O ônibus fez a curva na Rua Bento Lisboa, no Catete, e mais uma vez, o vi: lá estava ele.
Não parece ser muito velho, nem muito novo; diria que tem uns 30, 40 anos. Está sempre da mesma forma, sem camisa, apenas de bermuda, uma bolsa pochete na cintura.
E está sempre apoiado na grade do portão da vila, o braço esticado, segurando o portão e olhando para a rua. Eu apostaria que ele mora lá, porque a porta do portão (a que dá acesso aos pedestres) está sempre aberta.
Sempre me perguntei o que ele está fazendo ali, sempre parado no mesmo lugar, do mesmo jeito, segurando o portão. Por causa da velocidade do ônibus e pela falta de um ponto em frente, nunca pude analisar melhor a postura, o olhar, o que está fazendo; se espera alguém ou alguma coisa, se está apenas olhando a rua, se está chegando ou saindo.
Quando o ônibus fez a curva dessa vez, o trânsito parou por conta de um engarrafamento. Com o ônibus parado, pude observá-lo melhor: continuava apoiado no portão, o braço estendido apoiado na porta, a bolsa na cintura.
Dessa vez, porém, fez algo de diferente. Ao virar a cabeça, seus olhos encontraram os meus e ele sorriu.
O ônibus acelerou em seguida e partiu rumo ao Leblon. Seria a observação mútua? O que ele está fazendo sempre no mesmo lugar? Ou será que eu é que estou sempre no mesmo ponto?
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