O barulho do motor da escova de dentes é sempre o último. Assim que ele termina, já sei: está na hora de sair.
Na verdade, não é uma questão de "saber": é uma questão de hábito. Hábito que começa com banho, vestir a roupa, pentear os cabelos, e por fim, escovar os dentes. E, claro, sair de casa para pegar o 110 e ir trabalhar.
A caminhada diária até o ponto não dura mais que dez minutos: coisa de atravessar três ruas e caminhar uns dez metros. O tempo de espera é absolutamente variável: pode levar entre cinco minutos e meia hora. Isso, quando não saio correndo atrás do ônibus, atravessando a rua esbaforido, tentando alcançá-lo enquanto ele ainda está parado no ponto.
Essa corrida tem dois efeitos interessantes: quando consigo pegar o ônibus assim, o alívio é enorme, e a sensação de sair logo do ponto é ótima. Mas, se ele vai embora antes que eu possa alcançá-lo, fica a frustração. Não dele ter ido embora, mas do fato de saber que o próximo costuma demorar um pouco.
A espera no ponto é outro capítulo à parte. Como o 110 é muito parecido com outro ônibus, o 460 - ambos são amarelos por fora - nunca sei qual deles está chegando no ponto, só quando se aproximam bastante. E como há mais 460 do que 110, é comum que eu passe um tempinho no ponto reclamando e dizendo para mim mesmo: "Mas nossa, quanto 460! De novo ele? Cadê esse 110 que não chega?"
Lá se vão quase cinco anos nessa rotina, com direito às mesmas frases todos os dias. E pensar que, em breve, tudo isso deve mudar.
Tomado o ônibus, é hora de ir trabalhar. Seguir pelo pouco que ainda resta do Leblon e entrar na Lagoa. Primeiro, em uma parte onde ainda não é possível ver o espelho d´água que dá nome ao bairro, e que inclui o Clube do Flamengo, uma academia de ginástica, o Parque dos Patins, o Clube Piraquê.
E, por fim, aos poucos e reluzente, surge a Lagoa. De uma beleza sempre ímpar (ou seria "par"?), é bonito em dia de chuva, em dia de sol, em outono, verão, inverno, enfim, seja como for. Por quase vinte minutos (um pouco mais ou menos, dependendo do trânsito), fica ele ali, à direita do ônibus, dando um pouco de beleza a mais um dia como outro qualquer.
Rotina. Ou não...
Depois vem o Túnel Rebouças, o Rio Comprido, e a virada na Rua Haddock Lobo para ir ao Estácio. Engraçado...esse lugar me lembra alguma coisa.
O ônibus então segue pelo Estácio, cruza a Rua Salvador de Sá, o Sambódromo, e o túnel Martim de Sá, rumo à Rua Henrique Valadares.
Fim do caminho e início de mais um dia de trabalho.
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