Thursday, March 03, 2005

A espera

Estou aqui.
Melhor dizendo, continuo aqui. Estou sentado numa cadeira, diante da janela, olhando o movimento lá embaixo. Meu rosto exprime um pesar profundo, olheiras, marcas de cansaço, de derrota. Lá embaixo, um carro passa em alta velocidade pela poça, espirrando água para todos os lados. A chuva cai incessantemente; o vento não pára.
Me levanto; não adianta olhar pela janela, não vai voltar assim. Isso não vai trazer de volta, nem fazer com que as coisas mudem. Olhar a chuva caindo só vai me trazer mais aflição, mais saudade. O tempo parece que não passa nunca. Cada segundo dói mais e mais aqui no meu peito.
Parece que vejo sua imagem no reflexo do espelho, no reflexo do prato em que como, na superfície do líquido que vou beber. Vejo sua sombra em cada movimento, em cada canto da casa. Vejo seu jeito em cada coisa, em cada parte que ela arrumou. Tudo me lembra ela, absolutamente tudo.
Ah, vou embora, vou sair, mudar. Não posso continuar aqui nem mais um minuto, chega, tá doendo demais. Sei lá, talvez se eu puder fazer alguma coisa, puder amenizar isso.
Não, o que eu estou fazendo?
Penso bem e resolvo voltar pra janela. Fico olhando de novo o movimento, e mais um carro passar pela poça, esparramando muita água. O vento sopra mais forte dessa vez...
Até quando poderei continuar agüentando? E essa chuva que não quer passar? E continuo vendo sua sombra. Parece que a qualquer instante ela virá por trás de mim e irá me abraçar. Ah, porque não fui também?
Falta uma hora para ela chegar.

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