Saturday, December 24, 2005

Na Noite de Natal

Bate o sino / pequenino / sino de Belém / Já nasceu / Deus menino / para o nosso bem / Paz na terra / pede o sino / alegre a cantar / Abençoe / Deus menino / este nosso lar...

Hoje é dia 24 de Dezembro. Há quem afirme que é véspera, mas para mim, essa é a noite de Natal.
É a noite de saborear bacalhau espiritual, conversar sobre o ano que passou, ouvir músicas natalinas, e aguardar ansiosamente a hora do amigo oculto. Presentes, presentes e mais presentes. Sou católico. Mais do que nunca, Jesus nasceu nessa noite. Deus veio à Terra e fez as pazes com os homens. Que ninguém esqueça que se comemora por esse motivo...
Hoje vou falar um pouco do saudosismo. Saudade. Cantar “bate o sino” me dá uma saudade danada, me faz sentir falta de quando era criança.
Natal tinha um significado muito grande para mim. Era sempre hora de esperar o Papai Noel, que vinha trazendo AQUELE presente, geralmente caro, desejado o ano todo e que só ele poderia me dar. Coisas do bom velhinho.
Me lembro que, na noite do dia 23, dormia cantando “bate o sino”, e acordava na manhã seguinte ainda com a melodia na cabeça. E o tempo no dia 24 passa muito rápido. Algumas horas, e lá estávamos nós no carro, rumo à mais uma noite de Natal.
Era sempre uma expectativa grande, esperar pelo papai Noel e pela hora do amigo oculto. Os presentes eram a certeza de um ano muito, muito bom.
Engraçado. Nunca consegui encontrar Papai Noel pra agradecer por todos aqueles presentes...
Agora preciso ir, rumo a mais uma das inesquecíveis noites de Natal. Que a paz de São Nicolau esteja sempre com você, e te ilumine rumo a um ano novo e cheio de realizações.

Friday, December 23, 2005

O último exemplar

O tempo no Rio de Janeiro é uma coisa de louco, mesmo. Já teve época que se podia dizer: cidade de sol e mar o ano inteiro.
Que nada. Em 2005, as águas rolaram, choveu muito e houve dias muito frios. O tempo está completamente maluco, você não sabe se vai chover, ventar, ou fazer um calor de rachar. Um dia é de sol, outro nublado, outro de chuva. A cidade não era assim, não tinha essa inconstância toda.
Naquele dia o companheiro sol resolveu aparecer. Infelizmente, não posso trabalhar de bermuda, então optei pela velha calça jeans. Um calor de cinqüenta graus e eu de calça. É a vida, não é mesmo? É a vida no Rio, não é mesmo?
Passei pela banca de jornais e vi que ainda existia um último exemplar daquele jornal que não tem em qualquer banca: Folha de S. Paulo (é assim que escreve, não é?). Gosto dele, e fazia tempo que não lia. Então aproveitei, e comprei o último exemplar.
Seguindo meu caminho, cheguei ao ponto do ônibus. Tenho sorte, pego no ponto final. É sempre menos desagradável.
Subi, sentei e abri o jornal. Hum. Bom editorial, esse aqui. Os outros dois, pra variar, tem cara de que foram escritos por falta de assunto. Legal o painel de hoje, mais informações quentes sobre Brasília. Para variar, mais descobertas sobre o escândalo do mensalão.
Quando me animava para ler o resto, subiu um grupo de alunos e se sentou nos últimos bancos do ônibus. E o que turma de aluno faz em ônibus?
Música, my boy. Música. Começaram a cantar. Primeiro Latino, com o grande sucesso Festa no Apê. Da Bartolomeu Mitre, ali no Leblon, até a Lagoa, só deu Latino.
Depois emendaram funk, com direito até a Tati Quebra-Barraco. E em seguida, Mamonas Assassinas.
Enquanto isso, sigo lendo o último exemplar. Hum...o Lula disse ao Jacques Wagner que...

COMER TATU É BOOOOOM...QUE PENA QUE DÁ DOOOR NAS COSTA...

...não pretende disputar a reeleição, mas que quando for a hora, vai avisar que...

É POR ISSO QUE EU PREFIRO AS CABRITAAAAAA...AS CABRITAAAA...

A essa altura, já estou trincando os dentes. Mas vamos continuar. José Serra falando sobre Geraldo Alckmin. Serra disse que Alckimin...

TEM SEIOS...QUE ALIMENTAM OS SEUS DESCENDENTES...

Já estou profundamente irritado. O ônibus está atravessando o Jardim Botânico e não consigo ler o jornal, é impossível me concentrar. Mas juro que vou continuar tentando...

NO MUNDO ANIMAL...EXESTE MUITA PUTHARIA...

É, na política também, e no ônibus também. Será que grupos de alunos não acham nada mais legal pra fazer em ônibus, ao invés de ficar cantando?! Sigo tentando, firme e forte, ler a Folha, enquanto o ônibus manobra para o Humaitá.

E agora, o que vamos cantar?
Que tal aquela de pagode?
Boa!

NAQUELE DOMINGO LÁ NA PRAIA...E VOCÊ DE MINISSAIA...DANDO BOLA PARA UM ALEMÃO...ELE CARRO CONVERSÍVEL, E EU MEXENDO NOS FUSÍVEL...

Estou quase desistindo. Não. Essa música não...

SUBIU A SERRA, ME DEIXOU NO BOQUEIRÃO, ARROMBOU MEU CORAÇÃO, DEPOIS DESAPARECEU...

Não tinham algo menos...incômodo...para cantar, não?
Botafogo chega, e eles param de cantar. Não só param, como descem do ônibus. Ah, agora sim, meu jornalzinho. Finalmente. Vamos ver...Serra e Alckm...

BOA TARDE SENHORES. DESCULPE INTERROMPER O SILÊNCIO E A PAZ DA SUA VIAGE...

Só faltava essa, mesmo. Agora estamos na Praia de Botafogo, e me vem esse sujeito. Será que não vou conseguir ler o jornal?!

O CAMELÔ TRAZ AQUI TRÊS CANETA A UM REAL. AÍ FORA NO SHOPPING BOTAFOGO É DOIS REAL CADA CANETA. O CAMELÔ TÁ FAZENDO TRÊS CANETA, TRÊS CANETA, POR APENAS UMMMMMMMMMMM REAL.

Hum. Será que eu mando ele enfiar as canetas? Não, deixa pra lá. Daqui a pouco ele desce e eu consigo.

MUITO OBRIGADO E TENHAM UMA BOA VIAGE.

Ele desce, depois de agradecer ao motorista (valeu piloto!) Ah. De novo a paz, o silêncio. Então Dom Geraldo Majella criticou o Lu...

POF!

Alguma coisa bateu forte no meu braço. Um moleque, deve ter uns cinco anos. “Desculpa, tio!”
Sabem, não é pelo esbarrão. Mas é que interrompeu de novo a leitura do jornal. Mas agora ficou tudo bem, vou ler...
Olho para um lado, para outro, vejo se não tem alguém fazendo barulho. Tudo certo. Então abro a página e me sento confortavelmente. Hum...
O ônibus faz um movimento brusco, arrancando. E lá se vai o jornal para a frente, e minha cabeça também, e as letras se embaralham todas.
Guardo o jornal na mochila: o destino se aproxima. É, não deu pra ler jornal no ônibus, hoje.
Vai ver é porque era o último exemplar...