Hoje eu o vi pela segunda vez. Sim, não há dúvida: era ele, "o professor". O conheci já faz um tempo - não faz tanto tempo assim, mas, para mim, parece ter sido há séculos.
Seja como for, hoje eu vi o professor pela segunda vez, na mesma rua e no mesmo horário da semana passada, caminhando na mesma direção de sempre - eu indo, ele vindo.
Seu andar continua diferente de qualquer outro que eu já vi. É um andar lento, arqueado, pausado, e de uma simplicidade ímpar. E ele caminha com tal olhar fixo no horizonte que parece não se abalar com nada. Às vezes tenho a impressão de que, se um trem passasse diante de seus olhos, ele parararia com o mesmo olhar fixo, esperaria pacientemente a locomotiva passar, e retomaria seu andar calmo como se nada tivesse acontecido.
É visível que o mestre está mais velho do que naquela época. Seu rosto ganhou mais rugas, os cabelos parecem estar mais escassos, e com mais fios brancos do que cinzas; e o cavanhaque em forma de seta continua contrastando com a barba, que segue malfeita como sempre foi. Às vezes me pergunto se ele já fez a barba algum dia...
Suas roupas continuam chamando a minha atenção: ele anda com uma camisa aberta no peito, um casaco grosso...e bermuda e tênis. Nunca sei se o professor está com frio, com calor, ou um pouco de cada um. Ou se sai de casa com roupa de frio e de calor e escolhe na rua o que vai vestir.
Da mesma forma, seguem seus livros embaixo do braço direito, sempre parecendo mal seguros, como se a qualquer momento fossem se espalhar pelo chão. Mas não: todas as vezes em que o encontrei, ele sempre está com os livros bem firmes, e pelo pouco que pude acompanhar, nunca caíram.
Lembro que o professor tinha algumas manias estranhas, e ao mesmo tempo, invejáveis. Uma delas era não ter televisão em casa, e mais do que isso, não assistir televisão. Adoro TV e fico imaginando como alguém consegue viver sem ela, apenas entre livros, papéis de estudo e anotações. Não sei se ele tem computador com internet, mas desconfio que não. É algo fascinante e muito estranho. Como alguém consegue viver apenas lendo?
A outra mania era sair muito cedo para dar suas aulas. Se a aula era às dez, lá estava ele às oito e meia perto da casa do aluno. Lembro que encontrei com ele uma vez, e o cumprimentei. Conversamos um pouco, e eu disse: "Já vai?". E ele, apontando para uma galeria próxima: "Não, vou entrar aqui e ler um pouco, até a aula das três horas...". Olhei no relógio e eram meio-dia, mas achei melhor não dizer nada: me despedi dele e segui meu caminho.
Hoje, mais uma vez, tive o ímpeto de cumprimentá-lo, mas novamente travei. Sempre penso que ele não vai se lembrar de mim.
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