Tive alguns padrinhos no jornalismo. Com dois anos e meio de profissão - sendo dois como estagiário - sei muito bem que são poucos perto de todos os que ainda virão.
E na madrugada de ontem, um desses poucos se foi. Com 67 anos, José Monteiro (o Monteiro) era um cara mau-humorado, mas muito alegre. A contradição existe e é possível. Me lembro de tantas vezes que ri com seus palavrões, seu jeito estourado, suas manias engraçadas. Me lembro das longas conversas no fumódromo, ele falando de seus projetos para o jornal, de seus projetos fora do jornal, da vida que seguia, do site que atualizava, do trabalho que não acabava nunca, dos colunistas "safados e filhos da puta" (sic) que ele tinha que esperar mandarem suas respectivas colunas.
Me lembro de longas conversas no bar, esperando o momento em que ele iria embora e poderia me dar uma carona. A imagem que fica é ele debruçado sobre a janela do fumódromo, cigarro aceso, "vendo as modas lá fora". "Sou muito jovem, doutor", dizia ele (que chamava todo mundo de "doutor"). Mesmo depois de perder uma perna por trombose, não deixara de fumar. "Vou deixar de fumar é o caralho, doutor. Porra, tenho 67 anos, deixando de fumar vou viver até os 71, 72, então foda-se, fumo mesmo."
Um padrinho para mim nas horas mais difíceis dentro do jornal. "Quero ir para a rua, doutor", eu dizia, impaciente. "Calma, você vai." Tantas vezes ele disse isso que acabei largando a editoria dele pra ir pra rua, mesmo. Um dos homens que me fez ver que a vida de jornalista não era só rua. "Existe um outro caminho, doutor. Nunca fui para a rua.."
Sentirei sua falta, amigo. Você foi meu primeiro padrinho e meu primeiro professor na escola prática do jornalismo (a teórica é outra história). Aprendi muito trabalhando e convivendo com você, e não vou esquecê-lo.
Esteja onde estiver, fica o meu abraço. Vai com Deus, DOUTOR!!!!
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