Lá estava ele, no ponto, esperando o ônibus. O tempo, que nada perdoa, passava, segundo a segundo, incessante. A noite já havia caído; ao invés das estrelas e da lua, o céu estava coberto por uma nuvem cinza. Toda a beleza da noite, já ofuscada pelas luzes da cidade, estava ainda mais encoberta.
Estava triste. Nada parecia dar certo. Tudo o que falhava, tentava. Tinha 19 anos. Não conseguia namorar, não conseguia passar no vestibular depois de dois anos tentando, não arrumava emprego, não tinha mais amigos. Todos eles mudaram de vida, de rumo, seguiram por outros caminhos. Alguns no vestibular, outros no trabalho, uns poucos no exterior. Foram deixando de se falar e de se ver naturalmente. Ele próprio deixou de ligar, deixou de procurar. Tinham outra vida, não precisavam dele.
Quem precisava dele, ele pensava. Ninguém. O mundo estava bem sem ele, as coisas continuavam a acontecer sem que ele interferisse. Merda, merda, mil vezes merda, o mundo continuava andando sem ele. Tentava de tudo, mas não conseguia nada. No fim das contas, pensava ele, fora bom: a verdade viera, finalmente, à tona: o mundo vivia bem sem ele. Tudo o que fizera não interferira na vida dos outros, apenas na sua; nada que fizesse dali por diante, fosse o que fosse, o tornaria um ser do mundo. Ele não era importante para o mundo, este continuaria a girar sem ele. Poderia desaparecer que não faria diferença...
Estava pensando nisso, quando avista, lá longe, o 435. Hora de ir pra casa. O que vai fazer depois? Não importa. O mundo continuará andando e nada vai mudar, independente do que faça.
O ônibus se aproxima, em alta velocidade. Uma velhinha se aproxima dele...
— Meu jovem...— diz ela, com a voz fraca. — Faz sinal pro ônibus, faz, pra eu poder subir. To com hora no médico, e eles não param de jeito nenhum. Se você fizer sinal, quem sabe eu não consigo...
Os olhos dele brilharam por um instante, ele deu as costas para a velhinha, e enquanto o ônibus se aproximava, ele estendeu o braço.
E saiu correndo, atravessando a rua à toda, correndo, de maneira que nem ele mesmo esperava. Do outro lado, ficou olhando a velhinha e o ônibus; ela fez sinal, o ônibus passou sem parar. Ela começou a esbravejar com ele, reclamando; dando as costas e baixando a cabeça, ele continuou seu caminho.
Deu a volta por cima: passou no vestibular, fez amigos e começou vida nova.