Onde ela está?
Já devo ter olhado a janela duas vezes. Ou teriam sido cinco?
E nada dela chegar.
Faz calor, hoje está um dia bonito, de céu azul e muito sol. Estou suando com todo esse calor, mas não, me limito a enxugar o rosto, caminhar para lá e para cá, e voltar à janela. Olho lá para fora, mas só vejo o dia lindo. Nada...nada...nem sinal dela.
Às vezes a paisagem me distrai, com alguma coisa que chama a atenção. Veja agora...duas crianças brincando. Devem estar indo à praia. Estão com brinquedos de praia, aquele clássico baldinho, com uma pá. Uma delas está de óculos escuros. E vão brincando como se estivessem indo à praia. Com direito ao tradicional adulto sem paciência, que vai andando na frente, volta e meia olha para trás, balança a cabeça e suspira, pensando que talvez as crianças não dêem tanto trabalho assim. Só talvez.
Outras cenas me distraem. Uma velhinha, um senhor que passa lendo o jornal, um carro mais bonito. Às vezes me pego perdido em pensamentos, e fico me perguntando porque espero tanto tempo por ela. Poderia me distrair, fazer outra coisa, dar um tempo. Sei que, mais cedo ou mais tarde, ela volta. Pode ser assim, de surpresa, ou quem sabe dê um aviso. Um sinal. Aí vai ficar mais fácil de saber.
Que ilusão a minha. Realmente devo gostar de me enganar. É claro que ela não dará sinal. Muito menos agora. Se voltar, vai ser assim, rápida, de repente, me pegando de surpresa. Às vezes fico imaginando que ela está logo ali, me olhando na janela e rindo de mim, apenas esperando que eu me distraia. E aí...ela volta. Chega e diz logo a que veio.
E como ela faz falta, sabe? Eu diria que é difícil viver sem ela. Sinto falta daquele ar diferente que ela traz, aquele gosto de saudade, de ficar pensando nos dias cinzas e nos tempos que já se foram. E lembrar de como eu gosto de dias cinzas. Mas sem ela não tem a mesma graça.
Pode ser até que ela não volte tão intensa, tão forte, mas, se chegar, se voltar, se aparecer, já estaria ótimo.
Principalmente porque está um calor danado. Onde está essa droga dessa chuva, que há quase um mês não dá as caras?
Saturday, June 12, 2010
Thursday, June 10, 2010
Lembranças de 98
Eu jamais vou esquecer o dia 12 de julho de 1998.
Aquela era a minha Copa do Mundo. Estava com 12 anos, vi todos os jogos, acompanhei as partidas, fiz tabela, usei camisa, torci como louco. Depois de cada vitória do Brasil, pegava uma bola e ia jogar no quarto, imitando os gols, as jogadas, as pedaladas de Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo, Rivaldo, as defesas do Taffarel e os gols de cabeça do Júnior Baiano.
Eu lembro que, naquele dia, pouco antes de França e Brasil decidirem a Copa do Mundo, choveu horrores. Um temporal mesmo. Disse à minha mãe: "É para lavar a alma do brasileiro". Estava certo, embora até hoje não saiba de onde tirei aquilo.
As primeiras notícias chegaram de tarde. Ronaldo está fora, Ronaldo não joga, Edmundo é o substituto. Em campo, lá estava Ronaldo. Não entendi nada. Mas o que mais queria era torcer, vibrar, comemorar mais um título da Seleção. Quatro anos antes, em 94, vi o Brasil ser campeão...mas, com oito anos, não entendia direito a dimensão daquilo. Gostava de futebol em 94, mas não como gostava em 98.
Empolgado pela incrível semifinal contra a Holanda, esperava o penta do Brasil. O juiz apitou e a bola rolou no Stade de France.
Atônito, via a Seleção perder gols atrás de gols, errar passes. Algo não estava bem. E logo veio o castigo, com os dois gols de Zidane. Olhava a televisão abobado, sem entender. Eu e o Brasil inteiro. Posso jurar que Galvão Bueno mal conseguia narrar o jogo. Ele próprio parecia tenso, preocupado.
No fim, o gol de Petit selou a vitória e o título da França. 3 a 0. Incontestável, o placar falava por si.
Inexplicável. Lembro que fiquei sem reação. Com raiva. Chorei. Escrevi furiosamente o nome da França na tabela da Copa e atirei a tabela longe. A Copa de 98, minha Copa, estava perdida. Atirei longe a camisa da Seleção.
A derrota trouxe as perguntas sobre o que realmente acontecera com Ronaldo. O mistério de sua convulsão, de seu corte, e depois, o fato de ter sido escalado em cima da hora, pouco antes da partida. A hipótese de que o Brasil vendera a Copa para ganhar a de 2002 (como de fato ganhou). O clima estranho entre os jogadores no gramado, como, me disseram depois, acontece em um grupo quando há uma convulsão. O chute de Roberto Carlos na bandeirinha de escanteio, no primeiro gol de Zidane, que mostrava o estado emocional da Seleção naquele dia fatídico. Zagallo irritado e transtornado ao ter de responder porque escalara Ronaldo. E muitos outros detalhes que transformaram aquela derrota no maior mistério da história do futebol brasileiro.
Eu poderia falar aqui sobre minha teoria do que aconteceu naquele dia (sim, eu tenho uma, que acredito ser a que mais se aproxima da verdade). Poderia comentar o episódio, fazer um relato jornalístico, citar fontes e informações, frases, enfim. Mas deixo isso para quem quiser saber. Ou para o livro que um dia vou escrever sobre a Copa de 98.
Mas não quero falar de teorias. O fato é que, com a Copa de 98, eu aprendi a ver o Brasil perder.
Para quem foi campeão em 94, ganhar a Copa seguinte seria a apoteose. O êxtase. O máximo do máximo. E acreditar realmente que a camisa amarela não só é forte, como é imbatível.
E isso, meus amigos, desculpem, não é futebol. Futebol é justamente o contrário. É saber que você ganha hoje e perde amanhã. Assim como ganhei em 94, perdi em 98, ganhei em 2002 e perdi de novo em 2006. Futebol é saber que, às vezes, a bola não entra, o time não está inspirado, ou um fator psicológico põe tudo a perder. Foi assim em 98, foi assim em 2006.
De alguma forma, o título de 2002 e a derrota na Alemanha, de novo para a França, já não foram encaradas com a mesma euforia, nem com a mesma tristeza das duas copas anteriores. Foram simplesmente as vitórias e derrotas que cabiam a cada um, pelos feitos dentro e fora de campo.
Jamais vou engolir o mistério que envolveu Ronaldo, as circunstâncias misteriosas e tudo aquilo que cerca o episódio, e nem a tristeza que senti. Mas uma coisa não posso negar: independente dos motivos, dentro de campo a França jogou muito melhor naquele 12 de julho, e mereceu o título.
E isso, meus amigos, é futebol.
Aquela era a minha Copa do Mundo. Estava com 12 anos, vi todos os jogos, acompanhei as partidas, fiz tabela, usei camisa, torci como louco. Depois de cada vitória do Brasil, pegava uma bola e ia jogar no quarto, imitando os gols, as jogadas, as pedaladas de Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo, Rivaldo, as defesas do Taffarel e os gols de cabeça do Júnior Baiano.
Eu lembro que, naquele dia, pouco antes de França e Brasil decidirem a Copa do Mundo, choveu horrores. Um temporal mesmo. Disse à minha mãe: "É para lavar a alma do brasileiro". Estava certo, embora até hoje não saiba de onde tirei aquilo.
As primeiras notícias chegaram de tarde. Ronaldo está fora, Ronaldo não joga, Edmundo é o substituto. Em campo, lá estava Ronaldo. Não entendi nada. Mas o que mais queria era torcer, vibrar, comemorar mais um título da Seleção. Quatro anos antes, em 94, vi o Brasil ser campeão...mas, com oito anos, não entendia direito a dimensão daquilo. Gostava de futebol em 94, mas não como gostava em 98.
Empolgado pela incrível semifinal contra a Holanda, esperava o penta do Brasil. O juiz apitou e a bola rolou no Stade de France.
Atônito, via a Seleção perder gols atrás de gols, errar passes. Algo não estava bem. E logo veio o castigo, com os dois gols de Zidane. Olhava a televisão abobado, sem entender. Eu e o Brasil inteiro. Posso jurar que Galvão Bueno mal conseguia narrar o jogo. Ele próprio parecia tenso, preocupado.
No fim, o gol de Petit selou a vitória e o título da França. 3 a 0. Incontestável, o placar falava por si.
Inexplicável. Lembro que fiquei sem reação. Com raiva. Chorei. Escrevi furiosamente o nome da França na tabela da Copa e atirei a tabela longe. A Copa de 98, minha Copa, estava perdida. Atirei longe a camisa da Seleção.
A derrota trouxe as perguntas sobre o que realmente acontecera com Ronaldo. O mistério de sua convulsão, de seu corte, e depois, o fato de ter sido escalado em cima da hora, pouco antes da partida. A hipótese de que o Brasil vendera a Copa para ganhar a de 2002 (como de fato ganhou). O clima estranho entre os jogadores no gramado, como, me disseram depois, acontece em um grupo quando há uma convulsão. O chute de Roberto Carlos na bandeirinha de escanteio, no primeiro gol de Zidane, que mostrava o estado emocional da Seleção naquele dia fatídico. Zagallo irritado e transtornado ao ter de responder porque escalara Ronaldo. E muitos outros detalhes que transformaram aquela derrota no maior mistério da história do futebol brasileiro.
Eu poderia falar aqui sobre minha teoria do que aconteceu naquele dia (sim, eu tenho uma, que acredito ser a que mais se aproxima da verdade). Poderia comentar o episódio, fazer um relato jornalístico, citar fontes e informações, frases, enfim. Mas deixo isso para quem quiser saber. Ou para o livro que um dia vou escrever sobre a Copa de 98.
Mas não quero falar de teorias. O fato é que, com a Copa de 98, eu aprendi a ver o Brasil perder.
Para quem foi campeão em 94, ganhar a Copa seguinte seria a apoteose. O êxtase. O máximo do máximo. E acreditar realmente que a camisa amarela não só é forte, como é imbatível.
E isso, meus amigos, desculpem, não é futebol. Futebol é justamente o contrário. É saber que você ganha hoje e perde amanhã. Assim como ganhei em 94, perdi em 98, ganhei em 2002 e perdi de novo em 2006. Futebol é saber que, às vezes, a bola não entra, o time não está inspirado, ou um fator psicológico põe tudo a perder. Foi assim em 98, foi assim em 2006.
De alguma forma, o título de 2002 e a derrota na Alemanha, de novo para a França, já não foram encaradas com a mesma euforia, nem com a mesma tristeza das duas copas anteriores. Foram simplesmente as vitórias e derrotas que cabiam a cada um, pelos feitos dentro e fora de campo.
Jamais vou engolir o mistério que envolveu Ronaldo, as circunstâncias misteriosas e tudo aquilo que cerca o episódio, e nem a tristeza que senti. Mas uma coisa não posso negar: independente dos motivos, dentro de campo a França jogou muito melhor naquele 12 de julho, e mereceu o título.
E isso, meus amigos, é futebol.
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