Se eu pudesse, dormiria agora, nesse instante, nesse momento, e viajaria até a Cidade do Sono.
Quem nunca foi não tem ideia de como é. Em uma definição bastante simples, não é um lugar nem bom, nem ruim...apenas calmo. Tranquilo. Sereno. Silencioso.
A Cidade do Sono é o mesmo Rio de Janeiro das praias, os trens, dos bares, dos subúrbios, do samba, dos arcos da Lapa; a diferença é que, por lá, não há gente circulando. Por mais que você ande, não há vivaalma nas ruas.
Nada, ninguém.
Nem carros, nem ônibus, nem caminhões, nada. Apenas os prédios, as casas, as ruas, tudo, como numa grande cidade fantasma. Da mais pura e rara beleza, como só o Rio consegue ser...mas sem ninguém. Sem gente.
Por lá, posso fazer o que mais gosto: andar e falar, mexer a boca, quem sabe, ao mesmo tempo, ouvir música. Sem olhares de reprovação, sem desprezo, sem gente que tenta me ver e entender o que estou fazendo.
Posso andar por todos os lugares, explorar e descobrir cada canto, cada pedaço, cada lugar; ouvir o silêncio mais puro e mais profundo, que às vezes soa ensurdecedor; mas, aí, basta gritar, falar alguma coisa, e quebra-se essa mágica. Sem réplica, sem resposta, sem ser internado como se fosse louco por gritar no meio da rua.
Se pudesse, iria até a Cidade do Sono e caminharia em um belo fim de tarde, com o sol começando a baixar, tomando um mate - sim, há mate na Cidade do Sono, não me perguntem como. Caminharia pelos Arcos da Lapa, me sentaria na grama ali perto, e ficaria olhando o horizonte. Assim, sem hora e sem trabalho - que também não existem por lá.
Depois, iria caminhando devagar até a praia, enquanto a noite cai. E me sentaria por lá, na areia, bebendo uma água de coco, ficaria olhando e ouvindo o mar bater na praia, nas pedras, fazendo aquele barulho que só ele sabe. Só eu, sozinho, solto, sem ninguém, nada, sem horário, sem preocupação - que também não existe por lá.
E quem sabe, dormiria ali mesmo, relaxado e tranquilo. Quando acordasse, iria em busca de uma televisão e passaria horas assistindo. Quem sabe, de uma forma diferente...não sei...levaria a TV para o meio da Avenida Presidente Vargas e começaria a assistí-la ali mesmo, completamente nu.
Soou engraçado? É sério. Fico me imaginando dessa forma, sentado no meio da avenida, vendo televisão, sem nada, sem ninguém, sem gente, apenas eu e a cidade, na forma da relação mais pura, sem crise, sem dor, sem problema. Rindo dos meus programas favoritos, e sem jamais lembrar que algum dia sofri, ou que algo não deu certo, ou que alguma coisa não saiu exatamente como eu esperava.
E, se me cansasse disso, sentisse falta das pessoas, do mundo verdadeiro, dos problemas que não tenho...bastaria desejar, e estaria de volta à Cidade Real.
O mágico é justamente saber fazer a viagem.
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