:
Post a Comment