Em minha mente - terrível quando se trata de formular teorias que não terão muita utilidade no dia seguinte - penso agora sobre o nobre ofício de jornalista, sobre as armadilhas e "coisas da profissão". Assim como há muitas que me agradam, há outras que...não gosto. Uma delas é arrumar personagens aleatoriamente. Trata-se daquele trabalho de ir para a rua sem nada, sem um nome, um contato, e saltar em cima de quem passa, se apresentando e fazendo uma pergunta sobre um assunto qualquer, geralmente em locais de grande movimento.
Talvez o fato de ser totalmente imprevisível me cause estranheza. Talvez o fato de nunca saber como o outro vai reagir. Talvez a possibilidade iminente de levar um não, muito mais fácil do que um sim. Será mesmo? Infelizmente, confesso que sinto um prazer enorme quanto "salto" em cima de alguém que depois se revela um ótimo personagem. Penso que é uma arte muito interessante: transformar aquele cidadão comum, para o qual mal olho no dia-a-dia, em um cara cheio de histórias para contar. Será que um fato compensa o outro? E se fosse eu do outro lado, o que diria e como reagiria?
Não sei, ainda sou jovem demais e inexperiente demais. A princípio, diria que compensa, se você tiver força suficiente para "saltar" de maneira "educada" em "cima" de "alguém". Mas hoje quase pularam em cima de mim. Um daqueles sujeitos estranhos, que chega fazendo uma pergunta imbecil e daqui a pouco está pedindo dinheiro. No meio da "catação" de personagens. Inesperado. Me senti um pouco do outro lado, confesso. Seu olhar não me enganou: tive certeza de que ele não queria um trocado, ou uma informação, mas o gravador prateado que eu segurava na mão direita. Tive de sair, parar tudo. Não pude descobrir se a "catação" compensa, e ainda, em sua forma mais difícil: num local aberto, sem identificação, tendo como armas apenas minhas palavras e o gravador prateado. Tampouco poderei voltar ao mesmo lugar para descobrir. Mas tenho que continuar, consegui pouco hoje, fui atrapalhado quando me empolgava. O que não me faz desistir, ou desanimar, afinal, amanhã tem mais. Mas talvez...talvez eu mude de gravador. Pode ser que leve um gravador transparente, ou o guarde no saco plástico antes de cada entrevista. É, fazer o que...ossos deste nem-sempre-tão-nobre ofício.
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